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Marly de Oliveira, a suave pantera

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Deixei em vagos espelhos a face múltipla e vária, mas a que ninguém conhece, essa é a face necessária. “O poema é uma estrutura de significantes que absorve e reconstitui os significados, na medida em que seus padrões formais têm efeitos sobre suas estruturas semânticas, assimilando os sentidos que as palavras têm em outros contextos e sujeitando-as a nova organização, alterando a ênfase e o foco, deslocando sentidos literários para sentidos figurados, colocando termos em alinhamento, de acordo com padrões de paralelismo”. A precisa, mas não esgotável, definição sobre o poema, sua ordem, natureza e comportamento, está num texto, certamente conhecido de muitos estudantes de Letras, do teórico estadunidense Jonathan Culler. E a retomada dele no início destas breves notas biográficas não é gratuita, tampouco cumprem um interesse de servir para uma discussão sobre a forma literária, mas porque guardam estreita aproximação com a obra poética de Marly de Oliveira. Ela...

Boletim Letras 360º #322

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No último dia 13 de abril sorteamos um exemplar de Sagarana , de João Guimarães Rosa, em novíssima edição pela Global Editora. O livro já está a caminho de um leitor do Letras in.verso e re.verso de Curitiba. Terá mais do escritor mineiro, em breve, no nosso Instagram. Bom, e nesta semana, especificamente, tivemos o privilégio de receber mais dois novos colunistas para compor o blog Letras in.verso e re.verso: Beatriz Martins e Davi Lopes Villaça. Não deixem de passar a acompanhá-los. Recadinhos apresentados, vamos às notícias que fizeram o mural do blog no Facebook. Julio Cortázar em Zabriskie Point (1976). Postal que o escritor enviou ao cineasta Antonioni. Arquivo EYE Film Museum Amsterdam.  A nova edição brasileira de O jogo da amarelinha  já está disponível. Segunda-feira, 15 de abril Uma releitura de 1984 , para a HQ. Em 2020 passam-se sete décadas sobre a morte de George Orwell. Passa assinalar a data, a Companhia das Letras prepara um...

Por não recear o olhar penetrante: desconstruindo o cenário do primeiro cinema

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Por Wagner Silva Gomes Studio Méliès A história do cinema registra que os primeiros filmes eram gravados em uma única cena em plano geral.   A câmara era afixada de frente para o cenário, não captando assim os movimentos e detalhes da cena. Até por isso os franceses responsáveis pelas primeiras películas chamavam o roteiro de cenário. Com isso, o cinema tinha como base a linguagem teatral, que é construída ainda hoje apoiada na recepção da plateia (público) frente ao palco (atores e cenário). Vitor Manuel Aguiar e Silva, em seu livro Teoria da Literatura , diz que o drama (teatro) é baseado na ação, ou seja, nas tensões momentâneas e imediatas entre os sujeitos. E isso é sugestivo porque o desafio que levou o primeiro cinema a progredir foi justamente se pensar na desconstrução da cena (do ilusionismo de Méliès, passando pelos cem olhos dos construtivistas Russos, ao travelling de Griffith e as inovações contemporâneas). Para isso, era preciso sair do caráter te...

Varlam Chalámov, contador de histórias

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Por Davi Lopes Villaça Varlam Chalámov, nos anos 1940, depois de retornar de Kolimá O escritor russo Varlam Tíkhonovitch Chalámov (1907-1982) viveu quase vinte anos como prisioneiro em campos de trabalho forçado soviéticos. Entre 1937 e 1951 trabalhou nos campos da região de Kolimá, na Sibéria, também conhecida como a “terra da morte branca”. Dessa experiência recolheu o material para sua obra mais importante, Contos de Kolimá , escrita entre 1954 e 1973. Duas narrativas, ambas presentes no primeiro livro da coletânea, lançam uma luz sobre o sentido dessa extensa obra, permitindo-nos também uma reflexão sobre a relação do autor com a literatura. Em “Pela neve” (não por acaso o primeiro conto do livro) Chalámov descreve o movimento lento e exaustivo dos prisioneiros que, postos a andar lado a lado, abrem caminho por entre a neve que cobre a terra, para a passagem de pessoas, comboios de trenós, tratores. “Se caminhassem sobre cada uma das pegadas do primeiro, abriria...

Poesia e metalinguagem em A palavra algo, de Luci Collin

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Por Fernanda Fatureto Como em um lance de dados Luci Collins celebra o jorro da linguagem em A palavra algo (Iluminuras, 2016) – livro que lhe concedeu o segundo lugar no Prêmio Jabuti 2017. A metáfora dos dados pode ser encontrada no poema “Lances” em que mostra como Collin utiliza as palavras para “cumprir o poema”: “dado que nos poreja / cumprir o poema / sagrar sua sorte/de verbos em chamas”. Sua poesia – apesar de cerebral – estabelece essa conexão com o improvável, o que lhe garante maior liberdade para compor seus versos:  dado que é sem doutrina  jogo de emblemas  ondulação das cortinas que tudo a voragem do início e os sons feito fossem azes  estilando  o âmago desimpedido de um esplêndido algo. Seu único comprometimento é com a poesia, ela mesma enquanto fluxo constante, como escreve em “Tule”: “assim aqui não se traceja perguntas / que os passos da dança são um jorro / as falas são manjar e reeditam / o...

“Uma nova mulher e a moral sexual”, de Alexandra Kollontai, e o desenvolvimento da produção literária de Hilda Hilst

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Por Beatriz Martins Hilda Hilst. Foto: Renata Falzoni “Durante 40 anos, Hilda Hilst foi uma moça muito bem comportada. Ela produziu muito: mais de 28 livros de poesia, prosa, textos belíssimos de teatro que continuam inéditos. De repente, Hilda Hilst se rebelou”. Esta é a introdução da entrevista concedida a TV Cultura, quando do lançamento d’ O caderno rosa de Lori Lamby . No que Hilda responde considerando-o um ato de agressão (para além de transgressão, donde há de se ver o caráter radicalizado da obra), uma necessária banana ao mercado editorial delimitado a partir dos ideais patriarcais. (Vídeo disponível aqui ) A nova mulher contemporânea emerge duma ressignificação de valores e necessidades, a qual é posta num movimento verticalizado, de cima para baixo, a todas as mulheres. Esta diferenciação passado-presente é desenhada continuamente na obra de Alexandra Kollontai, teórica feminista e marxista e, sobretudo, revolucionária. Em sua obra A nova mulher e a mor...