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Grazia Deledda

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Apesar de pouco conhecida no Brasil, Grazia Deledda escreveu algumas verdadeiras joias do romance – são obras em pleno vigor da forma, erguidas com todas as faculdades de grande romancista. Seu nome não é só uma marca indelével na literatura italiana, mas para a literatura universal. Nasceu no ano de 1871 em Nuoro, interior de uma Sardenha brava, violenta e luminosa. Seu pai era um agricultor rico e um louvável poeta no dialeto local. Na sua biblioteca, Grazia Deledda aprendeu logo a amar os livros, a sentir a nobre ação de descobrir as pessoas, a luz, os costumes trágicos que a rodeavam ou que só conhecia através de relatos e lendas populares. Toda sua obra é uma revelação constante, sempre atrativa de sua terra natal, a esquecida, quase ignorada melhor dizendo, antes dela descobri-la com o fervor realista com o qual pintou sua literatura. A Itália não via na Sardenha mais que uma ilha maldita, ninho e refúgio de seres brutos. Fazendo por seu país o que Verga e Capuana fize...

A primeira vez que o Ulisses, de James Joyce, ganhou as telas

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Paul Cadmus. Jerry , 1931. Óleo sobre tela. Museu de Arte de Toledo / reprodução.   Hoje é comum encontrar registros das artes plásticas que possam incluir o valioso romance de James Joyce, em edições das mais variadas. Mas agora o ano era 1931. Ulisses , publicado pela Shakespeare & Co. nove anos antes, em Paris, continuava censurada em vários países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido.   Nessa década imediatamente a prodigiosa anterior, Paul Cadmus e Jared French já se conheciam intimamente. Os amantes fizeram um périplo que resultou na concepção e feitura da tela Jerry , finalizada quando Cadmus chega a Europa em 1931. Esse trabalho é significativo no quadro criativo do artista estadunidense porque concentra a técnica e o estilo que o fará reconhecido. Ele próprio considera a pintura como seu primeiro trabalho da maturidade.   O que chama atenção, além do moço French no fulgor da sua beleza e a maneira como olha para fora do enquadramento da arte, é o reg...

Sobre a educação

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Por Pedro Fernandes As questões que preenchem os espaços discursivos acerca da educação no Brasil são tantas que chegamos mesmo admitir ser impossível contornar o quadro do decadentismo que se assiste de certos anos para cá. Uma, de todas as discussões, no entanto, se destaca: não sei se por deficiência nos próprios cursos de licenciatura, ou “falhas de percurso” obtidas ao correr dos quatro anos da faculdade, levanta-se no entorno do espaço escolar um movimento em prol de certa “facilitação” de fórmulas e/ou teorias sob o prisma de uma educação construtivista. Isso levando em consideração que o cenário pedagógico no Brasil vê-se “influenciado” pelas teorias de Piaget e Vigotski. O construtivismo, base teórica dos estudos desses dois teóricos, ao chegar ao Brasil parece carrear todo pensamento das instâncias superiores, formuladoras de leis e paradigmas para o docente, a uma aplicabilidade mais que urgente delas no espaço escolar. No entanto, a teoria não parece...

Voltar a Dino Buzzati

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Por Luis Mateo Díez   Jorge Luis Borges, amante confesso e fascinado daquela que é unanimemente considerada a obra-prima de Dino Buzzati: O deserto dos tártaros , dizia que podemos conhecer os clássicos mas é mais difícil fazê-lo com os contemporâneos e, no entanto, há nomes que as gerações futuras não se resignarão a esquecer. Um deles é provavelmente, afirmava o escritor argentino, o de Dino Buzzati, cuja vasta obra, não raro alegórica, exala angústia e magia, a influência de Poe e do romance gótico como foi declarada por ele; outros falaram de Kafka, mas por que não aceitar, sem desmerecimento algum de Buzzati, como ilustres mestres?   O deserto dos tártaros é, por várias razões, uma obra singular, além de uma obra-prima e o limite do que se supõe o todo da obra do autor se relaciona com essa inquestionável mas também com a herança de todos os demais. Este não é um daqueles casos em que o romance sozinho fulgura à distância, quase como se o próprio autor tivesse saído do c...

Um dedo de prosa sobre a pontuação insólita em José Saramago

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Por Pedro Fernandes José Saramago. Foto: Orlando Brito (detalhe/reprodução) Bom, já outra postei neste blog um texto sobre a polêmica que ainda ronda a obra  O Evangelho segundo Jesus Cristo , de José Saramago. Ao pesquisar na web  mais sobre esse escritor a quem me dedico e rabisco as minhas primeiras reflexões em torno da sua obra, encontrei dois artigos assim intitulados: o primeiro, "A insólita pontuação literária de José Saramago" e o segundo, " As intermitências da morte ou o novo romance de José Saramago" de onde destaco o item "A importância da ortografia na escrita do romance". Ambos os textos são do crítico João Ferreira. Utilizando do livre recurso do CTRL+C-CTRL+V, sempre respeitando e dando o devido e merecido crédito aos escritos, é bem verdade, arrastei-o para minha pasta onde acomodo os artigos que na rede pesco sobre o escritor, pasta esta genuinamente denominada de material para monografia, visto que, pretendo usar a obra do esc...

Gustave Flaubert por Guy de Maupassant

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  Digo com muita freqüência sobre o prazer de ser um rato de biblioteca . É na biblioteca que sempre fazemos as descobertas que em nenhuma vitrine ou livraria alcançaremos fazer. Algumas, talvez. Foi numa biblioteca que descobri a obra de José Saramago, embora, nesse caso, pudesse ter sido também numa livraria. Mas, para outras raridades, como a que transcrevo logo a seguir, não.   O livro Gustave Flaubert , com textos de Guy de Maupassant sobre o autor de obras-primas como Madame Bovary e Bouvard e Pécuchet traduzidos por Betty Joyce e publicado pela editora Pontes é um bom exemplo. Os dois escritores estabeleceram um laço de amizade por oito anos que foi, além da convivência, um período formativo para o autor de “Bola de sebo”.   O texto copiado a seguir é o primeiro que Maupassant dedicou a Flaubert. É uma espécie de íntimo perfil publicado inicialmente no La République des Lettres , no dia 28 de outubro de 1876, assinado com o pseudônimo de Guy de Valmont. (Pedro F...