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Boletim Letras 360º #574

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DO EDITOR Olá, leitores! Como estão pós-Carnaval? Por aqui, em recuperação.   Passo para agradecer a todos que se inscreveram interessados em compor o quadro de colunistas do Letras e registrar que, até o final de fevereiro, receberão no e-mail o resultado.   Obrigado pela companhia! Leonard Cohen. Foto: Dominique Issermann   LANÇAMENTOS   Uma tragédia erótica clássica pela pena de Leonard Cohen.   Escrito às vésperas da guinada do autor rumo à música pop, em que se consagraria como um dos maiores compositores e intérpretes da segunda metade do século XX, este romance de Leonard Cohen (1934-2016) é uma das obras mais experimentais da década de 1960. Engraçado, angustiante e comovente, Belos fracassados é uma tragédia erótica clássica, incandescente em sua prosa e estimulante por sua arrojada união entre sexualidade, memória e fé. Com tradução de Daniel de Mesquita Benevides, o livro sai pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui .   Três romance...

Escrever livros é o pior negócio do mundo

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Por Cristian Vázquez   1 Do ponto de vista capitalista, escrever livros é um dos piores negócios do mundo. Talvez o pior de tudo. Muitos desses artigos cheios de palavras como sucesso, coaching , liderança, atitude, empreendedores e outras do mesmo campo semântico explicam isso. Melhor representar graficamente com um tuíte do escritor Jorge Carrión: “O autor recebe 10% do preço do livro. Se custar 10 euros, 1; se vender 1.000 exemplares, 1.000; se você vender 10.000, 10.000. Se trabalhou três horas por dia durante um ano e vendeu 1.000, ganha 1 euro/hora; se 10.000, 10. Pense nisso na próxima vez que baixar um livro ou disser que ele é caro.”   Por isso, a maioria de nós que escrevemos (e também procuramos que o que escrevemos termine publicado em forma de livro) não ganhamos a vida com isso. Sabemos que temos que ganhar a vida de outra forma. O que tira nosso tempo e energia para escrever. Ou seja: escrevemos no momento que, em tese, deveria ser de descanso ou recreação. E nã...

O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk

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Por Renildo Rene Micheliny Verunschk. Foto: Renato Parada   Aqui está um experimento diferente para você imaginar porque, em certo momento, a onça figura a história deste romance: tente visualizar um encontro face a face com esse animal. Ele te encara assustadoramente e de maneira misteriosa. Sem saber o que ocorrerá, você espera ser acertado como presa/ alvo. Feito o encontro, a onça na verdade está pronta para usar um modo contemporâneo e implacável de fala que percorra um conjunto de conhecimentos, mitos e experiências. Os vários capítulos que estruturam O som do rugido da onça capturam tal dinâmica a partir de perspectivas e visões indígenas, com uma voz narrativa — entre tantas outras — explorando as relações do brasileiro com a sua mitologia originária, e os crimes que se interpõem nesse percurso histórico. Esse é o rugido da onça. Exceto que o animal aqui não caça, mas narra o passado.   A premissa do romance é simples: recontar a história do rapto de duas crianças de ...

Bastarden: um cinemão tal e qual

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  Por Toni Sánchez Bernal   A crítica ideal para este filme seria breve: “Vejam, não importa o que aconteça”. Nada mais. Para quê falar da portentosa narrativa, da excelência técnica com que é filmada ou das atuações maravilhosas que nos proporciona? O mais importante é que estamos perante duas horas imensas que qualquer um verdadeiramente apaixonado por cinema (não o espectador comum) saberá apreciar.   Que ninguém aqui entenda um possível pedantismo da minha parte, mas há algo que é óbvio: Bastarden (2023) é um filme maduro. Seu tom adulto e nada complacente com a sensibilidade que impera hoje pode incomodar o grande público (talvez daí a injustiça de não ter sido indicado ao Oscar). Na tela vemos uma história que se passa no século XVIII e nem é preciso dizer que recria fielmente o período. Claro que aqui haverá quem reclame, levante bandeira e grite aos céus porque o enredo não se adaptou aos sentimentos do século XXI.   Mas isso não terá nada a ver com o filme...

Kallocaína, de Karin Boye. Outra volta ao parafuso das relações Estado-indivíduo

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Por Francisco Martínez Hidalgo Karin Boye, 1940. Foto: Sven Torin. Arquivo Museu Alingsås.   Embora inúmeras obras tenham sido escritas com enfoque no tema das relações Estado-indivíduo, ainda existem algumas que, pela sua abordagem ou desenvolvimento, guardam uma originalidade capaz de surpreender até o leitor mais experiente. Com Kallocaína estamos diante de um desses poucos casos. E não porque lhe faltem elementos constantes em relação a todas as outras obras, algo até inevitável se olharmos para o contexto da sua produção (1938-39) ou da sua publicação (1940). A excepcionalidade deste romance reside na sua perspectiva original: a narradora observa um assunto, inúmeras vezes discutido, a partir de um prisma refrescante e com elementos inovadores, a partir do qual reflete sobre aspectos frequentemente ignorados.   A chave desta originalidade vem da voz também inusitada de sua autora: Karin Boye (Suécia, 1900-1941). Ela foi uma poeta de extrema sensibilidade, politicam...

O bom europeu não tem casa

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Por Jorge Freire Nascido em Praga em 4 de setembro de 1875, Rainer Maria Rilke era chamado de “o bom europeu”. Por um lado, escrevia em alemão e em francês; por outro, viveu ao menos em meio centena de casas espalhadas pelo continente. O sentimento de desenraizamento o acompanhou durante toda a vida.   Será a infância, como diz a expressão mais comum, a única pátria do homem? A dele não foi particularmente feliz. Depois da morte da irmã, a mãe insistiu em continuar a vesti-lo como as crianças de seu tempo, de menina, até os sete anos, compensando com mimos excessivos o fracasso do casamento; aos onze anos, seu pai o mandou para a academia militar, tentando compensar o fracasso da própria carreira no exército, que lhe proporcionou um “alfabeto de horrores”.   Passou um ano em Munique, quando recém entrado nos vinte anos, com o pretexto de terminar a formação, quando já tinha a sensação de que a poesia seria a sua única ocupação. Foi onde conheceu Lou Andreas-Salomé, a mulher ma...