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Vasco Graça Moura

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Vasco Graça Moura não é um nome totalmente alheio ao Brasil; embora não tenhamos conhecimento da publicação de alguma obra do escritor para esses lados, em 1989, entretanto, recebeu aqui a condecoração da Ordem do Rio Branco e a Medalha da Marinha. Nesta época ocupava cargo na Comissão dos Descobrimentos e passava por um intenso verão nas produções em poesia – como outros que já havia atravessado – o que também não se reflete na sua obra, porque deixou-nos, só de poesia, quase trinta livros. Sua carreira literária começou com o dinheiro dos primeiros ordenados como trabalhador numa fábrica de conservas em Matosinhos. Modo mudando , foi, em 1963, distribuído pela livraria e galeria Divulgação, um espaço ponto de encontro de escritores e intelectuais do Porto. Não demorou a chegada do segundo título, Semana inglesa , publicado dois anos depois, o que não se tornará uma constante esse arroubo poético. Depois do segundo título, até que venha o próximo – e aqui está seu primeiro ...

Em Busca do Ouro, de Charles Chaplin

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Aventura passada no Alasca traz a famosa cena em que o personagem Carlitos executa a dança dos pãezinhos É uma tarefa sempre injusta escolher títulos de Charles Chaplin para uma lista de películas essenciais. Como deixar de fora O Grande Ditador (1940), sátira contra os nazistas com aquele antológico monólogo do final? E ainda o meigo e apaixonado Luzes da Cidade (1931), um exemplo de como deveriam ser as comédias românticas? Mas, como o próprio Chaplin afirmou, o filme pelo qual ele mais esperava ser lembrado é Em Busca do Ouro . Lançada em 1925, a produção é uma das muitas protagonizadas pelo personagem Carlitos, o vagabundo patético e carismático que se mete em confusões e nunca perde o bom humor e a alegria de viver. Durante a corrida do ouro do final do século 19, Carlitos vai ao Alasca tentar a sorte no garimpo. Lá, ele conhece Big Jim, garimpeiro experiente que encontrou a montanha de ouro, mas perdeu a memória. Ao mesmo tempo, Carlitos se apaixona pela bela Geor...

Dez livros marcados pela bebedeira

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Jack Kerouac, entre a escrita, muita bebida. Depois da postagem sobre o trabalho de Fernando Pessoa em criar um slogan para uma bebida hoje corriqueira em mais de meio mundo, lembramos sobre o gosto do poeta não pelo refrigerante mas pelo vinho. Sabe-se que o português levou o resto da vida entregue à embriaguez perfazendo assim – pela bebida – uma revisitação de outros planos do sentido como sempre foi gesto dos verdadeiros poetas. Além de Fernando Pessoa, é possível lembrar de Charles Baudelaire e Charles Bukowski, de Vinicius de Moraes e William Burroughs. O primeiro dizia em "Embriagai-vos" que "É necessário estar sempre bêbado / Tudo se reduz a isso; eis o único problema / Para não sentirdes horrível do Tempo que vos  / abate e vos faz pender para terra, é preciso que vos embriagues / sem cessar". Mas, muitos outros poetas fizeram da bebida uma profissão de fé; e antes de todos esses nomes, Horácio, na Roma antiga já dizia, numa apologia à necessidad...

Mídia e educação

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Por Pedro Fernandes A idéia para a composição deste texto partiu quando de “zapping” parei num desenho animado que passava em determinado canal de televisão e que mostrava uma comunidade de formigas. Algo me chamou atenção. Foi justamente as feições humanas atribuídas aos insetos e isso me fez retomar outros desenhos animados. Por exemplo, lembrei-me bem dum episódio da Disney em que o pato Donald julgava-se dono do Pluto; de quando Bob Esponja não conseguia amarrar o cadarço do tênis; etc. A humanidade é mesmo prepotente, pensei comigo, é a única que sente necessidade de atribuir caracteres e modelos seus aos animais ou aos seres inanimados. Mas o que me mais me interessou no desenho das formigas é que estas se apresentavam com problemas de convivência tais quais os nossos; isso a Biologia prova que não existe, aliás, as colônias do mundo animal são sempre modelos para uma sociedade a Thomas Morus. Outro detalhe que captei ainda desse episódio foi a pungência do general formiga em...

José Saramago de “O ano de 1993” é um poeta ruim?

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Por Pedro Fernandes 1. Por motivo de viagem, sai mais uma vez o Letras in.verso e re.verso para uma pequena estadia sem postagens. É possível que, quando voltar, muito provavelmente na segunda-feira próxima, já no mês de Machado de Assis, recorra a atualizações mais frequentes. Veremos. Deixo ao leitor um tema que poderá dar o que falar. 2.   Refleti aqui , certa vez, sobre a fala de um professor e crítico literário que discorria acerca do que denominava pontuação insólita de José Saramago; em seguida, apresentei um Saramago não tão conhecido dos leitores , o poeta. 3.  Hoje retomo a esta última post para fazer o que fiz na primeira, sugerir algumas questões anotadas de outro artigo, esse do professor de Teoria da Universidade de Campinas (Unicamp) Alcir Pécora, em que ele afirma ser o escritor português tudo, exceto poeta, num artigo para o jornal  Folha de São Paulo  logo quando do lançamento do livro  O ano de 1993 , publicado em Portugal...

Cadáveres adiados

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Cândido Portinari Olhos secos inchados, fúnebres [olhos amarelos, secos] retr(atos) da fome. Corpos secos estirados à sarjeta da África à cobiçarem comida, fonte de v(ida). cadáveres secos-vivos retratos do des(caso) cobiça. A mãe África sem futuro-teto-perspectiva é um mundo assombrado, de fantasmas tísicos secos, do(entes), cambaleantes de fome. Terra tão rica fica tão abando(nada) é lembrada somente pelo ouro, diamante roubada, saqueada. Men(inos) da mãe África olhos secos de água lágrimas sustento dos sonhos abortados 'inda criança sem esperança de vida [nada] somente à espera de comida são cadáveres adiados. Nas cerca(nias) da fome [sem nome] mãe África expõe ao horizonte o rastro sujo de sangue, o podre lixo, luxo do poder enquanto uns têm para dar [e não dão] e vender; outros matam, vendem o que não tem o corpo.a vida. os sonhos. a alma para comer, senão matam a si próprios e se comem. Urubus nus de asas abertas em vôos rasa...