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O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman

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Tema tabu na cultura ocidental, a morte é tratada com ironia inédita no cinema, misturada a uma visão realista sobre a idade média Ingmar Bergman estava mesmo inspirado em 1957. Nesse ano, o cineasta sueco lançou dois de seus melhores filmes, Morangos Silvestres e O Sétimo Selo , bem diferentes entre si: o primeiro é uma descrição realista e contemporânea de um dia na vida de um professor que revê sua vida ao viajar à cidade natal, para receber um prêmio. Já O sétimo selo (vencedor do prêmio do júri em Cannes) se passa da Idade Média. O cavaleiro Antonius Block (Max von Sydow) volta das sangrentas cruzadas com a própria fé abalada, e encontra seu país devastado pela peste. Acompanhado de um escudeiro (Gunnar Björnstrand), Block observa a destruição prevista na Bíblia (o título do filme é tirado do livro do Apocalipse) e dá de cara com a Morte, que veio para levá-lo também. Por que uma alegoria e por ser focada na Idade Média, é fácil acreditar que O Sétimo Selo tenha men...

Clarice Lispector: entrevistas ― Erico Verissimo

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Todos conhecem, mesmo de que ouvir falar, a saga O tempo e o vento . Na mesma proporção, obras como A hora da estrela e A paixão segundo G.H. Mas, saberia o leitor que os dois autores dessas obras foram amigos de longa data e intimidade? Pois foram. A amizade entre Erico Verissimo e Clarice Lispector ― e por extensão, o convívio das duas famílias ― foi profusa. Tanto que ela chegou a convidar Erico e sua esposa, Mafalda, para serem padrinhos de seus filhos Pedro e Paulo Valente. Os registros dessa convivência estão nas fotografias, como as registradas na estadia em Washington e nas quais vemos em cores os fotografados, e nas muitas cartas trocadas.   Para agora, copiamos uma entrevista da própria Clarice. Está reunida num livro bastante singular, Clarice Lispector: entrevistas , publicado no ano passado pela Editora Rocco. Aqui, conversam sobre a recepção da obra de Erico Verissimo pela crítica especializada, a carreira e os desafios do ofício de escrever, sobre a fama, as alegr...

Jorge Fernandes e seu livro de poemas

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Por Pedro Fernandes O ano é 1920. A capital do Estado se resumia a uma cidade provinciana; quase parada. A noite natalense resumia-se às festas da Igreja e, como atesta-nos o poeta Veríssimo de Melo, aos raros dias de agitação da política nacional. No cenário literário apenas os cafés eram os centros da boemia, das atividades culturais e dos saraus recheados de sonetos. Isso também nos é constatado nos vários textos que Câmara Cascudo escrevia nos jornais da época.   Num deles, “Cabelos curtos ou compridos”, em 1924, no jornal  A Imprensa , Cascudo apresentava o resultado duma pesquisa no mínimo engraçada, mas que refletia bem o espírito do povo norte-rio-grandense por essa época: fez ele uma entrevista com quinze pessoas – poetas, jornalistas, comerciantes, teatrólogo, médico –, perguntando acerca do cabelo feminino, se o preferiam curto à moda inglesa ou se longos e encaracolados. O resultado foi que seis votaram pelo primeiro, seis pelo segundo e três pelos dois, o que nos ...

H. Dobal

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Por Pedro Fernandes H. é a abreviatura de Hindemburgo. Associado ao Dobal, assim é que se chama o poeta piauiense: Hindemburgo Dobal, reconhecido H. Dobal. Poucos leitores terão ouvido falar seu nome ou lido sua obra.  O que não é surpresa. Há centenas deles Brasil afora. E neles, ao meu ver, está o valor da poesia brasileira contemporânea. Aqui, ficam algumas anotações colhidas do encontro da obra deste poeta numa das muitas idas à biblioteca; o pequeno texto informativo não tem ambição nenhuma se não registrar ou trazer aos olhos de outros leitores quem é H. Dobal e algumas de suas obras. H. Dobal nasceu no dia 17 de outubro de 1927 em Teresina. Formou-se em Direito e trabalhou como funcionário público, passando nesse período por Brasília e Rio de Janeiro. Sua presença na literatura começa como participante do Grupo Meridiano. O movimento que ajudou a fundar se fez conhecer pela publicação de uma revista de mesmo nome. Foi um espaço que deu a conhecer as influênci...

Notas

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Por Pedro Fernandes * Aos leitores fixos e aos leitores transeuntes desse espaço 1. Coisa pessoal: Aproveito a ocasião para neste espaço agradecer aos bons momentos vividos nestas duas últimas semanas de intensa movimentação acadêmica (isso até deixa o escritor que aqui fala sem fôlego) mas tudo, enfim, compensa; afinal  a arte não nos cansa, ainda mais a literatura. Semana passada foi a vez da VI Semana de Estudos Linguísticos e Literários em Pau dos Ferros (RN) e quero confessar da tarde belíssima que foi a do Grupo de Trabalho em que apresentei comunicação; entre literatura e José Saramago foi tudo excelentemente bom. As meninas Cecília, Layze, Helissa, do Campus de Currais Novos da UFRN - estudiosas da obra de Saramago, Mia Couto e Florbela Espanca, respectivamente, (as coloco como estudiosas, mas não se estuda literatura - lê-se!, respira-se!, vive-se!, como em todas as artes) que me acompanharam no GT e de discussão daquele evento, me sinto muito grato. Já nesta semana q...

Metróplis, de Fritz Lang

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Ficção futurista critica a exploração do operariado, que na trama vive no subterrâneo enquanto os chefes moram no alto Apontar Metropólis como a primeira obra de ficção científica da história depende das delimitações que definem o gênero. Mais adequado seria considerá-lo uma "ficção de antecipação", que traça o futuro pessimista para a civilização. Feito em 1926, sua ação se passa no ano 2000. Menos discutível é a influência que sua estética produziu nos filmes que lhe seguiram e é ainda patente, por exemplo, em Blade Runner (1982), de Ridley Scott, e em Minority Report - A Nova Lei (2002), de Steven Spielberg. A ideia de uma cidade futurista dividida rigidamente entre dominadores e dominados continua a ser inspiradora. A parte que cabia aos dominados, é uma ideia de mundo infernal no qual os homens, tratados genericamente como operários, executam tarefas desgastantes no subsolo, enquanto no andar superior os donos das fábricas se reservam o direito dos prazer...