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A maçã no escuro, de Clarice Lispector

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Por Pedro Fernandes Nas visitas constantes às livrarias neste período de férias tenho visto uma febre chamada Clarice Lispector. Ela está nas prateleiras mais visíveis. Desde a razoável biografia do estadunidense Benjamin Moser passando pela excelente fotobiografia organizada pela brasileira Nádia Battella Gotlib e pela publicação dos primeiros textos da escritora como a reunião de textos Só para mulheres - conselhos, receitas e segredos e Correio feminino  até a reedição de sua obra. Clarice Lispector também já deve ocupar ao lado de Machado de Assis a cadeira daqueles escritores mais bisbilhotados pela crítica. Pois bem, nostalgicamente me volto para uma velhinha edição de 1978 da escritora que recuperei dos escombros do que era uma biblioteca. Na época de meu início de adolescência escrevia versos beberrões que despencavam altas horas da madrugada no meio de meus sonos entrecortados pelas fantasias amorosas. Ainda não conhecia Clarice. Dela, apenas linh...

A jangada de pedra, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes A jangada de pedra é um romance que pode ser visto por ângulos diversos. A capacidade narrativa de José Saramago manifesta em sua fluidez expressiva faz de cada uma de suas obras uma experiência literária genial, mas talvez o mais importante, é que o seu lugar de pessoa sempre sobressai o lugar do escritor e se faz notar a mensagem política e humana que nos deixa esta metáfora da união entre a Europa e a América Latina, um dos vieses principais de leitura deste romance ora comentado. A Península Ibérica se aparta do resto da Europa. É como se a Saramago gostasse de jogar com a realidade, embora a realidade seja um dos aspectos principais deste romance, assim como é, para a escrita de outras obras como Levantado do chão ou Memorial do convento , para citar duas delas. Mesmo que o fantástico aqui se interponha com maior maestria que nas outras obras – basta assinalar a grande imagem que é, do acaso, toda uma parte do continente partir-se e sair v...

O caderno-revista 7faces tem espaço próprio e anuncia a primeira edição

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A poeta Zila Mamede será a homenageada na primeira edição do caderno-revista 7faces. O lançamento virtual do caderno-revista 7faces tem data marcada. Dia 29 de janeiro de 2010. Com um bom tempo de atraso (essa edição fora prometida para agosto do ano passado) enfim chegará o grande momento. "Foram muitas as dificuldades para produção desse material, que eu, como editor da ideia, espero que os leitores gostem", assinala Pedro Fernandes. Imagina-se: a proposta do periódico não envolve mais que a força de vontade de um aventureiro em todas as searas; relembra Pedro que começou a entrar no território movediço da web  com a organização deste blog, o Letras in.verso e re.verso . Foi o bom retorno da publicação eletrônica Palavras de pedra e cal , um livreto que reúne todos poemas que publicou no Letras e em outras mídias, mais a constante visita dos leitores que por aqui transitam em busca de expor sua matéria poética o que motivou a criação de um espaço dedicado à poesia....

A memória no museu

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Fachada do Museu Câmara Cascudo A direção do Museu Câmara Cascudo, Sônia Othon, critica a falta de interesse dos que trabalham o turismo na cidade para incluir os patrimônios culturais e históricos nos roteiros dos visitantes.“O que se fala é que eles só levam aos locais que pagam comissão”. As palavras da diretora fazem referência ao roteiro montando pelos guias turísticos de Natal. A falta de “acordo” entre o museu e os guias estaria afastando o público de fora da cidade. A procura que há na instituição por parte dos turistas é apenas espontânea, portanto tímida, e não existe incentivo das agências de turismo ou do poder público para incluir o patrimônio nos roteiros dos visitantes. Na opinião da diretora, falta vontade política para que o acesso aos museus aconteça, já que a maioria deles é do Governo do Estado. Segundo Sônia Othon, outras instituições também sofrem com a situação. É o caso do Museu de Cultura Popular, a Casa de Câmara Cascudo e até mesmo o Forte ...

Um Estranho no Ninho, de Miloš Forman

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Ambientada num hospital psiquiátrico, comédia dramática ganha peso de libelo contra a repressão Apesar de ter perdido seus pais tragicamente no campo de concentração de Auschwitz, Miloš Forman nunca abandonou o humor em seus filmes. Foi com graça que ele construiu sua filmografia na Tchecoslováquia, nos anos 1960, em pleno movimento de renovação do cinema (a Nouvelle Vague deles). Desta fase, destacam-se pelo menos dois longas, Os Amores de uma Loira  (1965) e Baile dos Bombeiros  (1967), ambos sobre inquietações da juventude. Com a invasão soviética no país, em 1968, Forman partiu para os Estados Unidos. Lá, freou a estética mais arrojada que fazia na terra natal, mas manteve o olhar crítico sobre as instituições controladoras. Nessa pegada, alguns de seus filmes mais renomados são Amadeus  (1984) e O Povo Contra Larry Flint  (1996), que trazem homens lutando contra o conservadorismo do sistema. Neste aspecto, a prisão-manicômio de Um estranho no nin...

Avatar, de James Cameron

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Por Pedro Fernandes Um filme de riqueza visual sem precedentes. O cenário fictício de Pandora, onde se processam as cenas de Avatar , do diretor de Titanic , James Cameron, é a marca central do filme. Não há um enredo muito elaborado; do contrário, é leve, simples e comum - típico de roteiros hollywoodianos para pequenos filmes: a rivalidade entre bem e mal, sem lugares delimitados; um romance que desabrocha do meio para o fim da película; e só. Mas o que chama atenção no filme além da avalanche visual e também sonora está fora dos efeitos especiais e do caudal de cenas de aventura. Reside no que muitos chamarão de mensagem pedagógica  e que eu prefiro chamar de alerta  que este filme transmite: num eventual fim de nossa civilização, como cada vez mais se confirma, o grande responsável de tudo é o próprio homem. Avatar  é uma narrativa sobre a descrença na capacidade humana de reversão de seu estágio atual. Num momento em que parte da ciência não acredit...