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Jesus na literatura: protagonista de um calvário

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Por Daniel Gigena A Crucificação. Peça central do Retábulo de Issenheim. Matthias Grünewald, 1512-1516. Museu de Unterlinden, Colmar, Alsácia, França.   Os Evangelhos, e sobretudo as passagens sobre os últimos dias da vida de Cristo, desde a entrada triunfal em Jerusalém, montado num pacífico jumento, até à via crucis, morte e ressurreição, ultrapassam o âmbito da religião cristã e fazem parte da cultura universal. Ao longo do tempo, e sem deixar de questionar a história oficial, escritores proeminentes recriaram sua vida e seus ensinamentos em chave literária. “Por baixo da herança cultural deve haver uma herança psicológica comum; se não fosse assim, todas as formas de cultura e imaginação que não estivessem dentro de nossas próprias tradições não seriam compreensíveis”, postulou o crítico literário canadense Northrop Frye. Como Jesus é representado na literatura contemporânea?   “De que pode servir-me que aquele homem/ tenha sofrido, se eu sofro agora?”, se pergunta o poem...

Um álbum para Lady Laet, de José Luiz Passos

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Por Pedro Fernandes José Luiz Passos. Foto: Arquivo O Globo .   A obra de José Luiz Passos se distingue pelo interesse constante de renovação criativa, algo que pode ser compreendido através de duas linhas: a do escritor que se experimenta à procura de uma dicção capaz de moldar seu trabalho excepcional ou a do escritor que faz da experiência criativa o ponto nodal do seu universo. Uma possibilidade, claro está, não exclui a outra, embora o mais comum seja encontrar escritores que melhor se ajustam na primeira ou segunda. No caso em questão, ainda é preciso observar o destino da literatura do escritor pernambucano; como é recorrente em toda obra artística, as conclusões possíveis só alcançam tempos adiante ao ponto final de um projeto.   Entre os títulos publicados por José Luiz Passos mais conhecidos estão os romances Nosso grão mais fino , O sonâmbulo amador e O marechal de costas . Mas, na narrativa curta, expressão talvez mais restrita entre os leitores, parece ainda res...

Não! Não olhe! Até onde vão nossas formas de ver e fazer cinema?

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Por Alonso Díaz de la Vega Se o olhar é a razão do cinema, o que significa vê-lo e, sobretudo, fazê-lo numa tempestade de imagens? Diariamente, filmamos e fotografamos animais de estimação, mutilações e bolos numa civilização que juntou a retórica democrática com a indulgência do consumismo. Se uma sociedade fascista é formada por soldados e padres, ou uma socialista formada por camaradas e hipócritas, a nossa é de clientes cuja liberdade de acesso à câmera e às redes sociais obedece apenas à função de vender. Olhar para algo e depois mostrá-lo — ações fundamentais do cinema — é lucrar com isso na economia do espetáculo: vender o extraordinário ou o trivial para ganhar fama e aprovação por um tempo e, enquanto isso, ajudar alguma marca a divulgar seus produtos desnecessários.   Porém, na história do capitalismo houve um momento em que o visual foi definido como heroico. Em Janela indiscreta (1954) Alfred Hitchcock deu a entender que um voyeur poderia fazer justiça espionando um f...

Em diálogo com Marguerite Duras

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Por Fernanda Fatureto Marguerite Duras. Foto: Bettina Rheims Marguerite Duras este ano completa 109 anos. Nasceu em 4 de abril de 1914 na Indochina (hoje Vietnã), filha de pais franceses, emigrou para a França em 1932. Faleceu em 1996, aos 81 anos. No Brasil vemos a reedição de sua obra pela mineira Relicário Edições — que já lançou Hiroshima meu amor ; Moderato cantabile e Escrever . Também a Bazar do Tempo reeditou recentemente, da escritora, A do r.   A escritora francesa exerce um grande fascínio em todos os seus leitores. Fruto de uma escrita densa que permeia temas universais como o amor, a dor, a morte e o próprio ofício de escrever (tema que me parece recorrente em seus livros e que a liga ao movimento do Novo Romance Francês).   Segundo Leyla Perrone-Moisés em “O novo romance francês”, a experiência do romance para Duras é mais filosófica do que artística, embora seus livros neste gênero sejam muito bem elaborados. Para os “novos romancistas” a preocupação era esti...

Tamanho é documento

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Por Guilherme Mazzafera Ilustração: João Fazenda.   Há algo que se perde em qualquer tipo de padronização, mesmo as aparentemente necessárias e menos belicosas. Tomemos a escolha de uma fonte tipográfica para uma coleção de livros. O estilo de um autor por certo transcende a letra impressa no papel, mas ele igualmente se dá através dela. Cada autor, é certo, merece sua própria fonte — e o fascínio por manuscritos, quando ainda os havia, deve-se muito à desumanização da firma autoral pela planificação tipográfica dos séculos posteriores. Mais do que isso, não seria de todo descabido pensar que tal fonte poderia ser vendida junto com os direitos autorais de uma obra, que só poderia ser comercializada se respeitasse esta demanda — naturalmente, seria algo bastante trabalhoso adaptá-la para outros alfabetos e sistemas de escrita, mas ainda acho que o autor deveria ser capaz de escolher sua aparência textual nas mais diversas traduções. A fonte, como seria de esperar, deveria ser propr...

Boletim Letras 360º #529

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DO EDITOR   1. Olá, leitores, os mais assíduos neste espaço já podem ter visto que iniciamos um novo trabalho de restauração e revisão visual do blog, um ano depois da última grande reforma que realizamos. É o cuidado para rumar ao aniversário de 20 anos. Ainda está um pouco distante, mas quatro anos é pouca coisa.   2. O blog, lembramos, conta com a sua ajuda para o custeio das despesas mínimas de domínio e hospedagem. Conheça todas as formas de colaborar, aqui .   3. Entre essas formas, está a aquisição de qualquer um dos livros apresentados neste Boletim pelos links nele ofertados ou mesmo qualquer produto adquirido online usando este link .     4. Esperamos que o feriado tenha sido ótimo e desejamos um rico final de semana! Hilda Hilst. Foto: Eduardo Simões.   LANÇAMENTOS   Dois novos volumes do Teatro Completo de Hilda Hilst .   1. O terceiro volume do seu Teatro Completo reúne duas peças: O rato no muro , de 1967; e O auto da barca de Cami...