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Nobel 2015: algumas proposições

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Por Alfredo Monte Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes. É a hora do infinito desacerto-acerto. O vulto da nossa singularidade viaja por palavras matéria insensível de um poder esquivo. Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação. Há uma embriaguês de luto em nossos atos-chaves. Aspiramos à alta liberdade um bem sempre suspenso que nos crucifica. Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária. Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma perfeição especialista em fracassos. Estrangeiros sempre agudamente colhemos os frutos discordantes (Ana Hatherly) Wislawa Szymborska: não fosse o Prêmio Nobel, quais as oportunidades, para o leitor comum de língua portuguesa, de ter acesso à obra da poeta polonesa? Depois do impacto que teve para mim a leitura de Wislawa Szymborska e Ivo Ándritch, desejo de coração que o Nobel deste ano mais uma vez seja...

Saul Bellow

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Saul Bellow nasceu num bairro pobre de Montreal, Canadá, em 1915, no interior de uma família de origem russa e ascendência judia. Em sua adolescência a família se mudou para Chicago, a Chicago dos anos trinta, brutal e pobre. Seu pai vendia maçãs pelas ruas. Depois desses começos um tanto pícaros, de menino da rua, estudou na Universidade de Chicago; cresceu lendo Shakespeare, os clássicos da literatura russa do século XIX e o antigo testamento. Foi então que conheceu outros escritores de sua geração; nomes como Nelson Algren. Homem turbulento, viveu sua vida passando por tudo. Uma primeira época como trotskista, outra com os poetas em Greenwich Village, outros períodos na Europa. Embora tenha vivido em Nova York, Paris e por pouco tempo em Madri, a maior parte da vida foi em Chicago, cidade que deu uma visão sobre o homem e sua luta por se manter numa vida digna, principalmente durante os graves anos da Grande Depressão. “Não posso superar o que vejo. Igual ao historia...

Um teatro às escuras, de Pedro Tamen (Parte 1)

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Por Pedro Belo Clara Pedro Tamen. Foto:António Pedro Ferreira É uma dúvida que paira no mais secreto imaginário de todos nós: o que acontece quando um teatro se encontra em plena escuridão? Dado o misticismo que naturalmente se associa ao lugar, palco de tantas personagens outrora aí insufladas de vida, não se contestará a génese do anseio que sustenta a questão. Um teatro é um lugar de magia. Mesmo para os menos aficionados, uma simples visita a tais instalações será suficiente para instigar obscuros encantos, por mais infértil que seja a mente que percepciona. Talvez os espectros das ditas personagens ainda vagueiem pelos corredores desertos, os risos ou os sentidos aplausos de uma plateia agora ausente ainda ecoem pelas galerias despidas de humano calor. Ou talvez o secreto anseio que o Homem cultiva em ser outro que não aquele que é, seja o bastante para nele despertar as mais íntimas fantasias. Um teatro é o palco onde podemos ser alguém que só em sonhos pensámos ...

Boletim Letras 360º #137

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O jovem Hemingway durante a Segunda Guerra Mundial. O escritor que esteve na linha de frente dos dois mais conflitos da história e que tinha um gosto por acumular papéis ganha sua mais completa exposição. Leia mais ao longo deste boletim. Semana recheada de novidades: tivemos a estreia de nossa nova colunista, Neiva Dutra; em nossa página no Facebook conhecemos o leitor 20 mil; e porque conhecemos o leitor 20 mil iniciamos, no mês de Carlos Drummond de Andrade, uma promoção que sorteará dois amigos com a novíssima edição de Nova reunião de poesia (Companhia das Letras, 2015). E vamos ao que foi notícia nessa semana tão bonita? Segunda-feira, 28/09 >>> Brasil: Graciliano Ramos para os pequenos "Luciana" integra a antologia Insônia , publicada em 1947. Agora, o texto ganhou ilustrações e será publicado numa edição para crianças. A narrativa de "Luciana" constrói uma menina inquieta que cria uma personagem para si – dona Henriqueta da Boa...

Italo Calvino

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Italo Calvino. Foto: Sebastião Salgado Por que ler os clássicos? Se perguntou Italo Calvino ao longo de sua vida e elaborou vários ensaios sobre os autores que assim considerava, como Homero, Plinio, Ariosto, Balzac, Stendhal, Flaubert, Dickens... “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”, comentou numa das muitas definições sobre esses livros imortais que “quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos”. Ao lado desta interrogação, surge outra pergunta. Por que ler Italo Calvino hoje? Carlo Ossola, autor de Italo Calvino: universos y paradojas (Italo Calvino: universos e paradoxos, em tradução livre para o português) comenta que “Calvino é nosso clássico (italiano) do século XX por sua capacidade de eliminar o não essencial, tudo o que passageiro, a fim de obter assim o dom supremo da arte, a transparência”. Numa época dos excessos, então, o escritor seguirá necessár...

Um beijo de colombina, de Adriana Lisboa

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Por Pedro Fernandes Adriana Lisboa. Foto: Julie Harris Não faz muito tempo que, diante de algumas obras, sempre me pergunto o que faz escritor para agir como se pegasse o leitor pelo braço e o mergulhasse numa correnteza de sentidos para só devolvê-lo a superfície de vez em quando como se só quisesse permiti-lo respirar por um instante os ares que ainda correm ao seu redor e logo voltar a levá-lo ao mesmo ponto de imersão inicial. No princípio de tudo a resposta para isso vinha com um medo de, se deixar o texto ali em repouso era uma maneira de favorecê-lo a fugir dessa correnteza de sentidos; por isso, quase caí de fome quando li pela primeira vez, de uma sentada, como se diz, Filomena Borges , de Aluísio Azevedo. Temia não chorar tudo o que tinha para chorar enquanto sucumbia à forma de tratamento (a falta dele) de Filomena para com Borges. Nesse romance, o leitor encontra a desconstrução da legítima metáfora de que os opostos se atraem, afinal, Filomena é ambiciosa ...