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Carlos Drummond de Andrade, o cronista do vasto mundo

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“Sempre gostei de ver o sujeito às voltas com o fato, tendo de captá-lo e expô-lo no calor da hora. Transformar o fato em notícia, produzir essa notícia do modo mais objetivo, claro, marcante, só palavras essenciais. Ou interpretá-lo, analisá-lo de um ponto de vista que concilie a posição do jornal com o sentimento comum, construindo um pequeno edifício de razão que ajude o leitor a entender e concluir por si mesmo: não é um jogo intelectual fascinante? E renovado todo dia! Não há pausa. Não há dorzinha pessoal que possa impedi-lo. O fato não espera. Então você adquire o hábito de viver pelo fato, amigado com o fato. Você se sente infeliz se o fato escapou à sua percepção.”   Carlos Drummond de Andrade,  Tempo vida poesia . Carlos Drummond em sua biblioteca particular. Foto: Jornal do Brasil. Os jornais foram porta de entrada para Drummond em todas as fases de sua carreira. Sim. Desde quando se constitui leitor a quando é o escritor conhecido. O fascínio pela b...

Carlos Drummond de Andrade e a poesia de todos os tempos

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O livro de Carlos Drummond de Andrade, dentre as dezenas livros de prosa e verso que publicou, que mais me diz de sua própria obra é o de poesia A rosa do povo . Mas, toda superioridade que dou a ele será vã se olharem para meu currículo de leitor e notar a presença de apenas esse livro como um dos lidos ponta a ponta por mim. Como todo mundo já deve ter feito – e está aí o caráter de liberdade da poesia – li já muitos esparsos. Agora, se em vida eu conseguir ler apenas A rosa do povo terei, com plena convicção, lido aquilo que de mais significativo produziu o poeta, afinal, todo escritor tem, em algum momento de sua vida literária, aquilo que comumente podemos chamar por epifania. O limite ou topo, para usar uma linguagem rasteira. Isso porque A rosa do povo assinala como o livro que atravessa a vida do poeta e o seu tempo e num só instante é capaz de, para o leitor, alargar-lhe os sentidos e as fronteiras da existência. Datiloscrito do poema  “ Nota  social ” ...

Carlos Drummond de Andrade e o tempo das revistas

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“Essas revistas, lidas, relidas, alisadas no excelente papel couché, fizeram minha iniciação literária, muito imperfeita mas decisiva. Guardo até hoje visualmente de cor, por assim dizer, páginas e páginas das duas. Sei a posição das gravuras, os títulos das matérias”.    Drummond,  Tempo vida poesia     Capa da 1ª edição de A revista , de julho de 1925. O periódico tinha com um dos dirigentes Carlos Drummond de Andrade. Quase todo ele também foi escrito pelo poeta. Foto: Arquivo on-line da Brasiliana/ USP. Reprodução/Divulgação. Quando eu era criança, lembro-me que minha avó costuma guardar entre uma pilha de velhos papéis aquilo que ela chamava por folhetos. Havia entre eles os cordéis e estes sim eram os folhetos, mas havia também algumas revistas; O cruzeiro era uma delas, lembro-me bem. Esses papéis avulsos eram o entretenimento dela nas horas vagas na fazenda. Devem ter sido lidos de frente para trás e trás para frente até serem incorporad...

Carlos Drummond de Andrade e o cinema

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Cineteatro Glória, em Belo Horizonte, 1929. Depois que foi para BH, na década de 30 Drummond esteve aí várias vezes e anotou no seu diário o título dos filmes assistidos. Foto:  Acervo do Museu Histórico Abílio Barreto “ só quem assistiu à infância do cinema no Brasil pode avaliar o que era essa magia dominical das fitas francesas e italianas, sonho da semana inteira. ” Carlos Drummond de Andrade,  Tempo vida poesia Não seria o primeiro certamente que teve atração pela sétima arte. No catálogo da exposição José Saramago – a consistência dos sonhos , organizada por Fernando Gómez Aguilera, há uma lista expressa de filmes que o escritor português assistiu e anotou o feito.  E foi olhando para essa galeria bem particular que decidi procurar sobre a relação de Carlos Drummond de Andrade com o cinema. Outro princípio também é o fato de o próprio poeta ter atuado num documentário dirigido por Fernando Sabino e David Neves, em 1972, O fazendeiro do ar , homônimo de u...

Carlos Drummond de Andrade e a arte de escrever cartas

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“Nas cartas que escrevo costuma insinuar-se o rascunho da grande carta (grande? ou conterá só duas linhas?), mas bem sei que não adianta rascunhar o que não pode ser previsto e menos ainda planejado. Ou a carta se faz espontaneamente na brancura da folha, tão imperativa que só me resta assiná-la, ou todo o meu empenho literário de reunir as expressões mais adequadas resultará na caricatura de um documento que independe de estilização e mesmo a repele. A correspondência da vida inteira torna-se o esboço inútil de uma única peça postal que não tenho aptidão para compor, e não me é ditada, mas que exige ser escrita.   Estamos nisto, eu e a minha carta, já concreta, palpável, legível de tão imaginada: em sua plenitude branca.”  Carlos Drummond de Andrade, “Projeto de carta”,  Os dias lindos    Bilhete que Carlos Drummond de Andrade escreveu a Clarice Lispector após ler De corpo inteiro . Foto: Acervo da família. Arquivo Museu de Literatura da Fundação ...

Carlos Drummond de Andrade e a arte de desenhar

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“Rabiscar figurinhas sem saber mesmo o que sairá do traço canhestro. Seria ótimo ter nascido caricaturista. Na rua, ao ver desconhecidos, costumo identificá-los: ‘Este foi desenhado pelo Kalixto. Esta é puro J. Carlos. Olha ali a gordona do Raul. Quem inventou esse foi Ziraldo.’ Penso num museu de caricatura, que não sei se existe no exterior, e que eu visitaria sempre, se existisse no Rio.”  Carlos Drummond de Andrade, “1.º de janeiro de 1976”, O observador no escritório .   Edição para os quadrinhos de Robinson Crusoé  publicada na Revista Tico e teco , em 1911. Um dos primeiros contatos de Carlos Drummond de Andrade com a arte do desenho foi  com revista. O poeta Carlos Drummond de Andrade tinha verdadeiro apreço pelo traço do desenho e pelas artes gráficas. Logo cedo, ainda criança teve seu primeiro contato com os traços dos quadrinhos, como a adaptação para os quadrinhos de Robinson Crusoé (foto) que leu aos nove anos e retomaria a personagem comp...