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Pablo Picasso, o poeta

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“Se fosse chinês não seria pintor mas escritor, escreveria minhas pinturas.” “No final de contas, todas as artes são apenas uma. É possível escrever uma pintura com palavras como é possível pintar sensações num poema.” (Pablo Picasso) Pablo Picasso. Foto: Gjon Mili A inclinação de Pablo Picasso para as palavras, a literatura, a poesia remontam aos tempos de infância e juventude, quando redigia pequenos jornais em forma de cartas e enviava aos seus pais. Mas, só se revela como escritor a partir de 1935, quando se viu imerso numa crise sentimental e criativa, ocasião que chegou a confessar para o seu amigo Jaume Sabartés que queria mesmo largar tudo, a pintura, a escultura e a poesia, para se dedicar exclusivamente ao canto. Sabe-se que isso não aconteceu, mas no mesmo ano de sua revelação poética, André Breton o consagrava através do seu texto “Picasso poète”, publicado no Cahiers d’Art . Mais tarde, em 1954, ele organizou e publicou Poèmes et Litographies (...

Zelda Fitzgerald

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Bailarina, pintora e escritora, Zelda foi um pouco de tudo. Mas, para sua má sorte, casou-se com um homem que a fez entrar para a história como sua musa. E, pior, ele, um dos mais brilhantes escritores estadunidenses do século XX, era um possessivo e usou de todas as artimanhas para impedir que a companheira desenvolvesse quaisquer dos seus talentos. Os designativos de posse estão impressos na sua biografia, nos tristes episódios da vida conturbada, mas desde seu nome. Conhecemo-la como Zelda Fitzgerald e não por Zelda Sayre, a mulher nascida a 24 de julho de 1900 em Asheville, na Carolina do Norte. A família dela descendia dos primeiros colonizadores de Long Island, que haviam se mudado para o Alabama antes da Guerra Civil. Na época do nascimento de Zelda, os Sayre eram reconhecidos na região. Seu tio-avô, John Tyler Morgan, integrou o Senado dos Estados Unidos durante seis legislaturas; o avô paterno editava o principal jornal de Montgomery; e a avó materna era Willis Ben...

O contista Jean-Paul Sartre

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Por Joaquim Serra Jean-Paul Sartre, Veneza, 1967. Jean-Paul Sartre acreditava que sua filosofia podia falar por meio de sua literatura. Nos contos de O muro (1939) isso fica evidente. Ao contrário da primeira versão de A náusea (1938) que mais parecia um tratado filosófico que um romance, uma boa dose de ação – em poucos espaços, isso é certo – não deixa de existir em alguns dos contos. Muito ainda no ritmo narrativo de A náusea (1938), Sartre prefere uma voz vinda dos motivos interiores do sujeito que olha para fora de si para tomar decisões e perceber – ou não – o acaso da vida, do que um narrador oitocentista, aquele que buscaria o apolínio ligado a um todo mais ou menos coeso. Em “O quarto”, dividido em duas partes, o narrador segue primeiro o pai que irá visitar a filha que mora com o marido que está louco. O narrador é contaminado por ele e por seus preconceitos e visão de mundo para, depois da visita frustrada do pai, permanecer com a filha Ève e penetrar no...

Carnaval de engenho

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Por José Lins do Rego Ilustração de Santa Rosa para texto de José Lins do Rego. O Cruzeiro , 1941. O mestre Paizinho chegara para falar com meu avô. Era o mestre de música do Pilar e o presidente do clube “Os filhos da Candinha”. A conversa era curta. Ele dava a lista, o velho assinava os cem mil réis e falava mal dessa história de vadiação de carnaval. Deviam acabar com aquilo. Homem de respeito não devia andar metido com danças, em brincadeiras de entrudo. O Chico Xavier precisava abrir os olhos, tomar providências. Havia gente na vila que só pensava em carnaval, que andava perturbando o sossego dos outros.   O mestre Paizinho ouviu tudo calado. Depois o velho entrava e voltava com os cem mil réis.   — Tome lá, dizia ele, mas não apareçam aqui no engenho. Não quero saber de patifarias. O ano passado vocês foram abusar do Lula de Holanda. Se souber de coisa semelhante, mando o Chico Xavier metê-los na cadeia.   Depois o mestre Paizinho vinha conversar com as minhas tias...

Boletim Letras 360º #366

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DO EDITOR 1. Não posso deixar de comentar na abertura deste Boletim sobre o incidente registrado no último dia 18 de fevereiro e notificado em todas as redes sociais do Letras; um anônimo – com expressões ideológicas, entretanto, muito claras – escreveu um comentário na caixa do blog no texto-resenha publicado aqui no início de janeiro de 2020 sobre o romance Essa gente , de Chico Buarque (Companhia das Letras, 2019). O episódio de grosseria não é o primeiro. Mas, com o rigor do ódio, sim. Quando divulguei a nota em nome do blog foi, primeiro, para mostrar o posicionamento meu em relação ao caso e, claro, registrar publicamente a violência, além de me colocar em defesa dos inúmeros leitores, fixos ou en passant que guardam profundo zelo pelas expressões artístico-literárias. 2. Agradeço pelas mensagens recebidas dos que acompanham a materialização de um projeto conduzido voluntariamente há treze anos. Saiba que guardo profundo carinho, e o sentimento de todos os colaborad...

Os novos livros de J. D. Salinger

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Por Cristian Vázquez J. D. Salinger em sua mesa de trabalho. Cornish, New Hampshire. Arquivo: Biblioteca Pública de Nova York 1. Digamos logo desde o começo: não temos ideia sobre quantos nem de como serão os novos livros de J. D. Salinger serão, cuja morte terá uma década neste 2020. O que sabemos pelo menos é que haverá novos livros. Isso há muito foi assegurado por alguns de seus biógrafos e só recentemente confirmado por Matt Salinger, filho do escritor, que ficou – junto com Colleen O’Neill, a viúva – encarregado de seu legado. A parede de silêncio “oficial” que pairava sobre o trabalho não publicado de Salinger começou a ruir no ano passado, após o centenário do escritor, nascido em Nova York em 1º de janeiro de 1919. Em entrevistas concedidas a mídias como The Guardian , El País e o canal da Penguin Books no YouTube, Matt disse que seu pai continuou escrevendo todos os dias, cerca de oito horas por dia, ao longo de sua vida, apesar de não ter publicado nada des...