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A imortalidade, de Milan Kundera

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O título publicado no final da década de 1980 e chegado ao Brasil no início da década de 1990 reaparece em 2015 no arrojado projeto editorial conduzido pela Companhia das Letras desde quando trouxe-nos o mais recente romance de Milan Kundera, A festa da insignificância . O romance é conhecido como um dos mais importantes na literatura do escritor theco, depois, é claro, da obra que o projetou internacionalmente, A insustentável leveza do ser .  Na época de sua publicação, registra a crítica, o romancista recusou as sabatinas, os eventos públicos de apresentação da obra, enfim, qualquer aparição ou apoteose; tudo seria em razão da compreensão de que o livro sozinho se basta; ou um tapa com luva pelica na cara da sempre hipócrita mídia que se aproveita, em grande parte, do que o próprio autor diz sobre sua obra e rescalda o discurso em críticas pífias para os cadernos de cultura, abrigando a obra, muitas vezes em estereótipos vazios ou irregulares e tolhendo a reflexão mai...

E. L. Doctorow

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E. L. Doctorow (Egdar Lwarence) nasceu em Nova York, no histórico distrito do Bronx, em 6 de janeiro de 1931; filho de um casal modesto, mas culto, de imigrantes judeus russos – um vendedor de instrumentos musicais e uma dona de casa aficionada por piano. É um escritor que ocupa desde sempre um lugar singular na literatura estadunidense da segunda metade do século XX. Sua obra aparece como um verso solto na exata hora de ocupar um lugar específico e encontrou, entre nomes muito poderosos, diga-se: Saul Bellow, Philip Roth, John Updike e outros. Sua escrita se caracteriza por um formalismo realista ao lado do novo jornalismo estadunidense ; trata-se de uma espécie de interação pela qual o jornalismo aceita a subjetividade e a narrativa incorpora elementos da realidade na ficção. Mas, no caso de Doctorow há, além disso, uma terceira presença: a de certos aspectos da literatura convencionada pós-moderna, como o uso do coloquialismo ou mistura de estilos. À vista disso, qualque...

Os livros únicos de um autor

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Harper Lee, a autora do único O sol é para todos Medo, sofrimento, perfeccionismo e fama formam míticos oásis literários rodeados de silêncio. Se na música um único êxito é chamado one-hit-wonder , na literatura é uma variedade do milagre. Ou epifania como já terão tratado por aqui. E seus autores formam um exclusivo clube de escritores de um único e histórico livro. Tornam-se uma lenda! Como a que envolve a recente descoberta e publicação de um manuscrito inédito do qual nasceu O sol é para todos , Harper Lee ( Go Set a Watchman / Vá, coloque um vigia ), nome que mesmo depois do segundo romance (rascunho de um efetivamente publicado) ilumina os membros desse mítico clube. No Brasil, o caso mais célebre será, muito provavelmente, o de Augusto dos Anjos, que se tornou um importante nome para a literatura e com leitores arrebatados e fieis para o seu Eu , ou Euclides da Cunha e Os sertões ; na literatura portuguesa, nossa coirmã mais velha, são várias as situações: a mai...

Pergunte ao pó, de John Fante

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Por Alejandro Jiménez Para ninguém é um segredo que a maioria de nós chegaram até John Fante graças a Charles Bukowski . Fante, ao meu ver, é o mais incrível e imperdoável caso de esquecido numa época; é uma página da literatura estadunidense que, todavia, hoje não alcança superar esse estigma, nem com as sucessivas reedições de sua obra, nem por toda a crítica a seu respeito produzida mesmo aquela escrita por críticos que fingem conseguir alcançar sua compreensão e retirar o escritor e a obra do tempo ou da realidade onde estão metidos. Mas, além disso, o caso Fante é o do escritor que – por superior ironia – a época o desconhece exatamente porque ele a conhece tão bem, tão descarnadamente bem, e bem à sua maneira, o que resulta num nome perigoso de desbravá-lo. A obra do escritor está inscrita entre aquelas sobre as quais é permitido afirmar que de maneira contundente que desenvolve uma preocupação com os destinos desses miseráveis que vivem à própria sorte, com a n...

Herberto, a tempestade que revolve a funda terra dos lagos mais estagnados - sobre Poemas canhotos (parte 2)

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Por Pedro Belo Clara Findamos a primeira parte deste diálogo com a poesia de Herberto Helder em Poemas canhotos falando sobre sensações (de inconformismo e de revolta) e, para agora, gostávamos de avançar sobre outras questões suscitadas pela leitura dessa obra; assim, são deveras interessantes os vislumbres que o próximo poema nos concede no que toca à imagem do poeta enquanto criador: “em boa verdade houve tempo em que tive uma ou duas artes poéticas / agora não tenho nada”. A incursão faz-se pela habitual frustração de quem cria, aliada até a uma certa inutilidade do propósito do acto, que de transcendente nada tem (“mas o mundo, não: nunca senti que o mundo estremecesse sob as minhas palavras escritas”), concluída, apesar de tudo, com o sentimento de dever cumprido (“e quando eu chegava ao fim das linhas escritas, / sabia que estava tudo feito, / sentia que deveria morrer ”). A herança do poema é retomada logo pelo seu sucessor, num período onde a temática se revel...

Boletim Letras 360º #126

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Haper Lee nos estúdios de gravação da adaptação de seu romance O sol é para todos , na década de 1960. Toda semana é muito importante para o Letras in.verso e re.verso. E porque esta tem gostos especiais, gostaríamos de dividir com os leitores os pontos ultrapassados graças ao empenho dos amigos. Pode ser? Primeiro: alcançamos o maior número de visitas no blog numa semana. E olha que nem publicamos textos com nomes que já sabemos fazer sucesso entre diversos públicos de leitores. Segundo: nossa página no Facebook alcançou 18 mil amigos! Sabem o que é isso para um blog que é sustentado apenas pela força de vontade de poucos braços e carinho de vocês? Pois é, demais! Terceiro: Trabalhamos na revisão de todo conteúdo do blog (revisitando textos antigos, removendo postagens desinteressantes, ilustrando textos que estavam sem imagem, enfim). É que já se aproxima do aniversário de 9 anos e gostaríamos de fazer muitos ajustes no espaço para entrar um novo ano com casa limpa e arrumad...