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Ninguém precisa acreditar em mim, de Juan Pablo Villalobos

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Por Pedro Fernandes Juan Pablo Villalobos. Foto: Metal Magazine .   Muito se repetiu sobre o romance enquanto enquanto um rico repositório das mais variadas expressões da linguagem. Uma parte dessa complexificação do romanesco se amplia com acentuado vigor a partir do século XX, muito embora, os resultados nem sempre sejam satisfatórios. Depois do sopro modernista, o que mais encontramos são tentativas fracassadas, pouco convincentes ou insatisfatórias dos usos da forma. É válido repetir que não é suficiente ao escritor o bom exercício da técnica; é tão ou mais importante certo talento para oferecer naturalidade ao andamento da narrativa, processo que inclui, o trato da verossimilhança e o manejo da linguagem. Essas qualidades sempre raras se encontram na literatura de Juan Pablo Villalobos.   Este Ninguém precisa acreditar em mim se organiza por dois fios narrativos principais — um deles com transição entre o registro despretensioso de eventos e circunstâncias ao seu tratam...

Entre o homem e o pensamento, o verso

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Por Tiago D. Oliveira Nos poemas de Laura Riding há um exercício contínuo do pensamento, a reflexão como versos na tentativa de entendimento da natureza humana. Em seu trabalho / linguagem sua obra resgata em cada poema uma ideia de alcance ou dimensão traduzida pela vida. Em Mindscapes , primeira compilação de poemas da autora no Brasil, editada pela Iluminuras, percebe-se uma investigação dos sentidos indizíveis que são capturados pela poesia e colocados em ressignificação pela invasão que acomete na leitura, são versos que desenham um mapa, só que de dentro para fora. É como se a partir da linguagem a poesia apresentasse maturações e definisse uma certa incomplexidade para as horas. Uma palavra importante para o entendimento dos versos de Riding é “verdade”, esse composto de infinitudes. A poeta modernista americana investiu sua fé em tatear o verso que representasse a verdade e acabou chegando em uma direção que marcou um tempo, dizia que “a verdade começa onde a poesia termina”, j...

Tudo sobre o golem

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Por Juan Pablo Bertazza O golem. Ilustração de Hugo Steiner-Prag para o livro de Gustav Meyrink.   Pensemos numa criatura feita de palavras — graças aos poderes místicos da Cabala Judaica e, principalmente, do Sêfer Yetzirá ou Livro da Criação — incapaz de falar, feita com o objetivo de proteger o gueto judeu, mas que acaba se tornando uma ameaça real.   Diferente de alguns parentes um pouco mais midiáticos como Frankenstein ou Drácula, o golem mantém na indústria e na história cultural um certo halo não tanto de mistério, mas de escabrosa raridade, inexpugnável e hermética. Antes do monstro de Mary Shelley, o golem estava à frente da ideia moderna do autômato; sua grande monstruosidade radica no mesmo princípio: ser um homem criado pelo homem.   A palavra golem , que vem do hebraico, aparece apenas uma vez na Bíblia, no versículo 16 do Salmo 139, e significa algo “inacabado” ou “em formação”. De acordo com uma tradição oral, o primeiro golem da história foi criado p...

Jean Rhys: bom-dia, meia-noite

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Por Grace Morales Jean Rhys. Foto: Paul Joyce   Com Jean Rhys, se completa o mapa das grandes escritoras da primeira metade do século XX. Carson McCullers, Dorothy Parker e mesmo Djuna Barnes foram descobertas e reconhecidas há muito tempo, mas Rhys aguarda num arquipélago de difícil acesso, à sombra dos continentes Virginia Woolf e Marguerite Duras. Assim como foi sua vida, passando por quartos alugados em apartamentos baratos e andando insegura por ruas escuras. Apesar de tudo, sua obra permanece inalterada, como um edifício invencível construído a partir do seu interior. Poucas autoras expuseram seus acontecimentos pessoais por meio da ficção como Rhys. Adiantada em décadas, ela não praticava a autobiografia, mas foi capaz de fantasiar sobre seu cotidiano em vários níveis e enfrentá-los no mesmo texto. Os sentimentos mais profundos e o retrato ácido, a frustração sexual e as descrições hiperreais, o devaneio e a lucidez agonizante. Um olhar frenético e existencial antes do ...

Boletim Letras 360º #433

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DO EDITOR   1. Caro leitor, outra vez é sábado e ainda estamos aqui. Este boletim é uma publicação criada há 430 semanas com o interesse de reunir as notícias que foram copiadas em nossa página de informações no Facebook.   2. Reitero, em nome do blog, os agradecimentos pela companhia e pelos gestos de divulgação e de diálogo, tão importantes para este trabalho. Obrigado e boas leituras! Ana Luísa Amaral. Foto: Onomatopeia.   LANÇAMENTOS A Ponto Edita reúne em projeto especial inéditos de Zelda Fitzgerald .   A antologia Artigos e textos jornalísticos , que a Ponto Edita lança agora, reúne 13 textos raros de Zelda Fitzgerald e propõe uma leitura contemporânea de suas facetas de ensaísta, contista, bailarina e artista plástica. Concebida como um livro de artista, a edição apresenta esses escritos menos conhecidos em diálogo com as intervenções artísticas originais da escritora brasileira Clara Averbuck e da cartunista Bruna Maia. Completa a edição um ensaio crítico e...

Vidas de romancista

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Por Antonio Muñoz Molina Philip Roth. Foto: Ethan Hill   Nos últimos anos de sua vida, absolvido por decisão própria da urgência de escrever, Philip Roth aprendeu a desfrutar de algo que nunca havia conhecido antes, o simples prazer de não fazer nada. Em sua casa de campo, que havia sido por quase meio século o mosteiro de sua dedicação disciplinar à literatura, ele agora olhava pela janela a paisagem, os pássaros cruzando o céu, ouvindo por muito tempo a chuva ou o vento nas folhas daquelas árvores monumentais da América. Na biografia de Roth, recentemente publicada e recentemente proibida, Blake Bailey tem o prazer de se recriar ao contar esse penúltimo tempo, antes da devastação final da doença, em que o romancista que nunca se concedeu um dia de trégua — nem o mundo o concedeu — aceita a velhice e adquire um pouco de paz de espírito.   O leitor da biografia também aprecia esses momentos de descanso. Contar a vida inteira de Philip Roth deve ter sido quase tão exaustiv...