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Karen Blixen

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O sobrenome Blixen incorporou do seu marido, o barão sueco Bror von Blixen-Finecke, quando se casou com ele em 1914. Este ano marca a vida de Karen Dinesen - seu nome antes do casamento - porque é daí que ela parte com o barão, ainda um primo seu afastado, para ir morar no Quênia, África, onde cuidavam de uma fazenda de café. Antes, Karen já perdera o seu pai, que, vítima de sífilis, cometeu suicídio, quando ela ainda tinha dois anos. Ingeborg Westenholz, sua mãe, ficou sozinha, com cinco filhos por criar. Fez sua formação escolar em boas escolas suíças, graças a extensa ajuda que sua mãe obteve dos familiares. A família era, para todos os efeitos, abastada. A vida em África foi-lhe importante porque é do cenário em que viveu que Karen extrai matéria para a sua mais famosa obra, traduzida no Brasil como A fazenda africana e publicado em 1937 - livro autobiográfico, mas com caráter bem mais "etnográfico" do que melodramático: o livro tem como pont...

Gertrude Stein em Paris

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Por Luiz Edmundo Alves G. Stein posa ao lado do quadro Retrato de Gertrudes Stein , de Pablo Picasso. Boa parte da história da arte moderna, especialmente pintura e literatura, passa pela Paris do início do século. O ano base seria 1903, quando a escritora americana Gertrude Stein chega a Paris. Miss Stein se achava genial, como geniais eram alguns dos amigos que faria: Pablo Picasso, Matisse, Braque, Derain, Juan Gris, Apollinaire, Francis Picábia, Ezra Pound e Joyce, isso apenas pra citar alguns. Mas Miss Stein era realmente genial e escreveu Autobiografia de Alice B. Toklas , livro fundamental da vanguarda dos anos 10, 20 e 30. Com estilo muito próprio, a narrativa conta como jovens artistas e escritores vindos das mais diversas partes do mundo se encontram em Paris e detonam novos caminhos para a arte. Picasso vinha da Catalunha, Joyce da Irlanda, ela própria vinha da América, Nijinski era russo, havia vários franceses, como Cocteau, Apollinaire, Matisse. É bom lembrar q...

Flannery O’Connor

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Flannery O’Connor foi “apenas uma contadora de histórias”, segundo suas próprias palavras. Mas, nem sempre devemos nos fiar nas declarações dos escritores; e é esse um caso. Ela não era apenas uma contadora de histórias. Em sua prosa, buscou resgatar aos olhos de seus leitores, o estranhamento com que a Graça, o Mal e o Pecado Original, atuam neste vale de lágrimas.  Esse estranhamento ocorre em nossas vidas quando o grotesco, a violência ou nossa incapacidade de reconhecermos que há uma inexpugnável diferença entre o que crermos ser o certo, e o que é certo perante os olhos de Deus. E a literatura de O’Connor explorou isso com certa maestria, o suficiente, para situá-la entre o melhor do século XX. O chamamento à lucidez por meio da expressão idiossincrática das hipocrisias, muitas vezes manifesto com a fúria a violência, é dado por meio de uma literatura capaz de nos revelar o grotesco que nos cerca, e assim, aceitarmos melhor nossa parcela nessa realidade criada par...

Natalia Ginzburg

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Natalia Ginzburg nasceu em Palermo, em 1916. Integra a lista dos mais significativos escritores italianos. Fez parte do círculo intelectual de maior expressão da literatura e crítica italiana, bastando que se cite os que dele faziam parte - Cesare Pavese, Italo Calvino, Elio Vittorini, Giulio Einauldi e Eugenio Montale. Casou-se com o editor e ativista político Leon Ginzburg, judeu russo nascido em Odessa, líder de um movimento clandestino antifascista - Giustizia e Libertà -, do qual participaram todos os membros da família. Com o advento dos fascistas ao poder, Leon, Natalia e os filhos foram confinados numa cidadezinha dos Abruzos. Após três anos de confinamento, Leon regressou a Turim e Roma, onde continuou a participar do movimento de resistência. Preso em 1943, foi transferido para uma prisão alemã, onde morreu sob torturas em fevereiro de 1944. Do casal nasceu o renomado historiador Carlo Ginzburg, conhecido pela obra O queijo e os vermes e Mitos, emblemas, sinais . ...

José Saramago, das crônicas

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Da obra de José Saramago, encontramos com pelo menos quatro  incursões pelo gênero da crônica. Talvez devamos ampliar este número para cinco, se for caso de considerarmos associados à Deste mundo e do outro (1971), A bagagem do viajante (1973), As opiniões que DL teve (1974), Os apontamentos (1976) - os quatro livros em questão - este seu Folhas políticas , lançado como um conjunto de artigos, mas que, trazem as mesmas características da crônica para jornal. O escritor já dissera que para conhecê-lo haveria o leitor de começar a lê-lo por essa produção. Em Saramago, muitas vezes disseram, e é verdade, os acontecimentos mais rasteiros do cotidiano ganham status literário pela simples forma como são engendrados na escrita. Exige do leitor atenção aos pequenos detalhes, que, pelo modo como se insinua, sabemos, pode dar conta de provocar grandes inquietações filosóficas, políticas e existenciais. Esses dizeres de "uma fala só" enredam a face mais próxima do S...

García Márquez vai ao dentista

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Nota:  Foi pesquisando materiais para escrever uma post sobre o escritor Gabriel García Márquez que encontrei com este texto publicado em dezembro de 2010, no caderno do jornal  Folha de São Paulo , o  Ilustríssima . Com a desenvoltura de uma anedota o peruano Julio Villanueva Chang compõe um perfil - cotidianesco - do Prêmio Nobel de Literatura. O perfil foi escrito a partir de uma entrevista que Chang fez por através do dentista de Gabriel García Márquez, Jaime Gazabón, um contorno àquele que nutria uma aversão a repórteres. Em entrevista para o jornal O Globo quando esteve na FLIP de 2010, Chang respondeu como foi compor esse perfil "enviesado" do escritor colombiano: "Todos, mesmo que só uma vez, já pedimos a um ser querido que nos olhasse nos olhos. García Márquez não dá entrevistas e um caminho para aproximar-se dele é tentar conhecê-lo na diagonal, ou seja, pelos olhos de outra pessoa. Procurar o dentista de García Márquez não foi uma ...