Postagens

Boletim Letras 360º #496

Imagem
    DO EDITOR   1. Caro leitor, eis uma parte das notícias que passaram durante a semana nas redes sociais do Letras . Na edição passada, disse que durante a semana o leitor saberia qual livro substituiu o sorteio da edição especial do Ensaio sobre a cegueira . A semana ainda não acabou, então fique atento. Para participar dos sorteios basta apoiar o Letras — todas as informações aqui .   2. E, não esqueça, na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados aqui, você ganha desconto e ainda ajuda ao Letras com as despesas de domínio e hospedagem na web sem pagar nada mais por isso .   3. Bom final de semana com descanso e boas leituras! Luigi Pirandello. Foto: Mondadori.   LANÇAMENTOS   Uma das obras principais de Pirandello em nova edição .   O Diretor, em mais um dia de trabalho, orienta os atores no ensaio de uma peça com o sugestivo nome de O jogo dos papéis, de ninguém menos que... Pirandello. De repente, irrompe no teatro um g...

Século XX: a épica do escritor

Imagem
Por Gisela Kozak Rovero Caravaggio.  São Jerônimo (detalhe).  Quando eu estudava Letras nos anos oitenta, Mario Vargas Llosa visitou Caracas e deu uma palestra na Faculdade de Humanidades e Educação da Universidade Central da Venezuela. O auditório estava lotado, especialmente de estudantes. Anos antes, Julio Cortázar havia lotado a Aula Magna da mesma casa de estudos, com capacidade para cerca de três mil pessoas. Os escritores eram uma espécie de estrelas de rock: atraíam multidões, encontravam-se com presidentes, falavam na televisão e eram ouvidos até por pessoas que não os havia lido. Na década de 1940, Rómulo Gallegos tornou-se o primeiro chefe de Estado venezuelano eleito por voto universal, direto e secreto; sua fama como escritor foi a melhor carta de apresentação. O ciclo ficcional de Gallegos era inacessível para muitos venezuelanos analfabetos, mas se sabia quem era o autor de Dona Bárbara .   Gabriel García Márquez se relacionava pelo primeiro nome com ditado...

A provocação ilustre

Imagem
Por Diego Cuevas Duelo com porretes. Francisco Goya. Óleo sobre tela, 1820-1823. Museu do Prado.   O escritor britânico G. K. Chesterton (1974-1936) ocupou um espaço importante nas estantes da história literária graças a obras como O homem que era quinta-feira , A esfera e a cruz , a saga do padre Brown ou O homem que sabia demais . Mas ele também ocupou um espaço importante no mundo em geral graças ao seu metro e noventa e três de altura e seus mais de cento e trinta quilos de peso. Porque Chesterton era uma dessas barrigas roliças que andam orgulhosamente arrastando um homem atrás de si. Aconteceu ainda que o escritor gostava de cutucar os seus colegas com comentários jocosos: em uma ocasião, estando na companhia de seu amigo, o dramaturgo George Bernard Shaw, ele contemplou o físico esquálido daquele e ocorreu-lhe deixar escapar um rude “Ao olhar para você, qualquer um pensaria que a fome está assolando a Inglaterra”. Uma ofensa que Shaw respondeu com “Olhando para você, qualque...

“Os versos satânicos”, o livro que condenou Salman Rushdie à morte

Imagem
Por Fernando Díaz Quijano Salman Rushdie. Foto: David Levenson   Salman Rushdie se esquiva da morte há mais de 30 anos. Em 1988 publicou seu quarto romance, Os versos satânicos , e com ele despertou a ira furiosa dos muçulmanos mais fundamentalistas por seu conteúdo blasfemo, já que nele contava uma versão alternativa de uma passagem da vida de Maomé. É por isso que tudo leva a pensar que isso tenha mobilizado a pessoa que esfaqueou o escritor no dia 12 de agosto de 2022, em Nova York quando se preparava para uma conferência.   Em 14 de fevereiro de 1989, depois de protestos de mulçumanos em torno do livro, o aiatolá Khomeini, líder da revolução iraniana, emitiu uma fatwa (um decreto de fundamento religioso) condenando Salman Rushdie à morte. Nela, conclamava todos os muçulmanos do mundo à execução da ordem. Também oferecia uma recompensa de quase três milhões de dólares. Desde então, o escritor indiano-britânico precisou viver em reclusão, protegido por guarda-costas e carro...

László Krasznahorkai um trapaceiro da ficção

Imagem
Por Matías Serra Bradford László Krasznahorkai. Foto: Marjai János   Como demonstrou a divisão arbitrária de apartamentos durante a era comunista na Hungria — quando alguns habitantes de Budapeste ficavam com dois banheiros, mas sem cozinha, ou dois quartos, mas sem sala de jantar —, de certo absurdo típico pode originar uma literatura radical. É o que László Krasznahorkai antecipa e insinua ao seu leitor no retrato de um mosteiro em Quioto intitulado Ao norte a montanha, ao sul o lago, ao oeste a estrada, ao leste o rio : “Logo necessitaria uma unidade de medida diferente da habitual, que logo alguns passos diferentes daqueles que até então traçaram o perímetro de sua vida indicariam a direção a seguir”.   Krasznahorkai cresceu na Hungria, país de poetas como o Chile e a Irlanda, e foram os versos extremamente delicados de János Pilinszky, Attila József e Sándor Weöres, com uma mão adicional dos contistas crepusculares Péter Hajnóczy e Miklós Mészöly, que forjou sua esté...

Tchevengur, de Andrei Platônov

Imagem
Por Marcelo Jungle Andrei Platônov, Koktebel, 1936.   A Editora Ars et Vita lançou obra fundamental e quase desconhecida da literatura do século XX. Trata-se de Tchevengur , do escritor russo Andrei Platônov, escrita nos anos de 1927–29 e originalmente intitulada Construtores da Primavera . Merecem todos os elogios pela iniciativa os co-editores Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova, que também assina a tradução, por trazer ao universo lusófono a primeira versão em português desta obra-prima. Que seja a locomotiva que nos traga outras criações do autor, complementando uma séria lacuna do universo editorial da literatura russa no Brasil.   Tchevengur faz parte daquela categoria de livros exilados, sequestrados ou confinados durante o regime soviético e só obteve a liberdade em 1988. Esta lista é extensa e nela se incluem autores como Mikhail Bulgákov, Marina Tsvetaeva, Anna Akhmátova, Osip Mandelstam, Vassili Grossman, Aleksandr Soljenítsyn, Varlam Chalámov, Isaak Bábel ...