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O Mensageiro do Diabo, de Charles Laughton

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Robert Mitchum se encaixa com perfeição no papel de um psicopata que assombra criancinhas nesta grande fábula sombria Quando fez O Mensageiro do Diabo , o currículo de Charles Laugton tinha apenas uma co-direção ( O Homem da Torre Eiffel , de 1951). Era na atuação que este inglês fizera seu renome, até então com mais de 50 papéis – alguns deles, desempenhados soberbos sob a direção de gênios como Alfred Hitchock e Jean Renoir. Tal experiência nos sets de filmagem parece ter se transportado para este longa-metragem, peça única, inimitável e, ao mesmo tempo, herdeira de outros estilos cinematográficos. O filme possui imagens em preto-e-branco bem contrastado, semelhante às fotografias do expressionismo alemão e do noir norte-americano. Se a estética é influência dos austríacos Fritz Lang e Otto Preminger (este, quando já filmava nos Estados Unidos obras como Alma em pânico, de 1952), o tom da história é o do Hitchock, com engendrado suspense mesclado com humor. Mas a violência é ...

O homem nu, Fernando Sabino

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Talvez a maneira mais fácil de conhecer um pouco da obra de Fernando Sabino seja começando por assistir um filme dirigido por Hugo Carvana e baseado numa crônica de mesmo do escritor –  O homem nu . O filme tem o ator Claudio Marzo no papel principal. Deixou uma obra extensa; sendo talvez um dos mais prolíficos escritores da literatura brasileira. Nascido em 1923 em Belo Horizonte, era nervoso, vivo, inteligente, e, de tanto escutar a conversa dos adultos atrás da porta, achou que devia ser mesmo diferente dos outros. Pode-se dizer que foi um sujeito precoce ainda que a palavra, quando ouvida pela primeira vez pelo ainda garoto, tenha lhe soado quase que como uma ofensa. Aos sete decidiu que já podia tomar banho sem ajuda da ama Floripes; aprendeu a ler sozinho; apaixonou-se muito cedo (pela professora); foi campeão de natação; teve seu primeiro conto publicado quando tinha só 13 anos. Mas a primeira namorada, Letícia, foi quem recebeu a confissão do menino – “Quando e...

Marina Colasanti

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Marina Colasanti nasceu em 1937, em Asmara, na Eritreia. Viveu parte da primeira infância ainda na África, passando por países como a Líbia, e depois a família se mudou para a Europa, onde viveu na Itália. Chegou ao Brasil em 1948, quando a situação não era nada fácil num Velho Continente solapado pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Instalada no Rio de Janeiro, o despertar de Marina Colasanti para as artes se inicia com as atividades plásticas, um impulso de alguma maneira trazido do berço: o avô fora professor e crítico de arte, o pai e uma irmã, atores. E ela foi para a Escola Nacional de Belas Artes, onde se formou em Artes Plásticas, profissão que ajudaria adiante na feitura das ilustrações da sua própria obra.  Das artes plásticas, Marina Colasanti passou ao jornalismo. Atuou por mais de três décadas em várias frentes nesta área: foi redatora, repórter, editora, colunista e cronista em meios como  Jornal do Brasil ,  Revista Nova , Senhor , Cláudia , ...

Rubem Braga

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Rubem Braga, Paris (1973). Foto: Alécio de Andrade / IMS Considerada gênero menor na literatura, porque nesse território, que desde sempre se seguiu o modelo clássico que considera a épica, o drama e a lírica como gêneros maiores, no Brasil, terá sido um dos poucos países em que a crônica se tornou um dos modelos textuais mais profícuos na cena literária. Também um dos mais praticados e lidos. Datada ainda do período fundador da nossa literatura – a própria carta de Pero Vaz de Caminha dando contas do território recém-descoberto à Coroa Portuguesa é um dos marcos do gênero – a crônica tem tal aceitação por aqui por duas razões: a primeira, pode está atrelada à polêmica publicada recentemente na Folha de São Paulo das razoes pelas quais no Brasil se lê mais ‘não-ficção’, biografias e livros de autoajuda, por exemplo. Uma das razoes apresentadas na computação dos dados que apontam determinados livros ocuparem um ranking cuja boa literatura passa longe é de que os romanc...

A vida e a poesia de Manoel de Barros

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Falar sobre Manoel de Barros é falar da palavra enquanto instância infinita de sentidos. Sua poesia se constrói num denso território semântico mas preenchido de nadas. É o poeta da simplicidade, dos simples, de quem vê o cotidiano com olhos aguçados de poesia. Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em dezembro de 1916, o ofício de poeta confunde-se com o de advogado nunca exercido e o de fazendeiro, tarefa para a qual mais adequou-se pela possibilidade de melhor aproximar-se da construção de um território fértil para sua obra. Pode-se dizer que o poeta é filho da terra. Tinha somente um ano de idade quando o pai decidiu montar a fazenda no Pantanal mato-grossense e, cresceu brincando no terreiro da frente de casa, pés descalços, entre os currais e as coisas simples, elementos juntados, mais tarde, na composição de tons com que pinta os versos.  Aos oito anos de idade foi para o colégio interno de Campo Grande e depois para o Rio de Janeiro. O próprio poe...

Luiz Rufatto

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Luiz Ruffato é mineiro; nasceu em Cataguases, em 1961. Graduou-se em Comunicação pela Universidade de Juiz de Fora, e durante esse período começou a colaborar com diversos jornais. Mudou-se para São Paulo na década de 1990 e foi trabalhar no Jornal da Tarde , carreira que abandonaria em 2003 para se dedicar integralmente à atividade de escritor. Seu primeiro título, entretanto, não vem dessa época do jornal, nem de quando decide abandonar as atividades na imprensa. Histórias de remorsos e rancores  é de 1998 e trata-se de uma coletânea de contos. São sete textos que giram em torno de um mesmo grupo de personagens habitantes do beco Zé Pinto, situado na cidade onde nasceu. Já aqui, Ruffato apresenta qual seria seu interesse como escritor: apresentar uma realidade das margens. As figuras desse livro de contos são subempregados, ex-prostitutas. Em 2000, publicou mais um livro de contos que recebeu menção do Prêmio Casa de Las Américas no ano seguinte. Em Os sobreviventes , Ruffa...