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Fernando Namora

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Fernando Namora. Foto da década de 1960. A particularidade de Fernando Namora nas literaturas de língua portuguesa é sua pluralidade de escritas, a vasta obra deixada e a capacidade de trânsito entre o erudito e popular, pelo número de aceitações de seus livros. Teolinda Gersão lembra bem em depoimento a um programa para a TV portuguesa que Namora esteve na lista dos Best-seller em Portugal e com a radical diferença dentre os livros do tipo: é que a literatura do escritor português é ‘sadia’ esteticamente e, por isso mesmo, objeto artístico de grandeza significativa. Toda a vasta obra e os trânsito entre gêneros desenhado pelo escritor talvez seja o resultado de alguém que teve na vida duas tarefas às quais se dedicou com afinco: a medicina e a escrita. Num depoimento de José Saramago, em que o escritor lembra os vários encontros com o autor de Nome para uma casa , livro de poesia, um dos gêneros cultivados por ele, comenta a forma com que se entretinha: “Bater-lhe à porta, in...

O desastre das readaptações dos contos de fadas para as telas

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Salvam-se a beleza dos atores, o bum-bum dos efeitos especiais; perde-se o telespectador com uma historieta sem pé nem cabeça, mas o que fazer se o que Hollywood quer é impressionar? Imagem: cena de João e Maria  - caçadores de Bruxas Não é de hoje que Hollywood tem descoberto o poder cinematográfico dos contos de fadas. Tanto que não será exagero dizer que este se constitui numa das linhas de montagem de filmes. Tem seus altos e baixos, vão e voltam. E, agora voltaram mais renovados e deturpados que nunca; se antes alguém já brigava pela infidelidade da adaptação, ir ao cinema para ver as novas produções é, praticamente, para ter taquicardia. Tão logo quando foram para as telas o grau de suplantação dos contos originais se guiava pelo estilo a Walt Disney, com príncipes moiçolas de olhos azuis e mocinhas indefesas e submissas. Agora, a onda se guia pela sombra gratuita dos filmes baratos de vampiragem a Amanhecer & Cia. Evidente que o cinema mudou e seus propósito...

Django livre, de Quentin Tarantino

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Por Pedro Fernandes Quem já se deparou com Quentin Tarantino em empreitadas como Kill Bill e com Bastardos inglórios – para ficar em duas produções recentes do diretor – verá que, dos três filmes para cá ( Kill Bill foram dois filmes) ele muito tem aperfeiçoado seu estilo e permanece seduzido por alguns exageros. A prova ainda pode ser tirada com a chegada aos cinemas, agora em 2013, de Django livre , que, no meu curto entendimento vai entrando para lista das boas surpresas do ano. Quando comentei por aqui sobre A viagem não lembro ter dito que este filme era um filme para ser revisto; se não tiver dito, aproveito a ocasião para, ao concordar que Django deve ser um filme para ser revisto, dizer; e já vão duas reprises necessárias. Em Django livre , Quentin Tarantino se apropria do fato e um dos mais vergonhosos da história, a escravidão, e num misto de faroeste sem deserto, produz uma narrativa, já no seu tradicional modo de narrar que ocupa três movimentos: a prisão ...

Callado e a “vocação empenhada” do romance brasileiro

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Por Ligia Chiappini Embora se alimente de episódios quase coetâneos, muitos deles tratados em reportagens pelo autor, a ficção de Antonio Callado transcende o fato para sondar a verdade, por uma interpretação ousada, irreverente e atual. E consegue tratar de forma nova um velho problema da literatura brasileira: sua "vocação empenhada", para usar a expressão consagrada de Antonio Candido. Uma ficção que pretende servir ao conhecimento à descoberta do país. Mas o resgate dessa tradição do romance empenhado ou engajado se realiza aqui com um refinamento que não compromete a comunicação e com um caráter documental que não perde de vista a complexidade da vida e da literatura. Busca difícil, que termina dando uma obra desigual, mas, por isso mesmo, interessante e rica.  O jornalismo e suas viagens proporcionam ao escritor experiências das mais cosmopolitas às mais regionais e provincianas. A experiência decisiva do jovem intelectual, adaptado à vida londrina, a quase...

O clássico de combate*

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por Sandra Vasconcelos Jane Austen em retrato do século XIX. Dizem que ela escrevia em pedacinhos de papel, um artifício ou mania desenvolvida pela timidez da escritora que nunca se sentiu à vontade diante dos seus escritos.  O recolhimento à esfera doméstica, o horizonte acanhado, a discrição da autora – nada faria supor que os romances de Jane Austen (1775-1817) viriam a ocupar um lugar de destaque nas letras inglesas e chegariam a ser considerados verdadeiros clássicos. No entanto, essas narrativas de amor e casamento tornaram-se, ao longo do tempo, unanimidade de público e de crítica e deram a Austen a fama que ela não conheceu em vida. Se as oportunidades de desenvolvimento profissional e intelectual eram reduzidas para as mulheres, principalmente para aquelas de sua condição social, Austen soube traduzir essas limitações e transpor, para o plano literário, uma experiência que era a de tantas jovens naquele momento de transição entre os séculos 18 e 19. Dessa...

O boom da literatura chilena, José Donoso no Brasil

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Por Pedro Fernandes José Donoso, um dos escritores chilenos que começam a chegarao Brasil em novas traduções. Os leitores brasileiros devem abrir um espaço na estante para receber a obra de um escritor chileno que volta a aportar por aqui neste ano: José Donoso. Dois de seus trabalhos já estão nas livrarias:  O lugar sem limites  (Cosac Naify) seguido de O obsceno pássaro da noite  (Benvirá). A reentrada da literatura de Donoso ao Brasil vem num momento em que a presença dos latino-americanos tem assumido ponto alto por aqui. Especificamente dos autores vindos do Chile. Deste país, por exemplo, contamos com Roberto Bolaño (tido como um fenômeno Cult ), Isabel Allende, Antonio Skármeta... E antes desses nomes, a obra de Pablo Neruda, talvez um dos mais traduzidos por aqui e atravessado pelo momento de expansão da literatura de língua espanhola no mundo.  Ah, e não se deve esquecer Alejandro Zambra! Em 2012, o escritor esteve como convidado na Festa Literária...