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Boletim Letras 360º #503

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DO EDITOR   1. Caro leitor, até o mês de novembro, lembrarei aqui sobre o sorteio que agora o blog realiza com o apoio da Editora Trajes Lunares. A casa disponibilizou dois Kits de livros para sorteio entre os participantes do nosso clube. Este clube de apoios é uma das alternativas para ajudar este blog com o pagamento das despesas anuais de hospedagem na web e domínio.   2. Para participar dos sorteios é simples. Envia um PIX a partir de R$15 a blogletras@yahoo.com.br; para saber mais sobre os livros da Trajes Lunares disponíveis, sobre outras formas de apoiar, visite aqui . E lembro que: a aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim garante a você desconto e ajuda ao blog sem pagar nada mais por isso .   3. Bom descanso e boas leituras! Annie Ernaux. Foto: Ed Alcock.   LANÇAMENTOS   Depois do Prêmio Nobel, o livro seguinte de Annie Ernaux no Brasil .   Se a capacidade de dizer muito com poucas palavras é um traço característ...

Annie Ernaux: entre a vida e a escrita

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Por Aloma Rodríguez Annie Ernaux. Foto: Arquivo Télérama/ Reprodução   O primeiro livro de Annie Ernaux que li foi A ocupação ¹ e não gostei: não gostei da narradora, me parecia uma narcisista que se deixava levar pelos ciúmes e, para falar a verdade, me parecia um pouco pesada. Terminei o livro e o devolvi à estante: contava 24 anos, tinha me tornado independente recentemente e queria encher minha primeira — e última — estante Billy meio vazia. A ocupação é a história de uma separação: W., de quem a narradora acaba de separar, inicia um novo relacionamento. A imagem da outra mulher invade a vida da escritora, o livro narra a sua luta, a luta para não se deixar ocupada pelos ciúmes. Talvez eu não tenha gostado porque me sentia muito reconhecida, porque temia que o que aconteceu com a narradora acontecesse comigo.   Embora eu me lembre qual foi o primeiro livro dela que li e até quem me deu — o escritor Félix Romeo — e quem foi a primeira pessoa que me falou sobre ela — meu ir...

Teoria e prática nas Anotações de um jovem médico, de Mikhail Bulgákov

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Por Joaquim Serra   Um médico recém-formado, de vinte e quatro anos, é enviado a um povoado distante de Moscou. Ao chegar, conhece a equipe de trabalho, que não esconde o espanto diante daquele noviço que assumiria o lugar do experiente Leopoldo Leopôldovitch. Encabulado, tentando fugir dos olhares que o cercam, ouvimos seus pensamentos; talvez devesse, mesmo sem problema algum nos olhos, colocar óculos sobre o nariz, ou assumir alguma postura física para impor respeito — já que a gravidade é um mistério do corpo, como diz a fórmula machadiana para um medalhão. Em termos técnicos, desamparado o jovem não está: “até que vocês têm um equipamento decente”, diz o jovem, “tudo graças aos esforços do seu antecessor, Leopoldo Leopôldovitch. Ele operava literalmente desde a manhã até a noite” (p. 22). Mikhail Bulgákov, ao escrever suas Anotações de um jovem médico nos moldes do que hoje poderíamos chamar de autoficção, sequer muda o nome do seu antecessor, como nos diz o prefácio de Érika...

Guerra e paz (na casa dos Tolstói)

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Por Rafael Ruiz Pleguezuelos Liev Tolstói e Sófia Tolstaia. Foto: Hulton Archive   “Todas as famílias felizes são iguais; cada família infeliz é infeliz à sua maneira.” A famosa abertura de Anna Kariênina confirma uma das grandes verdades do estudo da literatura: muitos dos grandes autores não só produziram obras imensas por seu valor e transcendência, mas também, consciente ou inconscientemente, deixaram nelas uma espécie de livro de instruções com o qual interpretar seu legado. Supondo que assim seja, a tarefa de quem estuda literatura (ou de quem a adora a ponto de perder o tempo interpretando-a) é desvendar essa espécie de livro-chave descontínuo que deixaram escondido no fundo de seus textos. Quando, no início do século XX, alguns críticos quiseram distanciar o estudo da literatura do biografismo, refugiando-se na ideia de que isso tornaria seus resultados mais científicos (como se isso fosse uma coisa boa em sua totalidade), não se davam conta de que a maioria dos escritore...

A escrita dos insetos

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Por Mauricio Molina À memória de Roger Caillois e Severo Sarduy Ilustração: Jean-Michel Folon   À primeira vista, você só pode ver um emaranhado de rabiscos distribuídos nas folhas de papel. Pode-se dizer que a escrita é uma selva em miniatura onde se esconde um animal mimético, metamórfico, confundido entre as letras, raramente percebido com clareza: o sentido.   Ler palavra após palavra envolve seguir um rastro na paisagem em miniatura da página, como se o olho decifrasse, ao longo das fileiras de manchas, pontos e rabiscos, uma cadeia de formigas ou o contorno de uma borboleta confusa mais além, mimetizada na escrita.   Um lugar comum faz do escritor um matador de insetos que ele esmaga na página em branco, mas milagrosamente, graças à percepção distante do olhar, essa série de manchas adquire significado. Ou pode-se dizer também que a escrita é o rastro de um inseto que escapou do frasco do tinteiro e laboriosamente escapa pela página. É um inseto invisível, que ...