Postagens

A filha perdida, de Elena Ferrante

Imagem
Por Fernanda Fatureto A identidade de Elena Ferrante já não é mistério para ninguém, ao menos supostamente. Após o jornalista italiano Claudio Gatti afirmar no New York Review of Books que a autora – que publica por pseudônimo – é na verdade a tradutora Anita Raja, o universo Ferrante ganha cada vez mais adeptos pelo mundo. Em 2017 no Brasil foi lançado Um amor incômodo pela Intrínseca, mesma editora que publicou A filha perdida – terceiro romance da escritora originalmente lançado na Itália em 2006, mas que chegou por aqui em 2016. Por aqui também temos completa a tetralogia napolitana de Ferrante, editada pela Biblioteca Azul. Se o interesse cresce em torno da escritora italiana é devido ao modo como tece suas narrativas ao usar o realismo como base para transpô-lo num terreno pouco habitado pelas emoções, que levam as personagens a lugares desconfortáveis. Em A filha perdida ocorre o avanço e retrocesso da narrativa para contar a história de Leda, uma professora...

Na vertical, de Alain Guiraudie

Imagem
Por Pedro Fernandes Quem tiver visto Um estranho no lago , talvez o filme que apresentou o trabalho do cineasta francês para um público diverso, não poderia esperar outra coisa se não o que se vê em Na vertical , embora esta seja uma produção bastante distinta em relação ao filme de 2013. O que coloca os dois títulos em relação é a obsessão de Guiraudie em torno de uma ideia que, ao longo da narrativa, no mesmo instante em que demonstra uma permanência sobre, a aprofunda. Outra premissa é a de ser uma história mínima mas capaz de tomar a força do absurdo. Aliás, esta última característica se verificava já em O rei da fuga , cuja história se centra unicamente nos impasses de um homem de meia-idade, homossexual, que se apaixona por adolescente e foge com ela dos seus pais e da polícia. As narrativas construídas pelo cinema do francês sempre têm permanecido presas numa repetição e em cada volteio revela o elemento surpresa capaz de deixar o espectador sempre à espera pelo...

O lugar e o não-lugar do sujeito enunciador na narrativa de Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto

Imagem
Por Thiago Feli cio cena da adaptação de Triste fim de Policarpo Quaresma  para o teatro por Antunes Filho, 2011. Parece redundante e curioso o fato que Lima Barreto, depois de ter sido estudado e ter tido sua obra analisada sob diversos ângulos, ainda tenha coisas a se dizer sobre sua literatura. É que os clássicos gozam dessa prerrogativa, de sempre estarem abertos a possibilidades interpretativas que não se esgotam, ao contrário, se amplificam. A obra de Lima Barreto também proporciona esse encadeamento de interpretações que nos leva a enxergar na narrativa Triste fim de Policarpo Quaresma como a literatura não se esgota. Portanto, pretendo comentar aqui e analisar como se apresenta o lugar e o não-lugar do sujeito enunciador nesta narrativa que alcançou o título de clássico nacional. Para isso, uso como embasamento teórico as noções de lugar e não-lugar elaboradas pelo filósofo Marc Augé. Inicialmente deve-se saber que o romance em questão faz par...

Roberto Bolaño: “Escreve tu a poesia por mim”

Imagem
Por Toño Angulo Danieri Da esquerda para a direita: Roberto Bolaño, Álvaro e Bruno Montané. Arquivo Roberto Bolaño. Augusto Monterroso deixou por escrito os três destinos que esperam o latino-americano que pretende dedicar sua vida à leitura e à escrita: exílio, isolamento ou esquecimento. Não acrescentava exemplos, mas qualquer um que pense em Vallejo ou em Osvaldo Lamborghini ou no próprio Monterroso sabe a quem se referia o guatemalteco. As cartas que Bolaño enviou ao seu amigo e também escritor chileno Bruno Montané entre setembro de 1976 e uma data indeterminada de 1997, e que acabam de chegar à Biblioteca Nacional de Espanha (BNE), situam o autor de Estrela distante ao menos em duas esquinas dessa latino-americaníssima trindade literária. Nelas aparece o Bolaño desterrado (“para os velhos o exílio é algo insuportável, para os jovens é a promulgação natural da aventura”), mas sobretudo o “ermitão que permanece recluso” (assim o descrevem numa revista chilena e em...

Boletim Letras 360º #231

Imagem
Esta é a nova edição de uma postagem que existe, como o número enuncia, há 228 semanas para reunir todas as notícias publicadas entre a segunda e a sexta-feira (ou extraordinariamente sábados e domingos) em nossa página no Facebook, cada vez mais próxima dos 66 mil moradores. Que notícias são essas? As selecionadas na web ou enviadas para nosso e-mail e que correspondem às linhas de interesse do blog. Nova edição de  Confesso que viv i, de Pablo Neruda, é reeditada incluindo mais de cem páginas inéditas, entre elas, notas sobre Federico García Lorca. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 17/07 >>> Brasil: Fernando Pessoa pensador Escritos sobre Metafísica e Arte  é organizado por Cláudia Souza e Nuno Ribeiro. O livro reúne textos filosóficos de Fernando Pessoa e de outros "eus" pessoanos (Álvaro de Campos, Ricardo Reis e António Mora), cuja temática principal gira em torno da metafísica e da arte. Todos os escritos publi...

A religiosidade clandestina de Hermann Hesse

Imagem
Por Rafael Kafka Hermann Hesse. Foto: Gisèle Freund Há uma carta de Mário Andrade que circula pela internet que é bem interessante para servir de mote a esse texto. O destinatário da missiva é outro escritor brasileiro célebre, Carlos Drummond de Andrade, conhecido por seu temperamento taciturno e extremamente reservado. O assunto central da carta, dentre outros de menor importância, é o sentimento de religiosidade perante a vida. Mas Mário faz questão de falar ao amigo que tal religiosidade não é a veneração cega de alguma entidade qualquer e sim a existência plena em todas as suas possibilidades, o permitir-se a expansão sensorial e intelectual em todas as direções possíveis desta existência. O sentido de tal assertiva se torna ainda mais pleno quando entendemos que a religiosidade como geralmente a entendemos vivida por espíritos conservadores é uma limitadora das possibilidades humanas. Em prol de uma salvação póstuma, o ser deve abrir mão de uma série de vivências...