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Boletim Letras 360º #539

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  Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges. Foto:  Héctor Atilio Carballo LANÇAMENTOS   Um acontecimento literário. A história de uma profunda amizade. Um diálogo vigoroso. Pela primeira vez num único volume tudo o que escreveram juntos dois dos autores latino-americanos entre os mais influentes . Bioy & Borges: obra completa em colaboração reúne todos os romances, contos, crônicas e textos esparsos que os argentinos Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges escreveram juntos durante meio século. É o registro da mais emblemática parceria da história da literatura e, sobretudo, a história de uma amizade intensa. Quando se conheceram, no início da década de 1930, Bioy tinha dezessete anos, e Borges, pouco mais de trinta. Borges conta que um dos principais acontecimentos de sua vida foi o início dessa relação. A partir de então, e por muito tempo, passaram a se encontrar quase que diariamente para discutir textos, inventar e aperfeiçoar personagens e tramas. Bioy escrevia ...

Marguerite Yourcenar

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Por Juan Malpartida Marguerite Yourcenar. Foto: Gisèle Freund Em diversas ocasiões, Marguerite Yourcenar (Bruxelas, 1903-Bar Harbor, Maine, 1987) afirmou ter buscado mais a exatidão do que a verdade. Para a autora de  Memórias de Adriano , observar bem é tão importante quanto pensar, ou mais. Naturalmente, o que Yourcenar está dizendo, além de se colocar numa linha empirista que a aproximava tanto de certos filósofos ingleses quanto dos moralistas dos séculos XVII e XVIII de sua língua, é, por um lado, que observar bem é o começo de um raciocínio válido ou já é meditação em si, e, por outro, que pensar sem levar em conta os fatos, os dados da experiência, a história, o que está definitivamente fora, pode ser uma espécie de ginástica que beira o na frivolidade ou, às vezes, no delírio.   A correspondência de Yourcenar ( Lettres à ses amis et Quelques autres , 1995), do que conhecemos umas trezentas cartas das mil que deixou para sua futura publicação, se caracteriza por esta ca...

Estive lá fora, de Ronaldo Correia de Brito

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Por Pedro Fernandes Ronaldo Correia de Brito. Foto: Jorge Clésio A obra de Ronaldo Correia de Brito a um só tempo se apresenta integrada a uma tradição literária brasileira e em busca de expandi-la em novas fronteiras. Estive lá fora é um romance em constante esquiva; reitera algumas das preocupações da nossa prosa posterior aos anos de ditadura militar mas sem se render a apelos do tipo histórico, revisionista, ou social, panfletário de uma causa. Seu interesse é exclusivamente pelo homem encalacrado nas circunstâncias do seu tempo, em tentativa desesperada pelo estabelecimento de um lugar no mundo e encontrando na arte a expressão essencial do ser ou a terceira margem capaz de conduzi-lo por fora dos limites das ideologias prisioneiras e infecundas.   A noção de esquiva apontada antes não se encontra apenas como um lugar ocupado por este romance; é peça implicada no funcionamento da sua narrativa. Já no episódio inaugural, encontramos Cirilo, o protagonista, no beiral da ponte d...

Gótico rural: o oeste de Martin McDonagh

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Por Bruce Swansey Desde que suas primeiras obras apareceram nos palcos ingleses e irlandeses, o trabalho de Martin McDonagh causou sensação. A crítica não poderia ter sido mais elogiosa, o autor ganhou vários prêmios, e mesmo quando seu trabalho foi questionado por sua afinidade com a caricatura colonial do irlandês e suas circunstâncias destituídas de esperança e sentimental, porém cômicas, a irreverência de McDonagh foi resgatada. Destacado como o escritor mais importante no teatro irlandês de John Millington Synge, com quem se identifica, McDonagh nasceu em Londres, especificamente ao oeste da ilha, onde passou os verões de sua infância.   A geografia é uma chave para aproximar-se à obra teatral e cinematográfica de McDonagh. O oeste irlandês tem uma forte presença nas artes, um processo que não representa a realidade, mas imagens do país que fazem parte de sua identidade. A paisagem expressa um ideal nostálgico, uma emoção inspirada pelo lugar que nos contém e nos une como part...

Nota sobre Sontag: O que ela queria para mulheres*

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Por Merve Emre Susan Sontag. Foto: Diane Arbus   Uma certa preocupaçã o cerca a crítica que pediu para introduzir um volume de escritos anteriores de Susan Sontag sobre mulheres, temendo encontrar neles ideias expressas de um passado distante, e menos iluminado. Mas os ensaios e as entrevistas em On Women , 1 uma nova coleção de trabalhos de Sontag, são incapazes de envelhecerem mal. Embora os excertos tenham cerca de 50 anos, o efeito de ler eles hoje é admirar a atemporalidade de sua genialidade. Eles não contêm ideias prontas, nem retóricas emprestadas — nada que se arrisque em solidificar-se em um dogma ou clichê. Eles oferecem a nós o espetáculo de uma intelectualidade feroz que se dedica para a tarefa que têm em mãos: articular a política e a estética de ser uma mulher nos Estado Unidos, na América, e no mundo.   O glamour singular de Susan lhe causou alguma injustiça, particularmente onde questões de sexo e gênero estão envolvidas. Desconfiados de sua fama, e convencid...

Eudora Welty, interiorana universal

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Por Bibiana Camacho Eudora Welty. Foto: Ulf Andersen A observação é uma das qualidades mais importantes de qualquer artista. Um certo tipo de escritor, como Eudora Welty, tem a capacidade de selecionar as peculiaridades nas pessoas e situações mais aparentemente banais para retratá-las por meio da escrita. Não à toa, um de seus autores preferidos e com quem mais se identificava no tratamento dos personagens era Anton Tchekhov. Eudora adorava como transmitia a sensação de que seus personagens conversavam o tempo todo sem que ninguém prestasse atenção. Certamente ele se referia à capacidade de Tchekhov de retratar as situações cotidianas e captar ambientes de tal forma que, ao ler, alguém se sinta verdadeiramente o sufocamento, o calor, o frio, a tensão do ambiente.   Antes de se dedicar à literatura em meados dos anos 30, Eudora alternava suas atividades entre a literatura e a fotografia. Trabalhou na Works Progress Administration e viajou por todo o Mississippi tirando fotos das ví...