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O olhar diferente

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Por Nadia Villafuerte Herta Müller. Foto: Jack Mikrut   Um menino a cavalo. O cavalo no meio de um rio. Um cavalo que joga o menino no chão e o pisoteia até a morte. O pai do menino que pula na água para resgatar seu filho. Outras crianças, testemunhas, que veem como o pai envelhece num instante. Crianças que viram tudo e não conseguem descrever como aconteceu a cena, completamente transparente e ao mesmo tempo uma enorme miragem, quando a vida de um homem chega ao fim de forma semelhante, mas também diferente à morte de seu filho. E porque onde a presença do cavalo lembra a ausência da criança morta, o pai da criança morta prossegue: pega um machado e desfere golpes até o crânio do cavalo se partir. Um machado insano sobrevivendo ao homem e ao cavalo, que não estão mais curiosos sobre as almas um do outro.   Nenhuma criatura é inocente, diz a si mesma Herta Müller, nem o machado deste bucólico postal, nem mesmo esta paisagem, porque não sabemos se a paisagem é testemunha ou r...

O olhar diferente de Herta Müller

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Por Claudia Kalász Estes dois livros são aqueles que consagraram Herta Müller como uma das mais poderosas escritoras da jovem literatura romena em língua alemã. Desde que a autora, em 1987, se refugiou na Alemanha como dissidente do regime de Nicolau Ceaucescu, o mapa político da Europa mudou radicalmente. Os dois livros são um privilégio para os leitores porque os levam a conhecer alguns relatos inscritos na atmosfera anódina de uma ditadura que, ainda bem, já não existe; são textos que podem refrescar nossa memória, mas pode também manifestar – desde longe – as técnicas de intensificação das quais dispõem esta autora para converter experiências pessoais em literatura, isto é, em experiências que nunca se tornam ultrapassadas. Toda a maestria de sua linguagem densa e precisa se encontra já nessas primeiras criações de uma obra coerente que ao longo dos anos foi ampliando-se, a um ritmo pausado mas constante, com romances, ensaios e poemas, premiados com múltiplos prêmios. ...

O rei se inclina e mata, de Herta Müller

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Por Pedro Fernandes Quando Herta Müller ganhou o Prêmio Nobel em 2009 até seu nome me era desconhecido, embora já circulasse no Brasil algumas traduções de livros seus. Resisti certo tempo em buscar a leitura de sua obra, por razões diversas, mas cito ao menos duas delas: o interesse pelas literaturas de expressão portuguesa, cuja formação acadêmica me exige, e o tempo escasso para permitir a entrada de outros nomes em meu cânone particular. Sobre esta última, basta ter uma dimensão do que é a literatura dos cinco países falantes do português para se dar conta que, ainda que eu tivesse todo o tempo do mundo, nunca irei contorná-lo. Mas, o encontro com obras da escritora romena nas várias idas às livrarias após sua premiação e a leitura de uma crítica qualquer, esparsa e vulgar, dessas que sai com frequência nos ditos cadernos de cultura que circulam no Brasil sempre me mantiveram um alerta de que há algo na obra de Herta que quase me obriga a ler alguma coisa dela. Já ...

Herta Müller

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A escritora alemã Herta Müller, de origem romena, foi anunciada pela Academia Sueca como a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2009, numa homenagem a sua prosa impregnada de poesia; ela foi uma das principais vozes contra a ditadura de Nicolae Ceausescu, que acabou há exatamente 20 anos. Em um comunicado, a Academia afirma que Müller foi premiada porque com a "densidade da poesia e a franqueza da prosa retrata os cenários dos abandonados". Esta é uma daquelas vezes que a maior honraria que pode receber um escritor é dada pelo reconhecimento, é claro, mas também pela apresentação do nome; o observação leva em conta que, apesar de ter obra em circulação no Brasil, por exemplo, ainda é, com toda certeza, uma autora por ser conhecida. Nascida em 17 de agosto de 1953 na cidade de língua alemã de Nitzkydorf, perto de Timisoara, na Romênia, Müller emigrou em 1987 para a Alemanha Ocidental ao lado do marido, o escritor Richard Wagner, porque na Romênia não ti...