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A arte de adaptar: Ruído branco

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Por Cristina Aparicio   “Coloque o filme.”   Assim começa Ruído branco , o mais recente longa-metragem de Noah Baumbach: com um imperativo, um pedido que serve de ponto de partida para a tradução cinematográfica do romance homônimo de Don DeLillo. Embora talvez “traduzir” não seja o verbo adequado para se referir ao trabalho inusitado e milagroso de adaptar para a (grande?) tela um livro cuja natureza ziguezagueante tornava improvável que se transformasse com sucesso em um objeto cinematográfico. Mas é justamente a condição imersiva e rizomática do texto original que permite ao cineasta compor um filme atípico que transita por gêneros de natureza muito diferente como um ousado equilibrista. Embora seja verdade que existe uma fidelidade quase absoluta ao romance, as verdadeiras façanhas do filme se encontram em algumas de suas mudanças mais notórias. E é no início da narrativa fílmica que ocorre uma dessas grandes características.   Um professor no escuro, com a única luz ...

Malraux, Eisenstein e A Condição Humana: o filme virtual, o roteiro invisível

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Por Guilherme de Almeida Gesso André Malraux e Eisenstein. Foto: D. Debaboya. Arquivo Cinemateca Francesa.   Breve nota                 Foi no ano de 2015 que, graças às pesquisas de Jean-Louis Jeannelle, um texto há muito esquecido saiu das prateleiras empoeiradas dos Arquivos de Arte e Literatura do Estado da Rússia. Refiro-me a um roteiro escrito por ninguém menos que André Malraux e Sergei Eisenstein durante a estadia do romancista em solo soviético, por ocasião de um congresso de artistas de esquerda.   As 35 páginas datilografadas em francês, seguidas por desenhos e notas de Eisenstein, só eram citadas en passant pela crítica, mas nunca de fato lidas, visto que a sonhada adaptação da Condição Humana não se concluiu. Malogrado em sua aspiração à imagem, o roteiro nunca recebeu o devido enfoque. O ímpeto de Jeannelle foi portanto trazer a lume o trabalho conjunto dos artistas e afirmar que uma “inadaptação” também possui valor es...

Em busca de Katherine Mansfield

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Por Cristian Vázquez Katherine Mansfield. Foto: Walter Benington.   Katherine Mansfield viveu uma vida curta. Ela tinha trinta e quatro anos quando, um século atrás — em 9 de janeiro de 1923 — a tuberculose a matou. Havia publicado três livros: Numa pensão alemã (1911), Felicidade (1920) e Festa no jardim (1922), títulos aos quais se deve acrescentar um par de longas histórias que apareceram em pequenas edições feitas à mão: Prelúdio (1917) e Je ne parle pas français (1918). E vários outros contos e resenhas publicadas em revistas mais o que deixou em meia centena de cadernos inéditos.   Essa obra foi suficiente para que ela se tornasse uma das mais importantes escritoras do século XX. A mãe do conto moderno, poderíamos dizer. Ricardo Piglia, em suas famosas “Teses sobre o conto”, afirma que a “versão moderna” do conto — aquela que abandona “o final surpreendente e a estrutura fechada” do conto clássico ao estilo de Poe, Maupassant e Horacio Quiroga — “vem de Tchekhov, Ka...

Boletim Letras 360º #518

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  DO EDITOR   1. Caro leitor, três anos depois, divulgamos uma chamada para novos colunistas atuarem no Letras . Se você escreve resenhas (sobre livros ou filmes) ou ensaios, por exemplo, e procura um espaço para exercitar sua escrita junto ao público, eis um convite. Saiba tudo aqui ou escreva para nós. 2. Outra novidade: na segunda-feira, 23, as atividades do ano 16 aqui no blog voltam ao fluxo diário.   3. Para que continuemos online, sua ajuda é importante. E uma das formas de você colaborar é na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste Boletim; poderá garantir ainda um desconto na compra sem pagar nada mais por isso. Legal, não é? Para conhecer outras maneiras de ajudar, visite aqui .   4. Muito obrigado pela sua companhia e desejamos um rico final de semana! Roberto Piva. Foto: Re D'Elia / IMS (Reprodução).   LANÇAMENTOS   Pela primeira vez, em um só volume, a obra de uma das vozes mais vigorosas e anárquicas da poesia brasil...