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A Papoila e o Monge, de José Tolentino Mendonça (Parte I)

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    Por Pedro Belo Clara O poeta português José Tolentino de Mendonça. O livro que hoje lhe apresento, caro leitor, é o mais recente trabalho publicado por este proeminente autor português. Lançado ao público somente no passado mês de Novembro, encerra em si uma inovação notável, deveras significativa até, no que à obra deste autor diz respeito. Em suma, o livro reúne seis volumes distintos onde o autor apresenta uma enorme diversidade de haikus – uma face que, até agora, havia permanecido desconhecida. A ser verdade, quase que se adivinharia a intenção do autor em reunir todos os livros que criou sob as leis desta específica forma poética e publicá-los, juntos, sob uma só epígrafe. Contudo, não terá sido bem o caso. O que instigou, então, o poeta a publicar um livro somente de haikus? Um género no qual nunca antes se havia aventurado? A explicação surge na introdução da obra, escrita pela mão do próprio autor: “este livro deve tanto a Jack Kerouac como ...

Boletim Letras 360º #43

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Anualmente, fazemos nossas indicações de títulos bons para presentear os amigos neste fim de ano. Porque, afinal, não há presente melhor do que um livro. Este ano, a lista de dicas começará a ser publicada em nosso Instagram. E, por falar em presentes, devemos ou não devemos fazer uma promoção de Natal? Responda a essa pergunta abaixo nos comentários, dizendo “sim” ou “não” e o porquê. A depender da demanda de respostas poderemos continuar numa brincadeira que dará alguns títulos interessantes aos leitores. Segunda-feira, 09/12 >>> Brasil: Nélida Piñon é a vencedora do Prêmio Cátedra Enrique Iglesias, em Washington É o primeiro ano do prêmio que passa a ser atribuído pelo Centro de Cultura do Banco Internacional de Desenvolvimento com o objetivo de afirmar a cultura como componente essencial para o desenvolvimento mundial. O prêmio passará a ser anual e distinguirá os melhores talentos da América Latina e Caribe cuja excepcional contribuição para a cultura e o des...

Crônica de um leitor de O jogo da amarelinha (7)

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Por Juan Cruz Ruíz Julio Cortázar e Juan Carlos Onetti Agora se estabelece o tempo como um melro ou como um corvo sobre O jogo da amarelinha e alguns dizem, os que são como corvos, que se passou o arroz, enquanto que os que são como melros  (ou os que somos como melros) atraímos a este tempo para que siga sendo o som da primeira vez que este livro começou a dizer-nos o que nos parecia que queríamos escutar. Imprimiu-se certo dia como este ano em Buenos Aires há meio século; outros livros saíram então e antes; surpreende que seja o de Julio Cortázar precisamente aquele que recebe mais verificações de pesquisa, como se o livro mesmo fosse responsável de sua velhice, ou como se sua velhice fosse um acidente capital e não um mérito ou uma circunstância que se acrescenta ao feito mesmo para que ele continue existindo. Enfim. O certo é que desse livro já se falou tanto, e se seguirá falando tanto, que nem sequer o eco que merece se escuta sem diminuir, como se O jogo da a...

A nova poesia feminina potiguar

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A poesia feminina potiguar tem revelado, ao longo da sua história, grandes vozes líricas, dignas dos mais altos elogios e louvores. Como exemplo, poderíamos citar Auta de Souza, Palmyra Wanderley, Zila Mamede, Diva Cunha, Marize Castro, Carmen Vasconcelos, e mais recentemente, Anchella Monte e Ada Lima. Eis que surge Leocy Saraiva com seu livro   Cantos e Espantos  e mais uma  prova excelente dessa tradição tão forte e arraigada em nossa terra. O título foi publicado em 2010 pela Editora Sol e revela o exercício de uma poetisa em amadurecimento, porém realizada, com plenitude e segurança.  Leocy Saraiva pratica a palavra meticulosamente, visando à medida certa da expressão, nada se perde em seus versos, claros e ricos em imagens e sugestões poéticas. No livro nada é disperso; a essencialidade parece ser a fidelidade em procurar a melhor linguagem e a interação exata entre a ideia e a forma, a limpidez da palavra para expressar o conteúdo poético do...

Correspondência inédita de Proust revela suas aventuras num bordel francês

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O adolescente Marcel Proust. Aqui tem perto de 16 anos, quando teve um certo probleminha e foi confessar-se ao avô. “Pode-se dizer qualquer coisa, desde que não se diga eu.” Marcel Proust escreveu estas palavras ao seu colega das letras, o francês André Gide, e elas constituem num conselho valioso para qualquer romancista, bem como uma chave de leitura útil para a compreensão de sua própria obra. Sabemos que Proust é hoje ainda o mais importante nome da literatura ocidental moderna, o melhor autor de sempre depois de sua catedral literária Em busca do tempo perdido . A esses epítetos de melhor, que quase o colocam num altar, sacralizado, também não somos hipócritas e achamos que Proust é o mais importante romancista gay – sem querer inserir o autor num clube rosa, evidentemente. O epíteto final é dádiva do próprio Gide, quem revelou a homossexualidade de Proust sempre enrustida. Foi Gide quem colocou os leitores diante das correspondências do autor publicadas logo após sua mor...

Os livros que me fizeram escritor

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Por J M Coetzee Ao longo de sua vida, Jorge Luis Borges criou duas bibliotecas para o seus editores: a primeira denominada em italiano a Biblioteca di Babele , a segunda intitulada Biblioteca pessoal . Quando digo que criou essas bibliotecas, me refiro a que, entre todos os livros do mundo, selecionou uma lista com obras que voltassem ser publicadas, conferiu a essa lista o selo de sua autoridade e escreveu introduções ou prólogos para cada um dos volumes. A Biblioteca di Babele , criada na década de 1970 para um editor italiano, consta de trinta e três volumes pertencentes ao gênero fantástico, cada um com um prólogo de Borges. A Biblioteca pessoal , criada para um editor argentino, estava pensada para ter cem volumes, mas a morte de Borges em 1986 interrompeu o projeto. A essa altura havia aparecido uns setenta volumes. A Biblioteca pessoal  que não tinha restrições quanto a gênero literário. Os prólogos escritos por Borges eram muito curtos. Há dois an...