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Outros cantos, de Maria Valéria Rezende

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Por Pedro Fernandes Certa vez contei em duas linhas sobre meu encontro com o nome e a figura Maria Valéria Rezende em 2010 num evento realizado na Universidade Federal de Campina Grande (ver o final desta post). Esse contato não terá produzido qualquer reação de maior esboço porque, notem, minha relação com esse território da literatura brasileira contemporânea era muito incipiente – condição que tem pelo menos dois motivos. Primeiro, raramente se lê ou se sabe sobre o que se passa na literatura dos nossos dias através dos cursos de Letras, ainda em grande parte centrados na leitura e discussão dos nomes considerados essenciais da história literária. Segundo, justamente por isso, essa tarefa de saber sobre os contemporâneos passa a ser determinada como uma responsabilidade individual do estudante e esta, convenhamos, é peça rara mesmo entre os mais abastados de curiosidade; ela poderá ser despertada se, entre os professores de literatura, houver o hábito de ler os contempo...

Spotlight - segredos revelados, Thomas McCarthy

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Por Pedro Fernandes Há filmes que foram criados para causar no espectador qualquer coisa que lhe arranque o mundo das aparências, a realidade dos nossos dias, essa formada de tanto malfeito e que aprendemos desde pequenos a fingir que eles não existem ou pelo menos quando sim estão um bocado distante de nós ou, num processo mais alto da ignorância, em certas organizações não há coisas dessa ou daquela natureza. É preciso dizer que todas as instituições são conduzidas por homens e se há uma coisa que estes não carregam consigo, é a perfeição. É público, desde a revelação em massa dos casos que a Igreja Católica – que nunca foi exemplo de instituição de boa-fé – acoberta de maneira mais diversa possível, os altos índices de abuso sexual contra menores assim como num passado já distante de nós envolveu-se nos esquemas escusos de tráfico de humanos, como bem demonstra outro filme na linha de Spotlight , dos apresentados mais recentemente, Philomena .  Mas, o esquema ...

Imposturas e simulacros em Umberto Eco

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Por Alfredo Monte “Existem por aí muitíssimos seguidores da teoria da Terra Oca. E é inútil dizer que os sites (e os livros que divulgam) foram criados por alguns espertalhões que especulam com um público de tolos e/ou devotos da New Age. O problema social e cultural não é representado pelos espertalhões, mas pelos tolos, que evidentemente ainda são legião”.  (Umberto Eco, Sobre a Literatura ) Após a morte de Umberto Eco (1932-2016), com sua trama conspiratória que vinha de longe no Tempo, não houve outro jeito senão voltar a um romance que, em 1989 (época do seu lançamento por aqui), causou decepção a quem aguardava com sofreguidão um novo  O nome da rosa . Mais tarde, numa resenha, condensei meu precipitado desagrado no seguinte veredicto: pernóstico e insuportavelmente chato. Ainda mais constrangedora, relida hoje (bom que “mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir”, nos ensina Guimarães Rosa), esta outra afirmação: a atualidad...

O Mito de Sísifo e as Carências

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Por Filipe Marinheiro Gritarei: absurda, suicida sobre as matérias e substâncias desta obra tão excepcional. Inacabada. Aonde encontro carências e algumas náuseas. De resto uma obra fenomenal. Obra de carácter filosoficamente complexa aonde o paradoxo aparentemente pessimista enquanto entendimento do pensar absoluto é uma outra coisa absurda, ténue ou liquefeita que não aquela que o leitor retirará enquanto estética e ou inutilidade doutro pensamento como um sentido oculto nas palavras entre as palavras submersas nas ideias simples. Como perceber, navegar dentro desta obra sem as traves mestras filosóficas que suportam todos os níveis e desníveis do “Mito” ?  Sísifo na mitologia grega era considerado o mais astuto de todos os mortais. Mestre da malícia e da felicidade, era considerado como um dos maiores ofensores dos deuses, tendo conseguido enganar a morte por duas vezes, fintando os deuses Tânatos e Hades. Ao morrer, Sísifo foi considerado um grande rebelde e foi con...

Charles Dickens, o escritor dos deserdados

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Por Neiva Dutra Charles Dickens nasceu em 7 de fevereiro de 1812, na Inglaterra da Revolução Industrial, em uma família que viveu constantes dificuldades econômicas.  Da infância dura a uma relativa prosperidade, das críticas ao reconhecimento, Dickens escreveu, sobretudo, sobre os deserdados.  Não foi o primeiro nem o único a fazê-lo, mas o que escreveu, quando e onde escreveu, demonstram a extraordinária força com que impôs sua visão da sociedade e das relações entre os homens e os motivos pelos quais a literatura universal o consagrou. Charles Dickens estudou até os dez anos e quando a família mudou-se de Portsmouth para Londres não voltou à escola. A irmã foi enviada para a Real Academia de Música, para estudar piano, e ele foi trabalhar em uma fábrica, voltando a estudar apenas anos mais tarde. A mãe, contudo, tentou por todos os meios fazer com que voltasse a trabalhar, o que ele jamais lhe perdoou. A experiência do menino Charles na fábrica ressurge...

Boletim Letras 360º #158

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Antes de ler mais uma edição que copia as notícias que publicamos durante mais uma ativa semana em nossa página no Facebook, chamamos atenção para o projeto 01:MIN DE POESIA. Está é a última chamada para participação dos leitores. Todas as informações estão disponíveis no mural do Letras no Facebook .  Segunda-feira, 22/02 >>> Brasil: "A morte da puta", um dos seis poemas inéditos Murilo Mendes encontrados pelo pesquisador Leandro Garcia Ele trabalha na organização das cartas trocadas entre o poeta e crítico (e amigo) Alceu Amoroso Lima. No caso deste, publicado no sábado pelo jornal Folha de São Paulo , pode-se ler como uma linha fora da curva ou uma provocação de Murilo a Lima: um poema sobre a morte de uma prostituta para um influente crítico católico publicar em uma revista literária católica, Ordem , editada pelo intelectual. O texto escrito em 1930 foi rejeitado e é apenas um grupo dos seis inéditos já encontrados pelo pesquisador. Terça-fei...