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Mostrando postagens com o rótulo Paulo Leminski

O “Jogo do Senhor e do Servo”, de Paulo Leminski, na visão de Serguei Eisenstein

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Por Wagner Silva Gomes  Paulo Leminski (reprodução) para um artigo sobre o Zen (1977) No “Jogo do Senhor e do Servo”, poema criado por Paulo Leminski, o olhar do senhor sobre o servo é a própria autonomia, sua margem de emancipação, que o senhor vai adquirindo quando se vê humildemente como servo, aprendiz, em busca do êxtase da apreensão do conhecimento ou da sabedoria contida na relação com o outro; ao viver e entender o estado de ser relativo, vai então dominando a perda do absoluto até tornar-se o próprio estado de ser senhor, feito de autonomia e emancipação, numa dinâmica infinita da liberdade e seus pequenos pontos, suas pequenas percepções dos lugares, os pequenos olhares fundantes. Nessa história de um mestre zen do poeta, o budista é um engenheiro das almas que domina a engenharia ocular como servo e senhor. Como Eisenstein que, estudante de engenharia e aluno de Levkuleshov, professor da Escola de Filme de Moscou (VGIK), ao ver no experimento do mestr...

A efemeridade é também coisa de poeta e de poesia

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Por Pedro Fernandes A reedição da antologia organizada por Italo Moriconi vem em boa hora. Desde a publicação de Toda poesia , de Paulo Leminski, em 2013, que um novo olhar tem se levantado para os nomes de uma geração a bem pouco tempo comuns apenas entre uma parte dos jovens mas ainda situados na mesma designação de figuras marginais. Não é o caso de, depois do fenômeno da obra, seguido de outros, como a também reedição da poesia completa de Ana Cristina Cesar e de Waly Salomão, que essas vozes tenham saído do coro para o qual a crítica sempre o designou. Mas romperam com a ideia de que o marginal é necessariamente aquele que figura à margem para abrir-se uma ventilação no cânone nacional. Isto é, possibilitou-se falar sobre a reavaliação da obra desses escritores, cumprindo-se, assim, o que anseia o antologista de Destino: poesia , que, seja dada a abertura ao conhecimento sobre as principais vozes da poesia brasileira das últimas décadas. Independente se dentro ou fora d...

Vida, de Paulo Leminski

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Por Pedro Fernandes Não queria datar essas notas sobre esse livro de Leminski, mas parece impossível estando numa época em que os humores andam alterados ante a confusão sobre as biografias não autorizadas. Evidente que os editores que puseram as mãos na massa para que estes livros do poeta curitibano, igualmente fora de circulação já algum tempo, voltassem à tona depois do sucesso merecido de Poesia Completa , editado também este ano, não tinham noção do que se gestava no interior dos envolvidos na polêmica. O fato é que tudo parece ter vindo no momento oportuno, embora Vida seja um conjunto de textos que não devem estar reduzidos aos polos envolvidos na questão. Na atual situação e mesmo antes quando Leminski redigiu as quatro biografias reunidas nesse livro, é possível que não houvesse familiares interessados em comprar um bate-boca gratuito; talvez reste alguns partidários das ideias dos biografados que divergissem/ divirjam sobre um ou outro aspecto, mas não teriam cond...

Paulo Leminski

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Paulo Leminski, Foto de 1976. Não foram poucas as vezes que vimos lendo novidades em torno de Paulo Leminski, desde quando em meados de 2013, se anunciou a publicação de Toda poesia (comentamos aqui ), livro que já se tornou Best-Seller entre os brasileiros, e que tem despertado o interesse pelo elogio crítico e pelo comentário de discordância do fenômeno alçando o poeta à classe de tipos como Paulo Coelho. Isso pode ser motivo para outra entrada mais adiante nesse blog. Por enquanto, tratemos é de deixar registrado (e cumprir assim outra promessa já há muito feita por aqui) sobre os traços biográficos e bibliográficos do poeta curitibano. Quando foi publicada em 2001, O bandido que sabia latim , de Toninho Vaz, a primeira incursão em torno da vida de Paulo Leminski (obra que está na lista das reedições até o fim deste ano), o poeta já era um mito entre as novas gerações em Curitiba. Onze anos depois, e o sucesso de Toda poesia explica, esse mito se expandiu e tornou-se infl...

