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Boletim Letras 360º #420

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    DO EDITOR   1. Saudações! Durante a semana chegaram ao blog três novos colunistas dos selecionados na chamada pública realizada no mês de janeiro. Os textos de André Cupone Gatti, Fábio Roberto Ferreira Barreto e Marcelo Moraes Caetano aguardam a leitura se ainda o caro leitor não o fez.   2. Ano a ano, são disponibilizados, na página do Letras no Facebook, alguns livros para venda. O interesse do bazar é levantar os valores com os custos de pagamento do domínio do blog.  3. A lista de 2021 já começou a ser atualizada. Veja aqui e, se possível ajude ao blog ― lembre que a divulgação sua tem um efeito importante. Caso não disponha de acesso ao Facebook, basta escrever ao nosso e-mail blogletras@yahoo.com.br .   4. Obrigado pela atenção. Abaixo, as notícias da apresentadas na página do Letras no Facebook durante a primeira semana de março que agora termina. Boas leituras! João Cabral de Melo Neto. Um dos registros da fotobiografia que reúne mais de cinco...

Normopatia ou normose: quando ser normal é o problema. Traços da farsa social acusada na literatura

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Por Marcelo Moraes Caetano Ilustração: Andrea Ucini   A normose é a estagnação em práticas e pensamentos que muitas vezes são incentivados e aplaudidos pela maioria da sociedade: aquilo que é “normal”, em muitíssimos casos. “Normal” a partir de que perspectivas? Da perspectiva do caos. “Normal” do ponto de vista dos comportamentos e dos pensamentos que guiam pessoas e sociedades, ainda que ao caos. “Normal” do ponto de vista de algo que pode até ser sido bom e eficaz num momento do passado das sociedades, mas que hoje já não faz sentido – o que ocasiona o caos. “Normal” do ponto de vista de apenas uma parcela (às vezes ínfima) da sociedade, sem estender seus benefícios a camadas mais vastas e diversas dessa mesma sociedade, criando o caldeamento necessário – para o caos. Esses “normais” estagnantes e caóticos, que impedem a instauração e a manutenção da paz, são exatamente a NORMOSE. O sufixo -OSE significa basicamente desgaste, tanto nos conceitos biológicos e fisiológicos, como...

Nem todas as baleias voam, de Afonso Cruz

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Por Pedro Fernandes Afonso Cruz. Foto: Vitorino Coragem.   Certamente não foi Julio Cortázar quem pensou o romance como um jogo de montar, mas foi quem executou com maestria a ideia quando escreveu O jogo da amarelinha . Quer dizer, o escritor apenas demonstrou estruturalmente o que é, afinal de contas, em menor ou maior grau toda a prosa romanesca. No seu caso, ao transferir para o leitor parte significativa da responsabilidade por este trabalho reafirmou a ideia segundo a qual toda obra se constitui entre a escrita e a leitura. A maneira inusual fez com que todas as obras que vieram depois, e que admitem esse tratamento inventivo logo nos destaque para o feito do escritor argentino.   Muito distante do que fez Cortázar, porque o plano narrativo aparece determinado pelos fios internos da narração, mas muito próximo pela ideia do jogo de montar, Nem todas as baleias voam é desses romances que nos surpreendem a cada passagem. E aqui duplamente: pelas inumações poéticas que ir...

Umas palavras sobre uma breve fase de um grande poeta: Ferreira Gullar e o Centro Popular de Cultura

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Por Fábio Roberto Ferreira Barreto Em março de 1962, vinha a lume o Anteprojeto de Manifesto do Centro Popular de Cultura ; embora suas atividades cronologicamente tenham se iniciado em 1961. Para rememorar o CPC, bem como para comemorar minha estreia como colunista no Letras in.verso e re.verso , escrevo sobre o poeta Ferreira Gullar e sua fase cepecista. Roberto Freire e Ferreira Gullar durante o lançamento de Cultura popular em questão  no CPC da UNE, 1963.   Apesar de não se enquadrar, Ferreira Gullar em um quadro: fase cepecista   Ferreira Gullar não é poeta que se enquadre. O estudioso João Luiz Lafetá, em “Traduzir-se – ensaio sobre a poesia de Ferreira Gullar”, afirma: “dentro do clima esteticista da Geração de 45, passou pela ruptura do Concretismo e do Neoconcretismo, pelo discurso populista do CPC [Centro Popular de Cultura] e pelo demorado, ainda inconcluso, processo atual de travessia de uma situação difícil para a criação poética”. Alfredo Bosi, vincu...

Aprendizagem da dúvida: Tensões entre desolação e fé no romance “Hóspede por uma noite”, de Shmuel Agnon

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Por André Cupone Gatti Shmuel Agnon. Arquivo: Casa Agnon   I. Se o século XIX, com a sua variedade de novas ideias, e com o seu irrefreável ânimo progressista e moderno, fragmentou a tradição judaica em facções das mais diversas possíveis e, desse modo, a tornou mais vulnerável ao descarrilado avanço da História, o século XX fez dessa mesma tradição um arruinado e obsoleto poço de desalento frente à barbárie de violentos eventos históricos, dos quais sobressaem as duas mais desumanas guerras de que se tem notícia. O esfacelamento do humano, tal como a gratuidade da destruição, faz do século XX um século órfão de certezas e transbordante de dúvidas que dificilmente, ou nunca, serão resolvidas. Imersa nesse cenário de incertezas, a herança material e espiritual dos judeus da Europa, no período entre-guerras, assistia à própria ruína. Os shtetl, redutos habitacionais dos judeus na Europa do leste, após a Primeira Guerra Mundial, encontravam-se fisicamente destruídos, habitados por ind...