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A vida e a arte de Sylvia Plath

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Por Fernanda Fatureto A biografia de Sylvia Plath, Ísis americana: a vida e a arte de Sylvia Plath (Bertrand Brasil, 2015), de Carl Rollyson, compreende toda a vida da poeta americana e é das mais completas já publicadas sobre uma das mais lendárias figuras modernas do século XX. Porque exerceu diversos papéis-chave como mulher na sociedade americana e inglesa das décadas de 1950 e 1960. Sylvia não era apenas um rosto bonito, uma blond girl , femme fatale capaz de seduzir homens com quem manteve correspondência amorosa até conhecer o poeta Ted Hughes. Durante o período de formação na Smith College, nos Estados Unidos, foi aluna destaque em literatura e eleita editora da Smith Review . Nos anos de 1950 foi convidada para ser editora na revista de moda   Mademoiselle e passou uma temporada em Nova York lhe rendendo histórias, muitas delas deram composição ao livro A redoma de vidro , seu único romance publicado. O professor de jornalismo da Baruch College, em Nov...

Das mentiras que contamos sobre as vidas que não vivemos

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Por Guilherme Mazzafera Ilustração: Aldo Sérgio “Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a fatos e pessoas concretos, e sobre eles não emitem opinião.” É com esse instigante paradoxo que vários romances editados pela Companhia das Letras saúdam o leitor na página de créditos. Costumamos ver em tal asserção meramente um ato defensivo, capaz de desestimular qualquer processo futuro por parte de um ensandecido leitor que sinta sua dignidade e pessoa foram aviltadas pela obra em questão. Não se irrite, querido leitor. A obra é de mentirinha. Mas, dentro dela, pulsa uma mentira verdadeira. O que significa ser real “apenas no universo da ficção”? Qual o escopo desse universo? Embora o senso comum facilmente tinja a ficção de tons depreciativos, associando-a ao lazer e, se tomada a sério, a um inevitável escapismo e, portanto, a uma recusa infantil de se engajar com o “mundo real” e com “as coisas da vida”, tal caracter...

Kafka nas palavras de Kafka

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Por Jossep Massot “Já vês, sou um homem ridículo; se gostas de mim um pouco, será por compaixão; minha contribuição é o medo”, escreve um jovem Kafka a Hedwig Weiler, seu amor de verão de 1907. E, todavia, o aprendiz de escritor que acreditava que “estamos perdidos como crianças na floresta” e que era bom alguém subisse à Lua para que seus movimentos, palavras e desejos não fossem totalmente cômicos e absurdos, quando dizia, “não se escutam as risadas da Lua nos observatórios”, havia ganhado já aos 19 anos, perante seu amigo Oskar Pollak, a valiosa aposta de que ia mudar a literatura do século XX: “É bom”, escreveu, “quando nossa consciência tenha grandes sofrimentos, pois assim se torna mais sensível a cada estímulo. A meu ver, só deveríamos ler os livros que nos ferem e nos afligem. Se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco no crânio, por que perder tempo lendo-o? Para que ele nos torne felizes, como você diz? Oh Deus! Nós seriamos felizes do mesmo modo se eles li...

Boletim Letras 360º #301

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Abrimos este boletim com a confirmação de uma expectativa deixada na edição passada. Disponibilizamos o último sorteio de 2018 em nossa página no Facebook ; e fechamos o ano com chave de ouro. Daremos a uma leitora / um leitor a caixa contendo o diário inédito de José Saramago e o livro do jornalista Ricardo Viel que conta os bastidores da recepção do Prêmio de Literatura ao escritor português em 1998.  No Brasil, publica-se pela primeira vez uma antologia com poemas de Nicanor Parra. Mais detalhes ao longo deste Boletim.  Segunda-feira, 19/11 >>> Brasil: Livro inédito de Charles Bukowski ganha tradução por aqui  Poetas se desnudam. Desnudam suas tristezas, seus ideais, seus pensamentos sublimes. Mas poucos foram os ­poetas que se mostraram ao mundo como Bukowski – que, mais do que “velho safado”, bêbado e jogador, escrevia destemidamente sobre o sujeito comum, repleto de defeitos. Isso é o que o leitor encontrará...

A estranha (e maravilhosa) mente de William T. Vollmann

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Por Rebeca García Nieto Uma personagem de Don DeLillo dizia que a verdadeira motivação da indústria editorial é tornar os escritores inofensivos. Camus ou Beckett foram os modelos de nossa ideia de absurdo; Kafka nos mostrou que o terror começa em casa, mas agora, se lamenta o protagonista de Mao II , os escritores apenas influenciam nossa forma de ver o mundo. De fato, em sua opinião, agora são os terroristas que ocupam o lugar dos romancistas, são eles que “submetem a consciência humana a seus ataques”. Não sei se esta personagem tem razão, mas que boa parte dos romances publicados são fogos de artifício falhados, sim: fazem barulho, mas estão vazios, não dizem nada de novo e têm pouco impacto, para não dizer nenhum, no mundo real. Mas, por sorte, sempre tem existido escritores capazes de incomodar o sistema. Em 1947, um “cidadão preocupado” alertou ao FBI da existência de um romance que era não mais que uma “propaganda para que o homem branco aceitasse os n...

A poesia de Guimarães Rosa

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Por Pedro Fernandes Magma foi o primeiro livro de Guimarães Rosa. A data provável de uma primeira versão é 1930 e só aparecerá publicamente, não de um todo, seis anos depois, quando foi inscrito para concorrer ao Prêmio da Academia Brasileira de Letras. Na ocasião, o poeta Guilherme de Almeida, que compôs o júri do galardão, descreveu no seu parecer a poesia do mineiro como “nativa, espontânea, legítima, saída da terra com uma naturalidade livre de vegetal em ascensão”; “poesia centrífuga, universalizadora, capaz de dar ao resto do mundo uma síntese perfeita do que temos e somos” – emendou. No mesmo rosário de elogios, compreendeu, a partir da noção de poesia como “beleza no sentir, no pensar e no dizer”, que a poesia de Rosa era única no atual momento literário do Brasil. O principiante poeta, entretanto, apesar de reconhecer que sua poesia só recebera elogios desde quando passou a circular entre os leitores mais íntimos, olhou para esse filho bastardo com o...