Boletim Letras 360º #526

DO EDITOR
 
1. Olá, leitores, os mais assíduos neste espaço já podem ter visto que iniciamos um novo trabalho de restauração e revisão visual do blog, um ano depois da última grande reforma que realizamos. É o cuidado para rumar ao aniversário de 20 anos. Ainda está um pouco distante, mas quatro anos é pouca coisa.
 
2. O blog, lembramos, conta com a sua ajuda para o custeio das despesas mínimas de domínio e hospedagem. Conheça todas as formas de colaborar, aqui.
 
3. Entre essas formas, está a aquisição de qualquer um dos livros apresentados neste Boletim pelos links nele ofertados ou mesmo qualquer produto adquirido online usando este link.  
 
4. Esperamos que o feriado tenha sido ótimo e desejamos um rico final de semana!

Hilda Hilst. Foto: Eduardo Simões.


 
LANÇAMENTOS
 
Dois novos volumes do Teatro Completo de Hilda Hilst.
 
1. O terceiro volume do seu Teatro Completo reúne duas peças: O rato no muro, de 1967; e O auto da barca de Camiri, do ano seguinte. Na primeira peça, em um convento isolado, as freiras são chamadas não por nomes, mas por letras, e vivem um dia a dia de culpabilização e penitência. A autoridade da madre superiora reina suprema, até que a irmã H. resolve questionar o status quo e promover o diálogo. A segunda propõe uma alegoria sobre a justiça, com a encenação kafkiana do julgamento de um herói popular, inspirado na figura histórica de Che Guevara. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. O quarto volume reúne outros dois textos de 1967 e 1968, respectivamente: A empresa e O novo sistema. No primeiro, a protagonista América debate-se entre o fervor revolucionário e a pressão pela repetição de modelos existentes. O novo sistema, por sua vez, tem caráter distópico: vê-se a passagem para um modelo autoritário de educação, em que a reflexão e o indivíduo não são possíveis. A nova ordem se reflete inclusive na linguagem, mas o Menino não se curva à experiência e sabota os planos totalitários. As edições incluem ensaio biobibliográfico de Leusa Araújo e texto de apresentação de Carlos Eduardo dos Santos Zago. Você pode comprar o livro aqui.
 
Pedro Almodóvar, o escritor.
 
A vida é muito efêmera, às vezes você não tem outro remédio a não ser fazer tudo ao mesmo tempo, se quiser tirar algum proveito dela. Reunião, em única edição, da estreia do cineasta espanhol Pedro Almodóvar na literatura. A primeira parte do livro é formada por crônicas publicadas pelo autor ao longo dos anos 1980 na revista La Luna de Madrid, traz as memórias despudoradas de Patty Diphusa, uma estrela pornô que pertence, segundo ela mesma, a esse tipo de mulheres que protagonizam a época em que vivem. Já em “Fogo nas entranhas”, somos apresentados a uma história protagonizada por um excêntrico grupo de mulheres, cujas vidas se cruzam pelo mútuo envolvimento com um chinês sentimental, dono de uma fábrica de absorventes íntimos e que, de tanto ser traído, se transforma no vilão da história. Marca registrada do autor, as narrativas presentes em Patty Diphusa, Fogo nas entranhas e outras histórias são, ao mesmo tempo, instigantes, hilárias, repulsivas e empolgantes, com um olhar único e profundo sobre a vida humana. O livro é publicado pela Tusquets. Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
 
As aulas de Nabokov sobre o clássico de Cervantes.
 
