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A passagem de Allen Ginsberg pela Índia

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Gary Snyder, Peter Orlovsky e Allen Ginsberg, ao visitar Lama Govinda. Ao fundo os picos do Himalaia. Primavera de 1962. Foto: Arquivo Allen Ginsberg Allen Ginsberg passou oito meses num hospital psiquiátrico porque teve uma visão de William Blake que durou uma semana. Quando ingressou ali levava debaixo do braço um exemplar de Bhagavad Gita , o livro mais importante do hinduísmo. Treze anos mais tarde, William Blake, definitivamente convertido em seu guru, embora já não em forma de alucinação, mas de cartaz, o acompanharia numa viagem de um ano pela Índia que seria compartilhada com sua parceria sentimental de durante três décadas, Peter Orlovski, e, parte dele, com o matrimônio formado pelos poetas Gary Snyder e Joanne Kyger, que então residiam no Japão. Estamos falando de 1961 e 1962, uma época em que a contracultura estava buscando referentes intelectuais e espaços mentais e geográficos para assentar-se. Ginsberg, que pouco antes havia deixado atônitos os melhores cérebro...

Boletim Letras 360º #23

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A vida é um grande rosário de promessas. Não, não estamos  empapados  com a visita do papa ao Brasil – que este espaço é sério, não é de brincar com a razão alheia. É apenas que cumprimos duas promessas esta semana e deve ter restado ainda uma lista quase sem fim para  cumprir-se . Chegaremos lá qualquer dia desses, se não ficarmos pelo caminho ou se a vida não for mesquinha conosco.  Uma das promessas cumpridas foi disponibilizar para os nossos leitores uma nova promoção – oh, já estava na hora! Estão no páreo as duas recentes edições de José Saramago incorporadas ao catálogo da editora do escritor no Brasil. E a outra novidade, bem, a outra, vocês ficarão sabedores no correr do boletim e em nossa página do Facebook. Nova nota de 10 libras que terá rosto de Jane Austen Segunda-feira, 22/07 >>> Brasil: Textos de Machado de Assis, João do Rio e outros podem ser lidos em celulares e tablets A editora carioca Mórula lançou uma coleção voltada ...

Crônica de um leitor de O jogo da amarelinha (3)

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por Juan Cruz Ruíz Há gente que pergunta a idade dos livros e decide, em função dos anos, o que acontece com eles, ou o que deve acontecer, até quando durou ou até quando devem durar. Quando decidem que os livros estão envelhecidos porque tem anos suficientes cometem o mesmo erro de que quando  não os escolhem porque são demasiado jovens. Os livros não têm idade ou têm a que os próprios leitores lhe dão. Ou tem a idade que alguém lhes dê, ou têm todas as idades. Com O jogo da amarelinha aconteceu desde há algum tempo que alguns lhe tomam a temperatura ou que outros lhe tomam o pulso ou ainda que outros decretem sua morte. É um livro que foi para adolescentes ou para jovens, dizem. Então, não é velho? É velho mas foi jovem para aqueles jovens. Ah, os jovens de agora não podiam ter gostos semelhantes a aqueles de em torno de 1965 que o leram como se estivessem bebendo o elixir do contrarromance? Esta reticência que mantenho ante aos que decretam com respeito a esta ob...

Uma dama em Paris, de Imar Raag

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Parte da crítica terá se esforçado para uma recepção ao menos fria sobre esse último trabalho de Ilmar Raag. Mas, peço licença para ir em direção contrária e ensaiar outro esforço, o de uma recepção calorosa ao filme. Uma dama em Paris é o terceiro longa do diretor que já dirigiu e escreveu para a televisão August 1991 , sobre a tentativa de repressão da independência estoniana pelos russos e Klass , sobre um estudante em defesa de seu colega vítima de bullying numa sala de aula. E nesse contexto, o filme é o mais diferenciado já produzido por ele. Produzido numa parceria larga, aliás, entre Estônia, seu país de origem, Paris e Bélgica. Em cena a grande atriz do cinema francês, Jeanne Moreau, no alto de seus 85 anos e que, diga-se, é também a responsável pela inteireza do filme de uma ponta a outra. Jeanne é quem interpreta Frida, uma idosa que teve grande vida artística, mas o gênio forte terá reduzido ela a uma presença sozinha numa casa em Paris. Frida não é francesa, ...

Paulo Leminski

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Paulo Leminski, Foto de 1976. Não foram poucas as vezes que vimos lendo novidades em torno de Paulo Leminski, desde quando em meados de 2013, se anunciou a publicação de Toda poesia (comentamos aqui ), livro que já se tornou Best-Seller entre os brasileiros, e que tem despertado o interesse pelo elogio crítico e pelo comentário de discordância do fenômeno alçando o poeta à classe de tipos como Paulo Coelho. Isso pode ser motivo para outra entrada mais adiante nesse blog. Por enquanto, tratemos é de deixar registrado (e cumprir assim outra promessa já há muito feita por aqui) sobre os traços biográficos e bibliográficos do poeta curitibano. Quando foi publicada em 2001, O bandido que sabia latim , de Toninho Vaz, a primeira incursão em torno da vida de Paulo Leminski (obra que está na lista das reedições até o fim deste ano), o poeta já era um mito entre as novas gerações em Curitiba. Onze anos depois, e o sucesso de Toda poesia explica, esse mito se expandiu e tornou-se infl...

A pintura em Proust

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Edição de Paintings in Proust , de Eric Karpeles Por esses dias enquanto esboçávamos um curto perfil do romancista francês Marcel Proust tocamos num interesse externado por ele ao longo dos sete volume de Em busca do tempo perdido , cujo primeiro livro No caminho de Swann cumpre seu primeiro centenário em 2013. Citamos um trabalho primoroso de Eric Karpeles, um dos primeiros que atentaram para essa aproximação ou gosto proustiano e quem preparou um livro/catálogo com mais de 300 páginas de reprodução das telas à Proust. Karpeles conta que levou três anos para ler integralmente Em busca do tempo perdido . E só conseguiu a empreitada, primeiro da leitura, depois da pesquisa, porque já depois das primeiras centenas de páginas estava hipnotizado pelo conjunto literário proustiano. Notou também a impossibilidade de se afastar desse mundo e da sua relação com as artes plásticas. Antes de leitor do escritor francês, Karpeles é artista plástico e tem, portanto, uma vivência com o ...