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Sartre e a recusa do Prêmio Nobel de Literatura

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Já era muito tarde quando Jean-Paul Sartre enviou em 14 de outubro de 1964 uma carta a academia sueca que outorga o prêmio Nobel pedindo-lhe que não o incluíssem entre os possíveis ganhadores nem nesse ano e nem no futuro. O filósofo francês também avisava que, no caso de o galardoarem, recusaria o reconhecimento. A carta chegou com um mês de atraso. Serviu já para consolidar a recusa. Em setembro a Academia já havia decidido quem seria o Nobel de Literatura daquele ano: o próprio Jean-Paul Sartre. A carta, que marca um novo elemento a uma das recusas mais soadas da história da cultura foi publicada por esses dias no diário sueco Svenska Dagbladet e recopiada em jornais ao redor do mundo. A publicação do material se dá, como de praxe, depois da abertura dos arquivos da Academia meio século depois: ao terminar 2014, portanto, se pode acessar aos documentos correspondentes a 1964. Há algum tempo, segundo diz o diário The Guardian , já se havia especulado durante antes que...

Boletim Letras 360º #100

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Em 2015, as livrarias brasileiras recebe uma nova tradução para a Autobiografia  de Agatha Christie. Mais detalhes ao longo deste boletim. Chegamos ao fim da primeira semana de retorno do blog com as postagens diárias. Esperamos ter um 2015 de alta e excelente produção. E se estamos atravessando mais um fim de semana juntos tem de ter as notícias que circularam em nosso ponto de encontro mais movimentado da web : a página do Facebook. Segunda-feira, 12/01 >>> Brasil: Virginia Woolf e O sol e o peixe É este o título de um ensaio da escritora e título que dá nome a uma coletânea que reúne nove de suas prosas. Nelas, Virginia contrasta a visão de um eclipse total do sol com a dos peixes num aquário de Londres; discorre sobre Montaigne e sobre a paixão da leitura; relembra, em traços delicados e comoventes, a convivência com o pai; teoriza sobre a nascente arte do cinema e sobre as relações entre a literatura e a pintura; enaltece as paradoxais vantagens d...

As adaptações de obras literárias para o cinema em 2015

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Cena de Vício inerente - filme baseado no romance de Thomas Pynchon com estreia para fevereiro de 2015. A cada ano parece que a lista aumenta: além da febre de ser baseado numa história real (já repararam nos filmes que estão no páreo ao Oscar do ano que, quase todos, assim se apresentam?), a outra febre são as adaptações literárias. E em 2015, os leitores terão muito o que ler antes de ir ao cinema. Janeiro 1.  Livre O filme é dirigido por Jean-Marc Valleé; é um dos favoritos ao Oscar; e é baseado no livro de mesmo título de Cheryl Strayed. Aos 22 anos, Cheryl Strayed achou que tivesse perdido tudo. Após a repentina morte da mãe, a família se distanciou e seu casamento desmoronou. Quatro anos depois, sem nada a perder, tomou a decisão mais impulsiva da vida: caminhar 1.770 quilômetros da chamada Pacific Crest Trail (PCT) — trilha que atravessa a costa oeste dos Estados Unidos — sem qualquer companhia. Cheryl não tinha experiência em caminhadas de longa d...

Houellebecq e a polêmica sobre seu novo romance

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Michel Houellebecq voltou a um tema caro. A publicação de seu novo livro que chegou coincidentemente na mesma semana do atentado a agência do Charlie Hebdo ganhou as rodas da polêmica a ponto da obra ser tida no rol dos escândalos de 2015. O tema caro, logo já pode o leitor deduzir, é o Islã. E o motivo para tudo chama pelo título de Soumission (título ainda inédito, mas já declarada publicação no Brasil para breve). Trata-se de um relato futurista que retrata uma França convertida ao regime islâmico depois da vitória de um novo partido, a Fraternidade Muçulmana, nas eleições de 2022. O candidato Mohammed Bem Abbes, supera Marine Le Pen no segundo turno das eleições, graças ao apoio do resto das forças políticas, decididas a impedir a vitória inevitável da ultradireita. O país desenhado por Houellebecq, imagem deformada da França de hoje, é erguido pelos últimos resíduos de uma democracia agonizante e está composta por cidadãos desencantados pela política, unicamente inter...

Os trabalhos e os dias na poesia de Donizete Galvão

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Por Alfredo Monte “De fato a linhagem agora é de ferro:  nunca, de dia, se livrarão da fadiga e da agonia, nem à noite, extenuando-se: os deuses darão duros tormentos. Todavia, para eles aos males juntar-se-ão benesses...” (Hesíodo, Trabalhos e Dias, versos 176-9, trad. Christian Werner) “Poderia ser este o lugar. Este o tempo de repouso. Mas a roda dentada nunca para...” (Donizete Galvão) Entre os trinta e seis poemas reunidos em Ofícios do tempo (ed. Positivo), dois podem ser considerados nucleares, inclusive por sua concisão e perfeição: “Memória do paraíso / não tenho não. / Lembro-me da dor. / Da vergonha. / Do desgosto. / Da gota de suor/ pingando do rosto.” (“depois da queda”); “Nu / bailo / numa / navalha // Sem / nada / que me valha / só / me prende / um fio / de esperança” (“equilíbrio”). Ao destacá-los, corre-se o risco de sublinhar o lado mais abstrato, mais “condição humana”, relegando a segundo plano uma das linhas de força da p...

Monteiro Lobato e o racismo

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Por Cesar Kiraly Antes de tudo, penso que devo dizer que o contextualismo é sempre bastante falso. A regra de sua prática é a relativização. Ou, o que é bastante pior, o exercício do amálgama. Talvez pior do que o contextualismo seja o relativismo, mas o quadro se torna ainda mais apavorante quando os dois estão juntos. Mas por quê? Porque a união do contextualismo com o relativismo dá início à prática pública da falsificação de objetos verdadeiros. Modo pelo qual os valores parecem verdade, mas duram muito pouco. São valores bem mais baratos, quando comparados com os verdadeiros, exigem muito menos, e fornecem, no que concerne a vida coletiva, muito, mas muito menos ainda. Mas se digo isso, devo ter alguma intenção. Sim, afirmar que um enunciado moral é falso independentemente do contexto ou da relatividade. E, da mesma forma, que um enunciado moral é verdadeiro, sob os mesmos rigores. Por certo, que existem fenômenos mais confusos, da mesma forma, como existem modos da f...