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A literatura faz sentido

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Por Pedro Fernandes A literatura, enquanto expressão verdadeiramente artística que é, é deságue para um conjunto de elementos sócio-histórico-culturais, isto é, possui a capacidade expressiva de reunir em si materialidades ideológicas e expectativas coletivas que dão tom de dada época. Isso a que Goethe vai chamar de Zeitgeist , ou espécie de fio comum, de mesma cor, que perpassa uma colcha de ponta a outra produzindo uma interdependência mútua entre os diversos fios que compõem a sua tessitura. Tanto parece ser assim que os atuais quadros de dissolução apresentados com toda a veemência possível desde o advento daquilo que consideramos por modernismo vão sendo, de modos diversos, impressos no corpo da literatura sob o signo das vanguardas, consideradas estas como a revolução que nunca antes existiu no campo das manifestações artísticas. Haveremos, entretanto, de exibir certa ponderação, com afirmações como estas. A literatura teve sempre um caráter não de abolir a mesmice...

O discurso de Vargas Llosa ao receber o Prêmio Nobel

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"Para lo único que sirves es para escribir" A frase é da companheira de Vargas Llosa, Patricia, e vem citada no seu discurso de recebimento do Prêmio Nobel de Literatura, na cerimônia realizada ontem, 8 de dezembro, em Estocolmo. Segundo a imprensa espanhola, o escritor chorou e fez todos chorarem. Não que tenha feito um discurso-drama, mas Llosa soube articular questões literárias, pessoais e políticas, num modo caudaloso e sobretudo de denúncia social. E qualquer um que tenha alguma sensibilidade, ante as palavras do autor de Conversa no Catedral ficará à beira do choro, sobretudo com as passagens em que o peruano fala da literatura, de sua importância para a história da humanidade, para a nossa existência e a sua existência. A evocação do sentido para a literatura, a denúncia forte aos imperialismos da política e da religião, e mais que tudo um sonho ainda vivo de uma América e um mundo no exercício pleno da palavra liberdade. É este um discurso histó...

Novamente, Ferreira Gullar

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Por Pedro Fernandes O poeta Ferreira Gullar em seu escritório em Copacabana. Foto de Tomás Rangel/ Portal Saraiva Segundo nota publicada no mês de setembro deste ano na coluna Gente Boa, e de que se agora tomei conhecimento, enquanto fazia uma ronda pela internet para uma post sobre o poeta maranhense, Ferreira Gullar entregou, por esta época, a Maria Amélia Mello, da editora José Olympio, os originais de  O homem como invenção de si mesmo . Provavelmente este será o seu próximo livro; trata-se de um monólogo em um ato. Em julho, o poeta, em seu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro, deu uma entrevista para Bruno Dorigatti e Ramon Mello, do Portal Saraiva. Na entrevista, Ferreira Gullar volta a São Luís, sua terra natal e relembra sua infância; fala do contato com a poesia, da busca pela subversão linguística, do Poema enterrado , dos anos de exílio e do momento atual, aos 80 anos, ganhador do Prêmio Camões e em ainda em pleno vapor nas suas ativid...

Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema

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Para marcar os 40 anos do poema "No meio do caminho", Carlos Drummond de Andrade publicou, em 1967, o livro Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema , no qual reuniu uma ampla seleção com o que foi dito sobre os famosos versos. No último dia 24 de novembro chegou às livrarias, por através do Instituto Moreira Salles uma nova edição do livro. A edição é ampliada pelo poeta Eucanaã Ferraz. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema traz todo o conteúdo de sua versão original: texto de apresentação de Arnaldo Saraiva e fortuna crítica do poema mais discutido do modernismo literário brasileiro, publicado pela primeira vez na Revista de Antropofagia , em 1928. A publicação traz também duas seções inéditas: "Ainda a pedra", que complementa a seleção feita por Drummond com textos, charges e ilustrações sobre o poema posteriores a 1967; e "Biografia da biografia", que reúne resenhas e comentários sobre o livro desde seu lançamento. ...

Comer, rezar, amar, de Ryan Murphy

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Por Pedro Fernandes A beleza e o talento de Julia Roberts não são suficientes para decolar o filme O filme é uma releitura do Best-Seller duvidoso Eat, Pray, Love: One Woman’s Search for Everything Across Italy, India and Indonésia de Elizabeth Gilbert. No filme, o centro dos holofotes para a protagonista vivida por Julia Roberts. O estrelismo de Julia entretanto não fez o filme decolar. Comer, rezar, amar finda sendo um filme clichê mais parecido com um catálogo de auto-ajuda do que um drama, no sentido do termo. Após uma separação, a protagonista lança-se numa aventura em busca de outros prazeres que venham (por que não pensar assim) substituir os prazeres da carne. Apenas o voto de luxúria não é apresentado, assim, desse modo, tão escrachado que falo. Mas a verdade é que o prazer pela comida vem como elemento, ou verbo primeiro que, além de substituir o outro verbo, amar, vem para se não, amenizar tal o verbo, já que o que prevalece, no meio de tanta comilança e re...

Pelos 90 anos de Clarice Lispector, inéditos

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Difícil é imaginar Clarice Lispector aos 90. Foi o aniversário que a escritora completou no último dia 10 de dezembro. Seria que, até essa idade, a nossa escritora produziria obras de tamanha magnitude como as que criou no seu estágio de maturidade literária? Nunca teremos uma resposta para a pergunta. Mas peças daquela Clarice ainda há muitas por revelar. E sabendo disso e, claro, pelo simbolismo da natividade clariciana é que o Instituto Moreira Salles (IMS), começou, pelo referido dia 10 de dezembro, a publicar alguns inéditos da escritora de A hora da estrela . E permanecerá publicando ao longo do mês de dezembro. Os inéditos tratam-se de documentos selecionados dos arquivos literários de Clarice, onde se encontram manuscritos e datiloscritos. A primeira peça publicada foi uma entrevista concedida pela escritora ao Jornal do Brasil na figura de Nevinha Pinheiro em 15 de dezembro de 1977 - seis dias depois da morte da escritora. É sabido também que o nome de Clarice ...