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Diário pedagógico: o primeiro dia aula, constatações

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Por Pedro Fernandes Perguntei: What is your name? E o que dominou foi o silêncio. A aluna sentada no canto da sala, olhava para mim com o rosto nu de expressões. O ano letivo ficou acordado na reunião pedagógica para dar início em 02 de março de 2009. 02 de março de 2009 viajei novamente ao município. A distância de aproximadamente 45 km da capital me permite em 1h30 de viagem estar no local de trabalho. Cheguei à escola às pressas. Mochila com planos de aula, livros e anotações para o que seria meu primeiro dia de aula numa escola que, como fiquei sabendo na reunião pedagógica, os alunos em sua maioria são quase ou são analfabetos e que os índices de evasão gritam. Esqueci de dizer no texto passado, quando falei desses índices, dos números de uma turma de 6º ano, mas aproveitando que toco novamente no assunto, falo agora: nesta turma de 6º ano, disseram-me, em 2008 havia 65 alunos e o ano letivo findou na média de 8 a 10 alunos apenas. Pois bem, cheguei com esses e outros...

Camões, um gênio do lirismo amoroso

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Camões e as Tágides. Columbano Bordalo Pinheiro, 1894. Camões, como poeta lírico, dominou com excelência tanto as formas da medida velha como as da medida nova. Versos redondilhos ou decassílabos, sonetos, sextilhas, odes, éclogas, elegias, oitavas; em todas as formas poéticas por que se aventurou o poeta português deixou a marca de sua genialidade. Os poemas compostos pelos trovadores medievais e pelos poetas palacianos eram, como se sabe, caracterizados por utilizar os versos redondilhos – de cinco e sete sílabas métricas –, de mais fácil memorização. Também camões escreveu inúmeras redondilhas, compostas geralmente de um mote e de uma ou mais estrofes que constituíam glosas – ou voltas – a ele. Não raro lhe ofereciam motes para que glosasse. Volta a cantiga alheia Na fonte está Lianor Lavando a talha e chorando, Às amigas perguntando: – Vistes lá o meu amor? Voltas Posto o pensamento nele, Porque a tudo o amor obriga, Cantava, mas a cantiga Eram susp...

Camões, cantor de seu povo e voz de seu tempo

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Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta Camões lê Os Lusíadas . António Carneiro Será difícil encontrar, em toda a história da literatura em língua portuguesa, um poeta tão magistral quanto Camões. Para que possamos conhecer melhor sua obra, preparamos esse dossiê dividido em duas partes. Veremos, em primeiro lugar, o que a crítica denomina poesia épica e, na sequência, seus poemas líricos. Camões não foi o primeiro poeta a ter a ideia de escrever um poema épico sobre a expansão portuguesa – o humanista italiano Angelo Policiano já se havia oferecido a D João II para fazê-lo –, mas foi da sua pena que nasceram os inesquecíveis versos sobre as conquistas ultramarinas de Portugal. O gênero épico, para os autores do Classicismo, traduzia-se de forma perfeita nas obras de Homero ( Ilíada e Odisseia ) e Virgílio ( Eneida ). O modelo não variava muito: esperava-se que o poema apresentasse uma disputa entre os deuses em relação ao comportamen...

A ronda da noite, de Agustina Bessa-Luís

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Por Carlos   Câmara  Leme 1 Quando em 2006 veio a lume A ronda da noite , não era a primeira vez que Agustina Bessa-Luís se tinha enredado, para construir os seus romances, com os claros-escuros da pintura, assim como da fotografia – Azul (Não-lugares) , álbum com um texto curto de Agustina e fotos de Luís Ferreira (Ambar, 2002). São instantâneos duma viagem a Rodes, Grécia, em 2008, aquando do primeiro Fórum Internacional para a Paz das Mulheres Criadoras do Mediterrâneo. Há o óbvio: o cruzamento entre a literatura e a fotografia, a pintura, a arquitetura, o design , a dança, ou o conjunto das artes performativas são “escritas” que se revêem, entrelaçam ou contradizem, criando entre eles vasos comunicantes e objectos em que ler/ver implica sempre uma cumplicidade. É assim com o cinema que, na obra e vida da escritora, teve decisiva importância, desde os filmes que viu deliciada, em jovem e adolescente, até ao “feliz casamento” quando se encontrou com a c...

Caderno-revista 7faces

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Por Pedro Fernandes Charles Baudelaire. Pintura de Gustave Courbet Quero compartilhar com os leitores e transeuntes deste blog uma ideia que, para ser sincero, desde quando iniciei essa aventura na web ,  já varava ponta a ponta minha cabeça. Trata-se da organização de uma rede outra, esta de poetas, de todas as tendências, raças, credos, nacionalidades, temáticas, enfim do que poder caber no infinito universo da internet. Chamo esta ideia de 7faces . Pretende ser um caderno de poesia, com publicação e distribuição eletrônica, e o que é melhor, sem fins lucrativos. A seguir posto como  o escritor interessado  deve se inscrever no projeto para remeter seu material à primeira edição, programada para publicação em junho próximo. 1. Os poemas para a primeira edição deverão ser encaminhados em anexo para o e-mail pedro.letras@yahoo.com até o dia 26 de junho de 2009 .  2.  Junto com o poema o autor deve encaminhar a ficha de inscrição preenchida, declaração de aut...

Diário pedagógico: a equipe

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Por Pedro Fernandes Na sala que estive do 9º ano, estava na parede:  A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, X, W, Y, Z. Fui introduzido na reunião em 18 de fevereiro de 2009, quando do último dia do que a Secretaria de Educação do Município chamou de Semana Pedagógica. Não revelarei nesta série, pelo menos a princípio, os nomes dos locais e das pessoas envolvidas nos fatos. Se estou tornando uma realidade à vista alheia, acho que me resta um pouco de ética em preservar esses nomes, ainda que isso se trate de um esboço de relato-denúncia. Basta que o leitor saiba que as ações as quais me refiro neste e noutros textos desta série decorrem na única escola da zona urbana de um município que está a 45 Km, aproximadamente, da capital do Rio Grande do Norte. Apresentados os lugares, voltemos à reunião de 18 de fevereiro de 2009. Não sei quais os objetivos a que se prestavam os que ali estavam reunidos, mas pelo correr das discussões não demorei mu...