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Oito (está bem, nove) poemas de António Osório

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Por Pedro Belo Clara António Osório. Foto: Arquivo do jornal  Público . (Reprodução).     IN MEMORIAM   Ao lado do corpo de meu Pai chorava esta pobre carne. E de repente chegou a tua e minha felicidade:   A teu lado estou sorrindo a chamar-te, espero que regresses a casa, ansiosamente corro para a porta.   E ao colo sinto o teu calor, contigo passeio pela mão, pergunto, pergunto e tu respondes ocultando o fim da vida.   Ver-te dormir, alegria igual à tua quando de noite tranquilo eu respirava.   Tenho três anos e tu, Pai, és jovem, grande, senhor do mundo, deus docemente temido desde o início.   Assim te amo agora sem lágrimas. Que deste modo teus netos um dia se recordem de mim, na tua, minha e deles pura ignorância da morte.     A MEUS FILHOS   A meus filhos desejo a curva do horizonte.   E todavia deles tudo em mim desejo: o felino gosto de ver, o brilho chuvoso da pele, as mãos que desvendam e amam.   Marga, m...

A felicidade da luz, de António Osório

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Por  Pedro Belo Clara A recomendação literária para o presente mês irá partilhar com todos vós, caros leitores, o novo trabalho de António Osório, lançado seis anos depois da primeira edição de Concerto Interior , também este um título merecedor de uma atenta abordagem de nossa parte, exposta há já algum tempo atrás neste mesmo espaço (ver o final deste texto). Ao invés do que é expressado nesse último livro, nesta obra o autor retorna ao estilo que o celebrizou e através do qual com maior frequência se expressou: a poesia. É um livro breve (vinte e um poemas), contando com um prefácio de acuradas visões assinado por Pedro Mexia e, no seu término, com a reprodução integral da entrevista que em 2004 Osório concedeu à jornalista Maria Augusta Silva, posteriormente incluída numa obra da entrevistadora. Para que se não pense que a inclusão só se deveu ao curto número de páginas que o livro apresentaria caso tal presença estivesse omissa, esclarece o próprio autor que o m...

O concerto interior – evocações de um poeta, de António Osório (Parte II)

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Por Pedro Belo Clara Muito naturalmente, a infância extrapola-se e a adolescência, primeiro, e a idade adulta, depois, aguardam a sua justa vez. Tais capítulos existenciais seriam para o nosso autor etapas que não se veriam desfloradas das maiores virtudes de carácter aprendidas junto de seus pais, dos quais a compaixão e a prestabilidade diante de terceiros se sobressaem como exemplo. Os tempos de liceu também merecem destaque, pois revelaram-se o berço do encontro com os (ainda) jovens Cristovam Pavia (celebrado em poema por Ruy Belo) e Pedro Tamen, dois nomes de vulto da poesia contemporânea portuguesa. Sobre a época, em prosa escreveu (“Vozes Íntimas”, 2008): «Na pequena roda de amigos, eu seria talvez um dos mais próximos (…). Estes encontros, que buscavam o prazer, o encanto da amizade e a beleza, (…) com a presença de Cristovam, discretamente irradiante, estes encontros constituem uma das mais gratas recordações da minha adolescência». De igual modo, s...

O concerto interior – evocações de um poeta, de António Osório (Parte I)

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Por Pedro Belo Clara O próprio autor esclarece, em antevisão: «O título devia ser “Breve Autobiografia”». E estamos, de facto, perante uma obra bastante próxima de tal género. No entanto, devido à compressão dos conteúdos, muitas vezes abordados sob o condicionamento das súmulas, questionamos se “autobiografia”, ainda que se diga “breve”, seria um justo epíteto. O autor, sensato, decidiu em bom momento colocar a hipótese de parte. Devido à corrente poética que atravessa o livro, poderíamos também pensar em algo como “antologia anotada”. Mas a prosa prevalece diante da poesia, e logo a sugestão perde sentido – «(...) a poesia procurou sempre tornar mais clara a minha vida, e a prosa revela a verdade dos versos e das pessoas invocadas». Marcando estas, as «pessoas invocadas», presença em dezenas de trabalhos anteriores, compreende-se a resenha que constitui cada capítulo deste livro. Pois, como admite Osório, as ditas «disseram já muito do que tinham a dizer». Não ...