Entre os anos de 1951 e 1952, Vladimir Nabokov ministrou aulas como professor convidado da Universidade de Harvard. Munido de um conhecimento amplo sobre Dom Quixote, foi para a sala de aula determinado a mudar a visão dos estudantes a respeito dessa obra. Com seu estilo único, cheio de ironia, bom humor e novas perspectivas sobre o clássico cervantino, Nabokov mostrou-se um profícuo professor e crítico literário. As aulas, embora preparadas com maestria, ficaram guardadas em pastas por longos anos até que o editor Fredson Bowers as reuniu e transformou em Lições sobre Dom Quixote. As anotações completas e os comentários que Nabokov guardava para si são trazidos à luz para quem quiser se aprofundar nos estudos das aventuras de Dom Quixote e seu companheiro Sancho Pança. Mas, se o leitor desejar apenas uma leitura prazerosa acerca dos escritos de um exímio e sarcástico professor para seus alunos universitários, Lições sobre Dom Quixote têm outra chave interpretativa, se transformando em uma nada ortodoxa aula sobre a arte de lecionar. Seja qual for o motivo do interesse, trata-se de um livro que nos apresenta uma nova proposta de análise da obra de Cervantes, tirando-a da classificação de comédia atribuída usualmente pela crítica para provar aos estudantes — e agora, aos leitores — que o clássico espanhol é também uma obra brutal, um verdadeiro retrato da escuridão da Idade Média. Lições sobre Dom Quixote é uma preciosa oportunidade de conhecermos um autor clássico por meio de outro, pois pela mirada perspicaz e erudita de Nabokov, descortina-se para nós um novo Cervantes. Com tradução de Jorio Dauster o livro sai pela editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Obra assinala os 170 anos do nascimento de Vincent van Gogh.
 
Van Gogh: mutilado e suicidado coloca em diálogo ensaios dos surrealistas Antonin Artaud e Georges Bataille. Escritos em um período de intensa atividade do movimento surrealista, entre as décadas de 1930 e 1950, os textos questionam, por diferentes vias, o estigma psiquiátrico que pesa sobre a imagem do artista ainda. Ao trazerem elementos da psicanálise, antropologia e etnologia, no caso de Bataille, e a verve poética em tom de manifesto antimanicomial em Artaud, os ensaios se complementam e apresentam uma atualidade assustadora. “Apesar de suas naturezas distintas, ambos os autores veem no pintor um espírito superior, cuja alienação — e não a loucura, vale frisar - se insere entre a genialidade e a insubordinação irrestrita”, destaca Diogo Cardoso na apresentação; ele traduz o livro agora publicado pelas Edições 100/cabeças.
 
Uma introdução a Fernando Pessoa.
 
Neste ensaio, Jerónimo Pizarro presta um tributo à pluralidade de Fernando Pessoa, revelando como ler Pessoa a partir de seu vasto legado e com a ajuda de leitores que vieram antes de nós: pesquisadores, editores, tradutores. Em diálogo com a tradição crítica, constrói um guia de leitura dos heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, e dedica atenção especial ao Livro do desassossego, que os pesquisadores editam sem cessar com fragmentos deixados pelo escritor. Multiplicado em personas diversas ou unificado em autor genial, Fernando Pessoa se deixa conhecer pelos leitores instigados pela sua criação. Ler Pessoa é publicado pela editora Tinta-da-China Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um novo romance de Miguel Bonnefoy no Brasil.
 
França, meados do século XIX. Esta é a incrível história de Augustin Mouchot. Filho de um serralheiro, esse obscuro professor de matemática se tornou o inventor da máquina movida a energia solar, graças à descoberta de um livro antigo na sua nova biblioteca. Sua invenção, que batizou de “Octave”, seduziu Napoleão III e recebeu a aprovação das autoridades e da imprensa, tendo sido exibida com sucesso na Exposição Universal em Paris, em 1878. Mas a Revolução Industrial, impulsionada pelo carvão, arruinou seus projetos, que eram considerados demasiado dispendiosos. Depois de muitos altos e baixos, em uma última cartada, Mouchot tenta reavivar o fogo da sua descoberta sob o escaldante sol argelino, não sem graves consequências pessoais. Com a vivacidade pulsante pela qual o conhecemos, Miguel Bonnefoy oferece nesta biografia o retrato deslumbrante de um gênio atormentado e esquecido. Com tradução de Júlia da Rosa Simões, O inventor é publicado pela editora Vestígio. Você pode comprar o livro aqui.
 
Manuscrito inédito de Abdias Nascimento ganha edição.

