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A vida e a poesia de Fernanda de Castro

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Por Maria Vaz Maria Fernanda Teles de Castro de Quadros Ferro, mais conhecida por Fernanda de Castro, foi uma poetisa, romancista portuguesa que se dedicou, igualmente, ao teatro, à ficção, à tradução e à literatura infantil. Dotada de uma personalidade ecléctica, o vasto leque de saberes fez com que publicasse, inclusive, um livro de introdução à botânica. Nasceu em Lisboa, corria o mês de Dezembro do ano de 1900, e faleceu em Dezembro de 1994. O seu pai era oficial da Marinha, motivo pelo qual teve uma infância e pré-adolescência povoada de mudanças de casa, onde constam cidades como Portimão, Figueira da Foz e Lisboa. Viveu ainda na Guiné, país que deixou aos doze anos, altura em que se tornou órfã de mãe. Aos 22 anos de idade, casou com António Ferro que, mais tarde, se viria a tornar um homem influente no departamento de informação e propaganda do regime salazarista. Talvez pelo facto de perdido a mãe tão jovem e por uma ligação muito forte com a religião cris...

Umberto Eco, o último dos grandes intelectuais

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A cultura italiana nunca se deixou oferecer ao mundo intelectuais de grande envergadura. Umberto Eco, entretanto, pode ter sido um dos últimos na extensa lista de nomes. Não significa dizer que o pensamento estará extinto; é possível mesmo que, numa era marcada pela crise do espírito reflexivo venha daí outro nome que alcance a importância que o autor de O nome da rosa alcançou. Isso só o tempo futuro dirá. O prolífico escritor, filósofo, semiólogo, professor universitário é um dos últimos nomes do enciclopedismo e para que não o acuse de criatura presa ao universo de tinta e papel ou que fosse um retrógrado, um dos poucos que conseguiu combinar o erudito e a cultura de massa sem toldar-lhe as fronteiras e oferecer uma reflexão precisa sobre uma diversidade de temas de natureza igualmente diversa sobre a comunidade humana. Nesse diálogo conseguiu a façanha de aproximar os dois extremos da cultura ocidental e essa talvez seja um dos elementos principais que o fizeram um do...

Harper Lee

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Por William Grimes Harper Lee, cujo único romance, O sol é para todos , sobre a injustiça racial numa pequena cidade do Alabama, vendeu mais de 40 milhões de exemplares e se tornou uma das obras de ficção mais amadas e mais estudas das escritas por um estadunidense, morreu na sexta-feira, 19 de fevereiro, em Monroeville, Alabama, onde morava. Tinha 89 anos. Hank Conner, um dos sobrinhos de Lee, disse que ela morreu enquanto dormia em Meadows, um asilo para idosos onde vivia há alguns anos. O sucesso instantâneo de O sol é para todos , que foi publicado em 1960 e ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção no ano seguinte, tornou Lee uma celebridade das letras, um papel que para ela sempre foi opressivo e nunca aprendeu a conviver com ele. “Nunca esperei qualquer tipo de sucesso com O sol é para todos ”, disse numa entrevista de rádio em 1964. “Eu esperava por uma morte rápida vinda pelas mãos dos leitores, embora, ao mesmo tempo eu meio que esperava que alguém poderia go...

Boletim Letras 360º #157

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Dois importantes nomes da literatura contemporânea. Duas perdas irreparáveis. Harper Lee e Umberto Eco. Este boletim encerra duas notícias muito tristes para o universo da literatura: a morte de Harper Lee e Umberto Eco numa só data, 19 de fevereiro de 2016. E já nos faltam palavras para o que iríamos escrever na introdução dessas notas. Segunda-feira, 15/02 >>> Portugal: Livro com todos os contos de Clarice Lispector também será publicado em terras lusas O projeto de Benjamin Moser editado em 2015 pela New Directions tem galgado espaço fora dos Estados Unidos; depois da editora responsável pela obra da escritora no Brasil decidir publicar uma edição do mesmo trabalho por aqui (sai até abril), os portugueses também resolveram por apresentar Os contos completos  de Clarice. Os 85 textos saem pela Relógio D'água. >>> Brasil / Portugal: A obra integral de Herberto Helder começa a ser publicada a partir de 2016 e novos poemas do poeta vêm a lu...

Adeus ao herói Cervantes

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Por José S. Casillas Em determinadas situações existem personagens que terminam “devorando” seus autores. Acontece muito no cinema mas também na literatura, onde não se sabe quem veio antes, se o autor ou a personagem. No caso de Miguel de Cervantes nem precisou ser um homem de excelsa formação, nem um valente militar, tampouco um herói perdido na Argélia. Ao menos é assim que se apresenta no livro de José Manuel Lucía Megías – a mais recente biografia do escritor publicada em língua espanhola. A primeira parte de La juventud de Cervantes: una vida en construcción (em tradução direta A juventude de Cervantes: uma vida em construção ) propõe uma forma novelesca para encarar o fenômeno. Sabemos de Cervantes o que ele quis que soubéssemos. Basicamente o que ele deixou por escrito com a intenção de prosperar. Mas, a realidade foi muito menos doce se atentarmos para o contexto histórico do qual fez parte. O autor quis desnudar o mito: “Quis tirar as capas do mito para ...

O quarto de Jack, de Lenny Abrahamson

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Por Pedro Fernandes Vez ou outra é bom meter-se com uma peça de arte sem ter experimentado passar pela necessidade de saber algum maior detalhe sobre ela. Essa experiência no escuro é muito válida por dois motivos: obter uma leitura mais individual sobre o objeto ou passar pelo sentimento da descoberta. Foi isso o que aconteceu com a primeira vez que vi O quarto de Jack . O filme, eu sabia, é uma adaptação do livro com o mesmo título de Emma Donoghue, publicado no Brasil pela Editora Record; e mesmo assim o que eu sabia sobre a obra em tinta e papel era o título e a imagem da capa vista algures no Instagram. Mas não sabia de mais nada. Quando depois de alguns minutos de desenvolvimento da trama tive a impressão de estar preso num universo forjado pela força criativa de uma criança; imagem que não posso tomar como desfeita, mesmo depois de chegar na outra margem da narrativa. Mas, extremamente sugestivo, o filme de Abrahamson, aos poucos substitui o que poderia ser uma simp...