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Ausente, de Marco Berger

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Por Pedro Fernandes As expressões amorosas não teimam em se tornar apenas na sua força contrária. Isso nos diz que o amor é coisa de natureza muito mais complexa que a mera conjunção dicotômica com o ódio e com o mal. É que entre esses dois limites operam-se sutilezas de ordem diversa e quase-sempre não capturadas à primeira vista. Haverá circunstâncias, por exemplo, que o amor pode virar culpa. E é essa uma das principais lições que podemos apreender sobre o filme de Marco Berger. Começar a falar sobre Ausente a partir de um tema aparentemente transversal não é uma tentativa gratuita de se afastar dos dilemas mais complexos que se formam ao longo da narrativa; é, antes de tudo, encontrar uma alternativa capaz de perceber a questão-problema por outro ângulo, diferente daquilo que nossa condição moral tem imposto ver as coisas. É bem verdade que, tal condição opera como restritivo que nos impossibilita avançar sobre a ideia que lançamos sem deixar de atravessarmos tai...

Sagarana: meandros de uma estreia

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Por Guilherme Mazzafera Mais de sete decênios após sua primeira edição – ao que se pode acrescentar quase uma década de gestação subterrânea –, Sagarana volta às livrarias em novo projeto editorial pelas mãos da editora Global, que agora detém os direitos de toda a obra de João Guimarães Rosa, com exceção de seu único romance, Grande Sertão: Veredas . Este, cujos direitos pertencem à família Tess, os herdeiros de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, segunda esposa do escritor, está sob a guarda da Companhia das Letras, que publicou uma belíssima edição do livro que já tive a oportunidade de resenhar aqui no Letras . Após diversos anos sob a tutela da Nova Fronteira, o Sagarana da Global destaca-se de imediato por sua capa, que recusa a iconografia tradicional no boi, substituindo-a por uma bela fotografia de Araquém Alcântara, feita em 2012 no município mineiro de Jaíba, na qual vemos uma árvore ramosa e quase sem folhas contra um céu azul profundo.  Essa atual...

Anna Akhmátova. Como congelar no inferno

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Por Antonio Lucas Anna Akhmátova foi uma dama altamente intoxicada de poesia e com uma fabulosa propensão para transitar pelas sendas consideradas proibidas de qualquer ditadura. Amou precocemente, escreveu furiosamente, levantou sua voz com todo desalento e morreu com gana de morrer depois de se hospedar em vários infernos. O comunismo teve entre suas sinistras apostas a de apagar a cultura por indomável, dissidente, suspeitosa. Akhmátova formou parte da melhor geração de poetas russos do século XX. Daquela tribo não restou de pé um só – Mandelstam, Marina Tsvietáieva, Essenin, Maiákovski... Nenhum. Um e outro foram caindo enquanto o stalinismo crescia como uma fatídica corte dos milagres. Anna Akhmátova nasceu em Odessa antes da União Soviética comover o mundo. Era 1889. No registro batizaram-na como Anna Andréievna Gorenko, filha uma distinta família de origem tártara. Pai engenheiro (Andrei) e mãe delicada (Inna). Um casamento que voou pelos ares e...

Boletim Letras 360º #331

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Esta a edição, para quem ainda não conhece ou chega pela primeira vez ao blog, reúne todas as informações copiadas em nossa página no Facebook de segunda à sexta-feira. O Boletim Letras 360º foi criado desde quando os algoritmos daquela rede social passaram a limitar progressivamente o acesso dos amigos / seguidores. Desde o início deste ano, fizemos alterações no conteúdo e passamos a oferecer, além da reunião desse material circunscrito no arco de interesses editoriais deste blog, outros trabalhos, como uma pequena lista com recomendação de leituras e dicas de materiais externos e internos ao Letras. Boas leituras! Willa Cather. Obra resgata escritora no Brasil e assinala a entrada no mercado editoral de nova editora. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 17 de junho Escrito há 50 anos, marco na literatura de fantasia e ficção científica ganha edição comemorativa. Enviado em uma missão intergaláctica, Genly Ai, um humano, tem como missão persuadir...