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O concerto interior – evocações de um poeta, de António Osório (Parte II)

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Por Pedro Belo Clara Muito naturalmente, a infância extrapola-se e a adolescência, primeiro, e a idade adulta, depois, aguardam a sua justa vez. Tais capítulos existenciais seriam para o nosso autor etapas que não se veriam desfloradas das maiores virtudes de carácter aprendidas junto de seus pais, dos quais a compaixão e a prestabilidade diante de terceiros se sobressaem como exemplo. Os tempos de liceu também merecem destaque, pois revelaram-se o berço do encontro com os (ainda) jovens Cristovam Pavia (celebrado em poema por Ruy Belo) e Pedro Tamen, dois nomes de vulto da poesia contemporânea portuguesa. Sobre a época, em prosa escreveu (“Vozes Íntimas”, 2008): «Na pequena roda de amigos, eu seria talvez um dos mais próximos (…). Estes encontros, que buscavam o prazer, o encanto da amizade e a beleza, (…) com a presença de Cristovam, discretamente irradiante, estes encontros constituem uma das mais gratas recordações da minha adolescência». De igual modo, s...

Quando falei com Quintana

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Por André Bolivar Nesse tempo remoto, as calçadas do centro de Porto Alegre ainda sentiam as leves pisadas de Mario Quintana. Talvez fosse outubro, certamente de 1980, era eu muito jovem e daqueles meninos que quando jogavam bola na Redenção, esperavam a hora de deitar e ler e, que quando liam, esqueciam que existia futebol. Naquela tarde, passeava pela feira do livro com um exemplar de Esconderijos do Tempo, capa meio amarelada, poemas breves, um tesouro em minhas mãos, pois era o primeiro livro do Quintana que eu comprava; já tinha doze anos e havia lido no Correio do Povo (jornal que circulava na época) uma entrevista em que o poeta se declarava fã de Arthur Rimbaud. Menino curioso, sócio da Biblioteca Pública, lá na minha ficha de leitor, deixaram de escrever José Mauro de Vasconcelos e passaram a preenchê-la com o nome de Rimbaud e tudo o que se relaciona a ele. Ali, lembro-me de ficar espantado, pois pela primeira vez eu via impressa a palavra merda. O po...

Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Mário Quintana: reencontros

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Já tem mais de um mês que dei com algumas novidades muito boas que as editoras estão trazendo para a literatura nacional. A surpresa de entrar numa livraria e encontrar livros que, já tem algum tempo que só resistia nas estantes dos sebos e alguns nem mesmo aí encontrávamos se confunde com a preocupação que tenho enquanto professor de literatura que assiste ao desencantamento ou distanciamento do público para com a leitura de obras de qualidade. Há, evidente, muitos fatores negativos que estão entre o leitor e o livro, mas acho que o mais grave deles é quando falta o segundo elemento, afinal, não há leitor se não há livro. E tem algum tempo que a ideia de lucro tem falado mais alto e as editoras têm se preocupado e tanto com a fabricação de Best-Sellers, relegando o trabalho árduo da boa literatura às editoras de fundo de quintal, sem expressividade quantitativa frente à ordem tresloucada do capital. Da surpresa que tive nas livrarias, esta se refere ao trabalho de reedição de Mario...

A alma lírica, a alma passarinha de Mario Quintana

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O poeta apresenta-se Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade. Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu. Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho qu...