Poesia: a paixão da linguagem

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Por Paulo Leminski Trago pra vocês uma porção de raciocínios que fiz lá no meu silêncio, na Cruz do Pilarzinho, em Curitiba, um silêncio tão denso que dá pra cortar com a faca. De noite, quando um cachorro late, os outros cachorros fazem psiu. A FUNARTE e o Adauto me convidaram para dizer alguma coisa dentro desse Ciclo, e eu fiquei pensando, por que essa mania pela palavra paixão hoje? Os livros têm paixão no nome, os filmes têm paixão no nome: o Domingos Pelegrini editou um livro chamado  Paixões ; a Alice Ruiz, um livro de poemas chamado  Paixão chama paixão ; o Affonso Romano de Sant' Anna, um livro chamado  Paixão e política ; um filme do Bruno Barreto se chama  Além da paixão . Por que a palavra paixão está na moda? Acho que não é a paixão que está na moda, é a palavra paixão que está na moda.  Como detetive, cheguei à conclusão, às avessas, de que não é que a nossa época seja muito apaixonada. Se a gente está valorizando tanto isso aí, é p...

Toda a poesia, de Paulo Leminski

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Por Pedro Fernandes Paulo Leminski. Foto: Dico Kremer Paulo Leminski. Não é necessário revirar muito a web para ler e saber sobre o poeta nem é preciso ir muito longe também para encontrar um verso, uma frase, um poema, qualquer coisa que seja de sua autoria. Confirma-se hoje o que há muito nunca se suspeitou: Leminski está já entre os grandes poetas brasileiros. Dizemos isso porque o escritor foi apresentado na cena literária como sendo fazedor de uma literatura menor, isso ao lado de nomes como Ana Cristina Cesar, Chacal, Cacaso, entre outros. O grupo, entretanto, contribuiu para ‘desinfetar’ o lugar do poema no Brasil. É que, mesmo depois da virada modernista quando a poesia ganhou outras feições e saiu do lugar do empolado, que fazer verso ainda era coisa de ‘iluminado’; a poema ainda era o texto dado para poucos e sua circulação feita em espaços próprios. Noutras palavras, despojou-se o verso, mas o poema permaneceu de paletó e gravata – estamos pensando aqui em nome...

Pelo Dia Nacional da Poesia, um grande poeta (Parte 2)

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Desde 1h da manhã do dia 14 março de 2010, iniciamos no Orkut uma brincadeira leve e doce. É Dia Nacional da Poesia, e pela data seguimos o que falamos em nota aqui , seguimos enviando poemas de Paulo Leminski; ele o poeta que nos guia nesse brincar. A cada instante temos espalhado como torpedos virtuais com os versos breves do grande poeta. 1h33: "noite alta lua baixa/ pergunte ao sapo/ o que ele coaxa" 12h55: "pelos caminhos que ando/ uma dia vai ser/ só não sei quando" 14h35: "isso de querer/ ser exatamente/ aquilo que a/ gente é ainda/ vai nos levar/ além" 15h33: "não fosse isso/e era menos/não fosse tanto/e era quase" 16h18: "- que tudo se foda, /disse ela,/ e se fodeu toda" 16h35: "vazio agudo/ ando meio/ cheio de tudo" 16h37: "você está tão longe/ que às vezes penso/que nem existo//nem fale em amor/que amor é isto" ** E a brincadeira continuou até o fim do dia: 18h36...

Pelo Dia Nacional da Poesia, um grande poeta (Parte 1)

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noite alta lua baixa pergunte ao sapo o que ele coaxa Estes versos podem muito bem serem associados a outros versos imortais "Um galo sozinho não tece a manhã/ ele precisará sempre de outros galos", sendo que estes, do genial João Cabral de Melo Neto poderiam e vem antes. Mas, fundido o poema de João com este da epígrafe teríamos uma tensão e/ou pulsão poéticas de força tamanha como se se encontrassem duas grandes estrelas para formação de um sistema outro de sentidos. A quem ainda não conhece os versos que abrem esta post, apresentamos: trata-se do outro genial poeta, o curitibano Paulo Leminski. Se em João Cabral, os galos estão para a "trupe" dos próprios poetas e um canto de que uma manhã não se tece em apenas um grito, mas em vários, em Leminski os mesmos poetas - na "trupe" dos sapos - estão fundidos num coaxar na noite baixa e só por debaixo da cortina da noite. Coaxar - vejam como um poema puxa outro ou um grito puxa outro - que logo n...