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José Saramago escreve sobre Lygia Fagundes Telles

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No último mês, o Instituto Moreira Salles deu a conhecer outra edição de sua fabulosa publicação que reúne, num material de altíssima qualidade visual, gráfica e conteudística, dossiês sobre alguns dos nomes mais importantes da nossa literatura. A publicação chama-se  Cadernos de Literatura Brasileira e é apresentada desde 1996, constituindo-se, desde já, em material obrigatório de informação e formação sobre nossos escritores e parte no panorama de nossa memória cultural.   A edição saída agora homenageia a escritora Lygia Fagundes Telles (a jovem mostrada no registro que abre esta postagem). Autora de uma vasta, significativa e bem-desenhada obra, que transita entre o conto e o romance. Sobre sua literatura, Antonio Candido, outro dos nossos expoentes, já disse que tem o mérito de obter "a limpidez adequada a uma visão que penetra e revela, sem recurso a qualquer truque ou traço carregado na linguagem ou na caracterização"....

Ler o Dom Quixote

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Por Pedro Fernandes Depois de Crime e castigo , de Dostoiévski, essa me foi a obra mais cara à leitura, entretanto, me parece ser essa a característica do clássico: a de marcar seu leitor por todas as vias possíveis, como se a leitura, para ser tida realmente como tal, devesse nos jogar no seu calabouço e de lá nos arrastar aos poucos, trazendo-nos, dessa experiência, carregados de uma nova camada de humanidade agarrada à nossa figura. Como disse certa vez, num texto anterior a este sobre Os sertões , de Euclides da Cunha, renovo aquelas imagens de grande teatro para o clássico de Cervantes. Composto numa época de transição, clara sátira ao fadado romance de cavalaria, entretanto, sem reduzir-se a tanto, O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha nos coloca diante de uma grande arena, que é a Europa medieval povoada de tipos que vão desde o mais popular e picaresco ao sofisticado e grave; Dom Quixote é, sem dúvidas, uma grande aventura da linguagem, conforme entendeu Michel...

O poeta que há em Ariano Suassuna

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Ariano Suassuna. Foto de Assis Hoffmann Para muitos, isso deve ser uma novidade. Conhecido mais pelo seu trabalho como dramaturgo pelo já consagrado sucesso O auto da compadecida e por sua produção romanesca com títulos como  A pedra do reino , é necessário dizer que Ariano Suassuna é também poeta. Ainda anônimo, como reconhece o escritor num texto de 2000 para o jornal Folha de São Paulo ; ao comentar acerca do diálogo entre ele e uma leitora, em que ela se apresenta como poeta anônima, Ariano desabafa: “Sou relativamente conhecido como romancista e mais como dramaturgo; como poeta sou ‘anônimo, casual, trágico, inconsequente’ e também ‘fruto e produto do casamento entre a urbanidade e a melancolia de pastos antigos’; pastos esses que, no meu caso, eram povoados de belas cabras agrestes, esquivas, quase selvagens e que pareciam pequenos antílopes, extraviados das savanas da África, das serras do Líbano ou das mesetas da Península Ibérica nos tabuleiros e carrascais dos se...

Jorge Amado

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Jorge Amado, 1969. No primeiro volume de Cadernos de Lanzarote , publicado no Brasil pela Companhia das Letras, em 1997, são constantes as ocasiões em que José Saramago, Prêmio Nobel da Literatura, o primeiro oferecido a um escritor de língua portuguesa, sobre Jorge Amado. Às vezes, fica a impressão de, além do zelo extremo pelo amigo e pela obra, confessado em outras ocasiões, uma certa ponta de inveja (branca) sobre a vida e a rotina do brasileiro. É que Saramago acompanha os momentos mais intensos da carreira de Jorge, aqueles quando sua obra começou a obter o reconhecimento merecido e, claro, como sempre vem nessas ocasiões, sondou-se até a premiação com o galardão levado pelo português em 1998.  Mas, a vida de Jorge tem outras confluências com a de Saramago; ambos vieram de uma extensa maioria de gente da margem social e, logo, interessados pelos dessa esfera; ambos construíram uma obra única no contexto das produções em língua portuguesa; ambos tiveram posiç...

Dez curiosidades sobre o gênio Heitor Villa-Lobos

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Por Pedro Fernandes O Brasil assinala hoje a passagem dos cinquenta anos sobre a morte de Heitor Villa-Lobos, um dos nossos gênios da música clássica. Ele foi o primeiro a conseguir compor ou dar   um tom  genuinamente brasileiro à música erudita, sempre fechada aos estrangeiros, sobretudo, europeus. E, levei um tempo para conhecer um pouco sobre sua obra; a ocasião onde tudo começou foi um concerto que vi tem uns dois anos de algumas peças suas executadas com flauta. O que fez Villa-Lobos se distanciar da forma oferecida pelos compositores europeus, foi o mesmo exercício que levou os europeus à composição de peças já então clássicas; e nosso compositor demonstrou, desde cedo, a necessidade de buscar naquilo que mais nos definia enquanto identidade brasileira: os ritmos africanos e indígenas. Já década de 1920, quando têm apenas 33 anos, é senhor de seus próprios recursos artísticos, revelados em obras como "A prole do bebê", composto para piano, ou "...

Dostoiévski para as telas

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Por Manuel da Costa Pinto O Crime e castigo , de Aki Kaurismäki. Dos livros de Dostoiévski, o mais adaptado para o cinema é Crime e castigo , certamente por causa da trama detetivesca e dos diálogos envolventes entre o protagonista Raskolnikov e o juiz de instrução Porfiri Pietróvitch. A trajetória começa com os clássicos homônimos estrelados por Peter Sorre em 1935 (direção de Josef von Sternberg) e Jean Gabin, que na versão francesa dirigida por Georges Lamin em 1956, faz o papel de Porfiri. A lista inclui a versão em desenho animado, feita em 1953 pelo japonês Osamu Tezuka (o mestre dos mangás), e uma adaptação livre, algo maneirista, feita no Brasil pelo diretos Heitor Dhalia e pelo escritor Marçal Aquino: Nina (2004), longa no qual Raskolnikov se transforma na garota desajustada do título (interpretada por Guta Stresser), que vive num quarto de aluguel e é explorada por uma rabujenta senhora (Myrian Muniz). Uma asfixiante versão, que investe menos na trama polic...