Produzido no início dos anos quarenta, durante seu período como detento no Carandiru este livro é um documento histórico de valor inestimável que analisa a mentalidade de uma época e é registro indispensável para entender a trajetória política e intelectual de um dos maiores pensadores brasileiros do século XX. Relato tocante e surpreendente que costura depoimento pessoal, imaginação sociológica e narrativa biográfica, Submundo é um livro único. Abdias ora narra, ora cede a palavra aos companheiros de cárcere; ouve confissões, pergunta, pondera, se compadece. Entremeado na história, o autor faz uma rara e preciosa reconstrução da gênese do Teatro do Sentenciado, antecessor do TEN (Teatro Experimental do Negro), que viria a se tornar um marco na história da dramaturgia brasileira. Conforme reconstrói a vida de seus personagens, Abdias apresenta de forma crítica a reforma pelo qual passava o sistema prisional na década de 1940. Essa modernização, ele observa, se dava junto com o enraizamento do racismo científico na criminologia e, por extensão, na dinâmica do sistema carcerário e judicial. É um olhar que mapeia e antecipa elementos fundamentais de futuros debates sobre racismo e encarceramento em massa. Oficialmente, Abdias foi condenado por uma infração administrativa cometida quando prestara serviço militar. Sua prisão, porém, cheirava a perseguição política da ditadura Vargas e sua profunda intolerância com o movimento negro, do qual Abdias era já reconhecido líder. Eis por que, mais do que tudo, Submundo é um exercício de subversão. Homem negro, Abdias reivindica a perspectiva do preso e a pergunta que nos faz, com alguma ironia, é: sentenciado por qual crime? O livro é publicado pela editora Zahar. Você pode comprar o livro aqui.
 
A estreia da escritora equatoriana Solange Rodríguez Pappe entre os leitores brasileiros.
 
Em Uma nova espécie, Solange Rodríguez Pappe inventa uma tradição em que há espaço para amantes marcianos, um ônibus dirigido por algum Caronte de províncias e gatos capazes de fundar lares póstumos em armários e inaugurar labirintos e caminhos em países aterrorizantes. A tradição de Solange não se baseia em taxonomias, mas no acúmulo lascivo de espécies, como uma Noé que se diverte embarcando trios e outras quantidades ímpares em sua arca. Como se essa Noé imaginasse que a única possibilidade de sobrevivência a essa série de catástrofes pós-milenaristas consistisse em uma aposta no heterogêneo. Treze contos como a mais maravilhosa das cabalas. Treze fábulas terríveis e luminosas sobre este mundo tão querido. Com tradução de René Duarte, o livro é publicado pela editora Peabiru. Você pode comprar o livro aqui.
 
Pai e filho enrodilhados nos traumas da perseguição aos judeus.
 
Do silêncio e da distância do pai do pai, enrodilhado nos traumas da perseguição aos judeus na Bessarábia natal do século 20, onde grande parte de sua família e amigos se perdeu, surgem as memórias do pai do filho, como forma de garantir a este um legado que seu pai não pode ou foi capaz de lhe oferecer. Em narrativa fragmentada, cheia de lirismo e vazios, o pai busca preencher sua vida com as memórias de seu pai, ao mesmo tempo que preenche a sua própria para seu filho. Ficção, memória e afeto misturam-se num enredo que oscila entre o real e o não real, o possível e o desejado. Meu pai e o fim dos judeus da Bessarábia, de Samuel Fux e Jacques Fux, é publicado pela editora Perspectiva. Você pode comprar o livro aqui.
 
Vinícius Portella reúne nove contos em O inconsciente corporativo.
 
Livro expõe as consequências de uma geração que se vê cada vez mais capturada pelas supostas benesses da conexão digital. Tinder, Reddit, Bitcoin e inteligência artificial aparecem lado a lado com as dinâmicas cada vez mais impessoais de escritório, conversas entre herdeiros desconectados da realidade e, por que não, longas investigações sobre a possibilidade de redes neurais produzirem contos inéditos de Jorge Luis Borges. O mosaico montado por Portella, vertiginoso na diversidade, porém conciso em sua forma, é um documento em que cada conto funciona como peça de uma imensa engrenagem tecnológica — com sua precisão e seus absurdos. Publicação da editora DBA. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição com textos de Anaïs Nin sobre feminismo, psique e erotismo femininos, livros, literatura e viagens.
 
