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As obras de Cortázar que terminaram no lixo

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Por María Laura Avignolo Cortázar em sua casa em Saignon. O sino da igreja medieval de Notre Dame de Pietá marca as horas, sem peregrinos. É o único som que rompe o silêncio outonal em Saigon, um povoado preso entre as rochas da Provence francesa, mergulhado num profundo sono. A agência dos correios agora está fechada, mas graças à sua luta, Martine Veyron, é uma sua representante que faz existir ainda a presença de um carteiro no lugar. Ela foi quem lutou para que o único ponto de contato entre Saigon e o resto do mundo continuasse sendo o pilar desta comunidade de mil habitantes no verão que se reduz a menos de seis centenas no inverno. E Julio Cortázar haveria apoiado. Em “La Poste” (o correio) se iniciou o vínculo entre Julio Cortázar e Saigon, seu secreto e pequeno esconderijo. Entre ele e seus habitantes, que ainda recordam-no como um gigante de dois metros que caminhava a grandes passos, falava com todos e gastava uma hora de sua casa – na periferia do pov...

Diva Cunha: a viva carne da palavra

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Por Márcio de Lima Dantas A escritora Diva Cunha desponta na cena literária norte-rio-grandense ainda quando professora de literatura portuguesa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde editou sua dissertação de mestrado, uma pesquisa sobre o mito sebastianista na literatura portuguesa, cujo título é Dom Sebastião: a metáfora de uma espera (1979). Publicou os seguintes livros de poesia: Canto de página (1986), A palavra estampada (1993), Coração de lata (1996),  Armadilha de vidro (2004) e Dádiva  (2017). Dizer da poesia de Diva é anunciar em voz alta uma dívida para com o feminino, é a palavra nominando um débito para com esse gênero, é o resgate corajoso de uma mulher em plena maturidade cronológica e detentora dos artifícios formais capazes de engendrar um efeito poético no qual estão soldados sensibilidade e reflexão acerca da condição feminina. Com efeito, na poesia de Diva, o signo poético é habilmente trabalhado para causar o resulta...

20 + 1 livros de contos da literatura brasileira indispensáveis

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Machado de Assis, um dos nossos (também) melhores contistas. Reiteradas vezes alguns críticos dizem que falta ainda à literatura brasileira um grande romance e acusam os escritores nacionais a dedicarem mais atenção aos livros curtos. A afirma encerra uma variedade de mal-entendidos. Primeiro, a grandiosidade de uma obra literária não se mede por sua extensão – e mesmo que se meça, a acusação finge esquecer da variedade de romances extensos em densidade e não em quantidade páginas. Depois, a predileção de escritores por narrativas mais curtas, e na literatura nossa há ao que parece isso, não faz um escritor tampouco uma literatura menor e a prova disso encontra-se dentro e fora do país. Se entre os escritores brasileiros reside uma predileção pela narrativa curta – Julio Cortázar destacava que esta é uma forma literária genuinamente comum à América Latina – então somos privilegiados. Sim, porque nada é mais saboroso que sorver um texto em pequenas doses e ser arrastado...

Literatura e nação

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Por Manuel Vilas Foi no século XIX quando a literatura descobriu seu poder para a representação social do presente e o fez através do romance. Essas sociedades das quais se falava nos romances tinham nome: França, Rússia, Inglaterra, Espanha. O século XIX foi o século do nacionalismo e foi também o das ficções de largo alento, que se converteram em espelho das identidades coletivas. Já não fazia falta a força bruta de um exército, ou a solenidade do Estado, ou a efígie de um rei para contemplar uma nação: o romance era um reflexo mais moderno, mais sofisticado, mais universal. O romance compunha nações: a Inglaterra de Charles Dickens, a França de Honoré de Balzac, a Rússia de Liev Tolstói ou a Espanha de Galdós. Os romancistas triunfaram, mas também carregaram nos ombros com os recém estreados fantasmas das nações. A modernidade aceitava o pacto entre romance e nação e em troca que o reflexo das sociedades fosse crítico. Mas a relação entre escritor e país já estava forma...

Jardins de Luz, de Amin Maalouf

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Por  Pedro Belo Clara O jornalista e escritor libanês, há muito um ilustre residente da eterna cidade da luz, deu ao grande público diversos títulos de maioral interesse, de que As Cruzadas Vistas Pelos Árabes ou O Périplo de Baldassare serão exemplos adequados. Nesta obra em particular, Maalouf reintroduz no imaginário colectivo uma figura que durante séculos permaneceu praticamente oculta dos anais da história humana. E com a devida razão para tal, mas já lá iremos. Por enquanto, fica a quase sólida certeza do pouco ou mesmo nenhum impacto que a anunciação do nome da misteriosa figura poderá provocar no conhecimento do leitor: Mani, por vezes designado Manes e até Maniqueu. Permaneceu impassível diante da revelação? Não se apoquente. Se este texto cumprir fielmente o seu propósito certas luzes acender-se-ão em si, caro leitor. Pelo menos, disso fazemos as nossas maiores esperanças. Embora não haja precisão na data, Mani terá nascido em 216 d.C., em pleno Im...

Boletim Letras 360º #251

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Neste dia 9 de dezembro de 2017 passam-se 40 anos da morte de Clarice Lispector. O Letras tem apoiado a iniciativa do Grupo de Estudos Sobre o Romance da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (divulgado numa edição deste boletim e, logo, nas mídias sociais do blog) que assinala a data de hoje e outra, a de também quatro décadas da publicação de A hora da estrela , uma das obras mais importantes da escritora brasileira: a realização do simpósio SIM, CLARICE! . Justamente nesta data o leitor encontrará na nossa biblioteca online um catálogo preparado para este evento em que se copiam fotografias, manuscritos e um texto de Milton Hatoum sobre a escritora traduzido do espanhol e apresentado pela primeira vez aqui no Letras. Depois de visitar as notícias desta semana na página do Letras no Facebook, você pode conferir este material indo aqui . Clarice Lispector, de norte a sul do Brasil. Eventos, novas edições e projetos ampliam o conhecimento sobre a obra e a escritora. A...