Postagens

Narrativa e ensaio em Italo Calvino

Imagem
Por Amancio Sabugo Abril Italo Calvino. Foto:  Elisabetta Catalano   1 Realismo paródico ou a transfiguração da realidade   A paródia é uma reflexão sobre a realidade, ou seja, um olhar em perspectiva irônica. Parodiar é escrever por sobre a escrita, no distanciamento desmistificador. Um irônico é um intelectual escritor. Os melhores romances de Italo Calvino são literatura e perspectiva, distanciamento irônico e reflexão. Escrever é um ofício, ou um benefício, dependendo de como se encara o assunto; um sofrimento ou uma alegria pessoal. É possível espantar os demônios interiores, elevando-os a estátuas de perfeição, mitificando-os sobre a podridão pessoal ou reduzindo-os a espantalhos, palhaços da própria caricatura. Italo Calvino opta pelo distanciamento de seus elfos interiores, transformados em bonecos bufões pela arte da palavra.   A história, a grande e humana, e a pessoal, mínima, pode ser uma epopeia, um drama ou uma comédia. Italo Calvino prefere vê-la como ...

Boletim Letras 360º #557

Imagem
DO EDITOR   1. Olá, leitores! Nesta semana, divulgamos em algumas das redes por onde transitamos que o próximo sorteio entre os apoiadores do Letras acontecerá em breve.   2.   Aproveito a ocasião para revelar quais títulos estarão disponíveis. São eles: Por que ler os clássicos , de Italo Calvino, edição especial capa dura com acabamento em tecido da Companhia das Letras; Mulherzinhas , de Louisa May Alcott, na lindíssima edição de luxo da Zahar; Orgulho e preconceito , também no mesmo projeto da mesma casa editorial; e Um, nenhum e cem mil , reedição da obra-prima de Luigi Pirandello pela Penguin, a que foi publicada pela extinta Cosac Naify.   3. Se interessa por algum desses títulos, ou quer apostar com a ajuda para presentear alguém? Fique atento às nossas redes e logo saberá a data do sorteio. Para conhecer como participar, convido a visitar aqui , o menu Ajudas. Dentro do possível, repasse essa informação.   4. Qualquer coisa, estamos sempre disponíveis n...

Sofrer ou morrer? A Cristandade em Tchekhov

Imagem
Por Guilherme França Henri de Toulouse-Lautrec. Nuit Blanche   Como mera introdução, recordo-me de assistir a uma entrevista do escritor Ruy Castro para a SescTV , na qual o autor disse algo interessante: havia trocado a escrita em jornais pela escrita de livros pois, na sua visão, as suas ideias não cabiam no espaço concedido pelos artigos ou colunas. De outro lado, pensando neste espaço para escrita, certo é que um livro não traz qualquer limite específico para o escritor. Entretanto, Castro faz um alerta:   não é porque o espaço do livro é ilimitado que o escritor vai “se esbaldar e escrever desnecessariamente”.     O trecho da entrevista me veio à mente quando refleti sobre o fato de que alguns gênios da literatura, de fato, não precisam escrever muito para deixar uma grande marca em seus leitores, diferente daqueles que se esbaldam e escrevem páginas e mais páginas sem realmente dizer algo. E a pequena analogia serve apenas para dizer que Tchekhov, em seu conto...

Dylan Thomas

Imagem
Por Jorge Brash Dylan Thomas. Foto: Arquivo Hulton Uma árdua disciplina de testar seus escritos em voz alta repetidamente levou este poeta, ficcionista e roteirista galês a alcançar efeitos incomuns na língua inglesa. Ele levava seu rigor musical a tal ponto que, entre as novas tendências da poesia, denunciava o que chamou de “a morte da audição”:   “A maior parte do trabalho de Pound, grande parte do trabalho de Auden e Day Lewis, e de todos os discípulos de Pound: Ronald Bortrall, [William] Carlos Williams etc., soa terrivelmente mal. Esta falta de audição, esta degradação de uma arte que depende principalmente da união musical de vogais e consoantes, poderia ser explicada falando dos efeitos da nossa civilização barulhenta e mecânica sobre o delicado mecanismo do ouvido humano. Mas a razão é mais profunda. Muita da poesia atual é plana, monótona, impressa na página: um amálgama de palavras em preto e branco criado por inteligências convencidas de que um poema deve, única e exclu...

“A estranha comédia da vida”: um, nenhum, cem mil espelhos

Imagem
Por Ana Rosa Gómez Rosal   Já o dissemos outras vezes e não nos cansaremos de repetir: dar ao original um sentido unívoco de novidade é um erro. Algo mais comum do que gostaríamos, mas que é a realidade, teimosa, insistente no seu velho e feio hábito de não se adaptar ao que esperamos dela. Talvez tenha sido daí que surgiu a ficção, numa tentativa muito ambiciosa de encontrar as reviravoltas possíveis, de tentar sair de uma situação que não nos era totalmente agradável, do alívio que os finais alternativos nos proporcionam. As coisas ficam complicadas quando descobrimos que esse monstro ao qual supostamente demos vida também é caprichoso e gosta de mostrar que somos seus escravos. Mas isso é algo que não cabe a nós lidarmos neste momento.   Por enquanto, fiquemos com o fato de que o original remete (surpresa...) às origens e que no final a ficção nos ajuda, pois é o centro gravitacional do último filme distribuído pela Alfa Pictures e dirigido por Roberto Andò, A estranha comé...