Anaïs Nin muito cedo entendeu-se como escritora. Aos onze anos iniciou o diário cuja publicação, décadas mais tarde, a tornaria célebre; ainda jovem, dedicou-se à ficção, sobretudo romances e contos eróticos. A celebridade conferida por seus diários, principalmente entre jovens mulheres nos anos 1960, ocasionou inúmeros convites para colaborações, palestras, entrevistas e prefácios. Esta coletânea, publicada pela primeira vez em 1976 e lançada anteriormente no Brasil como Em busca de um homem sensível traz 27 textos selecionados pela própria autora. São divididos em três partes: “Homens e mulheres”, em que trata de feminismo, psique e erotismo feminino, além das relações entre os sexos; “Livros, músicas e filmes”, em que discorre como artista e crítica ao analisar autores como Ingmar Bergman; e “Lugares encantados”, em que relembra em profundidade viagens feitas para o Marrocos, Indonésia e ilhas do Pacífico. Adepta da psicanálise (foi paciente de Otto Rank, discípulo de Freud) e defensora de um olhar íntimo e pessoal como caminho para o autoconhecimento e emancipação, Nin se revela aqui uma ensaísta apaixonante. Eis aqui um livro de ideias potentes, que desvenda uma pensadora central na história do feminismo e que ainda tem muito a contribuir para o debate sobre identidade, gênero e desigualdade. Ser mulher e outros ensaios tem tradução de Alexander Bruno e é publicado pela L&PM Editores. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Poesia Sempre. Uma década depois da última edição, a revista da Fundação Biblioteca Nacional retorna com um número dedicado ao centenário da Semana de Arte Moderna. Criada em 1991 e publicada pela primeira vez em 1993, a revista alcança agora a sua 38ª edição em dois formatos: ao impresso soma-se o eletrônico.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Água por todos os lados, de Leonardo Padura (Trad. Monica Stahel, Boitempo, 292 p.) Dividido em três partes — “Descomedimento, singularidade e escrita”, “Para que serve um romance?” e “Vocação e possibilidade” — este livro compila um conjunto de ensaios em que o escritor cubano reflete sobre a escrita, suas obsessões literárias, as relações com Cuba e a literatura de seu país, o papel e os valores da literatura, a atividade de escritor. Você pode comprar o livro aqui
 
2. As primas, de Aurora Venturini (Trad. Mariana Sanchez, Fósforo, 160 p.) Entre o trágico e o cômico, este romance de formação recria o território de infância da escritora em La Plata dos anos 1940 ao mesmo tempo em que constrói o retrato de mulheres abandonadas que, para além da pobreza, são obrigadas a lidar com deficiências físicas, mentais e imaginárias. Você pode comprar o livro aqui

3. Kafka: os anos decisivos, de Reich Stach (Trad. Sofia Mariutti, Todavia, 656 p.) Esta é a primeira de três parte que compõem uma das biografias mais completas do escritor tcheco. Stach situa-se entre os anos 1910 e 1915, quando Kafka ainda um jovem advogado transita entre a vida burocrática e a literatura. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
No passado dia 3 de abril cumpriu-se um ano de saudades de Lygia Fagundes Telles. Recordamos a entrevista concedida pela escritora ao programa Roda Viva, da TV Cultura. 

Mário de Andrade no New York Times. Dois livros do escritor brasileiro foram publicados entre os leitores de língua inglesa: Macunaíma e O turista aprendiz. Leia a matéria aqui.
 
BAÚ DE LETRAS
 
Encerramos o mês de março de 2023 com a tradução deste texto sobre o primeiro volume da biografia de Franz Kafka escrita por Reich Stach e recomendada na seção Dicas de Leitura deste Boletim. 

DUAS PALAVRINHAS
 
O artista é um visionário. Um vidente. Tem passe livre no tempo que ele percorre de alto a baixo em seu trapézio voador que avança e recua no espaço: tanta luta, tanto empenho que não exclui a disciplina. A paciência. A vontade do escritor de se comunicar com o seu próximo, de seduzir esse público que olha e julga. Vontade de ser amado. De permanecer. Nesse jogo ele acaba por arriscar tudo. Vale o risco? Vale se a vocação for cumprida com amor, é preciso se apaixonar pelo ofício, ser feliz nesse ofício.
 
— Lygia Fagundes Telles, em entrevista a Clarice Lispector.


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