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Diário de bordo ou um desafio que possivelmente não irei cumprir

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Por Pedro Fernandes Um dia tinha de chegar em que contaria estas coisas. Nada disto tem importância, a não ser para mim. José Saramago, A bagagem do viajante Quando em processo de gestar um texto, o mundo se encolhe; você se encolhe - se encasula. Não há nada externo a esse caso, a essa cápsula, que lhe convença ser mais importante do que este ser em gestação. Como cangurus devemo-lhes uma atenção dobrada, redobrada, antes que o filhote caia da bolsa marsupial a pular por aí com os pais. Esse é meu caso com a escrita; esteja escrevendo um poema, um texto para jornal, um ensaio acadêmico... Recentemente, depois de romper o medo que esse mar de letras sempre me imprime dei início oficial a escrita de minha dissertação de mestrado. Isso que agora escrevo nesta post não é um anúncio. Até o presente não vi ainda que textos como dissertações e teses se prestem a esse propósito. Se nos encapsulamos para a escrita, parece que em tais textos nos encaps...

Invasores, de Oliver Hirschbiegel

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Por Pedro Fernandes Ao pesquisar sobre a recepção da crítica acerca de Invasores  descobri que o livro The body snatchers , de Jack Finney, publicado em 1954 e que ganhou essa leitura para o cinema em 2007, já contava com outra produção cinematográfica e, a julgar pelo que li, a versão antiga (o filme é de 1956, e saiu com o título de Vampiros de almas ) é   um bocado melhor do que essa de Oliver Hirschbiegel. Certamente, no passado, parece que as limitações tecnológicas para a construção de efeitos especiais, por exemplo, levavam os cineastas a capricharem no conteúdo, perda que é cada vez mais recorrente se olharmos de perto o que está em cartaz sempre nos cinemas. Mais ainda depois da consolidação do cinema 3D e das franquias para pasteurização das histórias em quadrinhos. Na década de 1950, Don Siegel, se beneficiou do contexto evocado pela obra: a paranoia do macartismo e sua caça às bruxas e trouxe o tema para o interior da linha principal da narrativa: a ...

Relembrar Saramago

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O caderno Domingo trouxe matéria sobre José Saramago. A matéria foi elaborada de conversas minhas com a editora do caderno e refaz o trajeto biográfico do escritor ressaltando algumas peculiaridades que não devem ser lidas como novidades. Abaixo reproduzo a matéria e faço algumas correções: onde se lê "Atualmente fazendo mestrado em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)", leia-se "Atualmente fazendo mestrado em Letras na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)". (Pedro Fernandes) A PERDA DE UM GRANDE ESCRITOR Algumas pessoas parecem nascer para mudar a ordem das coisas e todas as probabilidades. Ao observar a origem humilde e difícil de José de Souza Saramago não se imaginaria que ele se tornaria um dos mais importantes escritores da língua portuguesa, com vasta obra publicada. Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, a nordeste de Lisboa. Filho de agricultores sem terra que imigraram para Lisboa, ...

Um Jesus na Playboy

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Por Pedro Fernandes O título desta post se refere a homenagem - ou não sei o quê - que a Playboy portuguesa (foto da capa, acima) inventou de reservar, na edição deste mês, ao escritor José Saramago. Por esta capa - aliás, de gosto duvidoso - se vê um Jesus recebendo nos braços uma mulher seminua, como se uma Madalena, numa espécie de releitura da Pietà. A revista traz uma reprise da entrevista feita ao escritor em 1995 e publicada na edição brasileira. Toda a entrevista segue ilustrada por ensaio fotográfico em que Jesus está em meio a mulheres seminuas em várias situações. Se isso era uma homenagem acho que o tiro saiu pela culatra. Particularmente não simpatizei com a ideia e vejo nela muito mais um oportunismo gratuito no uso da imagem do escritor que homenagem. Não se trata essa opinião aqui de uma visão cristã; pela religião - se talvez fosse esse o pretexto da Playboy, aproveitando que mexer no sagrado está na moda e dá ibope - eu até ent...

D. H. Lawrence

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Não faz muito tempo que li O amante de Lady Chatterley , de D. H. Lawrence. Mas parece que esse me foi mais um daqueles romances que só passaram pela minha frente. Apimentadíssimo. Quente demais para a frieza dos ingleses. Dificilmente não se lerá este romance sem se ficar excitado. Há horas até que parece sermos transportado para um interior de um daqueles filmes pornôs arrumadinhos. Talvez isso venha justificar o grande sucesso que esse romance fez à época. Imaginemos: em plena década de 20, sociedade vitoriana, o que isso foi. Barato não foi; tudo isso fez do escritor um mal quisto na Inglaterra a ponto de forçá-lo ao exílio. Recente ao ler o primeiro volume d' O segundo sexo , da Simone de Beauvior, eis que me deparo com a teórica falar das personagens feminas de Lawrence, dentre elas, a de O amante de Lady Chartterley . Mulheres ligadas aos homens por através de seus falos; mulheres portanto submissas. Os romances de Lawrence são um misto pedagogizante; fruto talv...

A Lista de Schindler, de Steven Spielberg

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Steven Spielberg é considerado, por muitos, um gênio da indústria cinematográfica de Hollywood desde o megassucesso de Tubarão  (1975). Mas sua carreira ficou marcada por filmes de universo infanto-juvenil, como E. T.  (1982), Contatos Imediatos do Terceiro Grau  (1977) e a trilogia Indiana Jones  (1981, 1984 e 1989). Suas tentativas eventuais de abordar temas adultos ou "sérios", como em A Cor Púrpura  (1985) e Além da Eternidade  (1989), foram recebidas sem muito entusiasmo.  Nesse quadro, quando realizou A Lista de Schindler , o cineasta e produtor deu o passo mais importante rumo à consolidação de sua imagem, o que se traduziu em oito Oscar em 1994, incluindo Melhor Filme e Direção. Sua abordagem do Holocausto mostra as formas mais cruéis do extermínio utilizadas pelos nazistas, mas procurando evitar a espetacularização. Para isso, ele concentra e transfere sua visão humanista para o personagem real de Oskar Schindler, industrial que apr...