Postagens

Adeus ao herói Cervantes

Imagem
Por José S. Casillas Em determinadas situações existem personagens que terminam “devorando” seus autores. Acontece muito no cinema mas também na literatura, onde não se sabe quem veio antes, se o autor ou a personagem. No caso de Miguel de Cervantes nem precisou ser um homem de excelsa formação, nem um valente militar, tampouco um herói perdido na Argélia. Ao menos é assim que se apresenta no livro de José Manuel Lucía Megías – a mais recente biografia do escritor publicada em língua espanhola. A primeira parte de La juventud de Cervantes: una vida en construcción (em tradução direta A juventude de Cervantes: uma vida em construção ) propõe uma forma novelesca para encarar o fenômeno. Sabemos de Cervantes o que ele quis que soubéssemos. Basicamente o que ele deixou por escrito com a intenção de prosperar. Mas, a realidade foi muito menos doce se atentarmos para o contexto histórico do qual fez parte. O autor quis desnudar o mito: “Quis tirar as capas do mito para ...

O quarto de Jack, de Lenny Abrahamson

Imagem
Por Pedro Fernandes Vez ou outra é bom meter-se com uma peça de arte sem ter experimentado passar pela necessidade de saber algum maior detalhe sobre ela. Essa experiência no escuro é muito válida por dois motivos: obter uma leitura mais individual sobre o objeto ou passar pelo sentimento da descoberta. Foi isso o que aconteceu com a primeira vez que vi O quarto de Jack . O filme, eu sabia, é uma adaptação do livro com o mesmo título de Emma Donoghue, publicado no Brasil pela Editora Record; e mesmo assim o que eu sabia sobre a obra em tinta e papel era o título e a imagem da capa vista algures no Instagram. Mas não sabia de mais nada. Quando depois de alguns minutos de desenvolvimento da trama tive a impressão de estar preso num universo forjado pela força criativa de uma criança; imagem que não posso tomar como desfeita, mesmo depois de chegar na outra margem da narrativa. Mas, extremamente sugestivo, o filme de Abrahamson, aos poucos substitui o que poderia ser uma simp...

Os artifícios da respiração narrativa de Ricardo Piglia

Imagem
Por Alfredo Monte «…Cada vez que pega uma nova rua, as vozes envelhecem, as palavras antigas estão como que gravadas nas paredes dos edifícios em ruínas. A mutação tomou conta das formas exteriores da realidade. ‘Aquilo que ainda não é define a arquitetura do mundo’, pensa o homem e desce à praia que circunda a baía’. Vê-se, ali, à beira da linguagem, como a casa da infância na memória’»…  Ricardo Piglia,  A cidade ausente 1 «Todos queremos, le digo, tener aventuras. Renzo me dijo que estaba convencido de que ya no existían ni las experiências, ni las aventuras. Ya no hay aventuras, me dijo, sólo parodias. Pensaba, dijo, que las aventuras, hoy, no éran mas que parodias…»  Ricardo Piglia, Respiración artificial 2 Sempre me sinto desconcertado e tolhido quando penso em escrever sobre a ficção de Ricardo Piglia.  Tenho dificuldades em escrever algo que valha a pena sobre  A cidade ausente , romance de 1992 do qual tirei a e...

"Má conduta", de Matheus Lara

Imagem
Por Cris Castilho MÁC-OND-UTA – assim se lê na capa da primeira edição do livro de contos de Matheus Lara (Arte Editora). A coisa, portanto, já começa na disposição das letras que dão título ao livro. Uma brincadeira que você pode ler como quiser e o que quiser. Mácula, Onda, Puta, Mácron, Conde, Bruta. E a intenção de Matheus Lara fica clara a cada página de seu primeiro livro: ele quer que você olhe de novo. O escritor paranaense quer que você olhe de novo para o livro e para as histórias que ele conta. E te provoca a todo tempo para cair na dele. “Foi isso mesmo que eu li?”, é um dos sentimentos para quem está lendo. O livro traz seis contos intensos e vibrantes que te pegam de surpresa: "Barlavento", "Uma tarde na lanchonete", "Nuas em neons", "Dos porcos na rodovia", "Velhos amores nunca morrem" e "O caçador de dramas". Histórias violentas, com requintes de crueldade, e muito, mas muito bem narradas e a...

A complexa relação entre Truman Capote e Harper Lee

Imagem
Truman  Capote e Harper Lee Poucos lugares tão pequenos produziram tanto talento literário. Duas das maiores figuras das letras viveram em Monroeville, um povoado de cerca de mil habitantes no interior do Alabama, sem qualquer via de comunicação e distante de qualquer grande cidade. Ambos escritores, Truman Capote e Harper Lee, eram vizinhos. A casa onde viveu Capote já não existe; resta um muro que delimita as fronteiras do terreno. Onde era a casa de Lee há agora uma sorveteria Mel’s Dairy Dream. Mas neste pequeno espaço, resumido a alguns metros quadrados da rua principal de Monroeville, ambos compartilharam muitas coisas: as brincadeiras infantis e as primeiras aproximações com a literatura são, de certeza, duas delas. Ali se forjaram carreiras formidáveis: a de Capote, errática, genial, atormentada; a de Lee, reservada e tranquila como a vida desses lugares no deep South , o sul profundo. Capote, autor de Bonequinha de luxo e A sangue frio (romance que chega a...

Boletim Letras 360º #156

Imagem
Novas cartas de T. S. Eliot dão outro tom sobre seu casamento com Vivien e sobre seus cuidados com ela quando da aparição de sua loucura.  Mais detalhes ao longo deste boletim. Olá, amigos do Letras in.verso e re.verso. Deixamos por aqui todas as notícias que publicamos durante mais uma semana de atividades informativas do blog em sua página do Facebook. Boa leitura! Segunda-feira, 08/02 >>> Brasil: Nova edição reúne toda poesia de Augusto dos Anjos Não é difícil encontrar nas livrarias a obra poética do paraibano e várias são as editoras que dedicam a reinventar a estética para o simples volume de 1912 cuja capa fora marcada em vermelho berrante com o título singular EU . Agora, a José Olympio volta a obra de AA e faz uma renovação de um livro do seu catálogo: o Toda poesia  que traz não apenas os poemas do referido título mas alguns outros que só aparecem em edições póstumas. São cerca de 140 poemas acompanhados pelo conhecido estudo crítico de ...