Truman Capote. Lições para escritores

Por Aloma Rodríguez

Truman Capote. Foto: Otto Stupakoff


 
Em 1998, George Plimpton publicou Truman Capote: In Which Various Friends, Enemies, Acquaintences and Detractors Recall His Turbulent Career (Truman Capote: Onde vários amigos, inimigos, conhecidos e detratores relembram sua turbulenta trajetória, em tradução livre), uma tentativa de retratar o escritor a partir de conversas e entrevistas com quem o conheceu. Para escrevê-lo, Plimpton gravou quase quarenta fitas de conversas, daí o título do documentário The Capote Tapes. Ebs Burnough — que faz sua estreia com este filme — acrescenta novas vozes e entrevistas, destacando a de Kathy Harrington, filha de um dos amantes de Capote que o escritor praticamente adotou.
 
O filme talvez se concentre demais nos amigos ricos de Capote, os cisnes, e em como eles pararam de falar com ele depois que uma prévia de seu romance inacabado, Answered Prayers (Preces atendidas, em tradução livre), apareceu na Esquire em 1975, no qual contava muitas das confidências que inocentemente suas amigas da aristocracia de Nova York o haviam feito. Assim que Capote foi expulso daquele círculo de elite, se aproximou de outro grupo, o de Andy Warhol.
 
Capote aparece consciente de si mesmo, de sua imagem e de sua personagem, alimentando a figura do escritor-celebrity. Mas o que mais importava para ele era a literatura, fazer os melhores livros que era capaz de fazer: por isso, quando questionado sobre as reações aos textos adiantados pela Esquire, disse: sou um escritor, por que acreditavam que eu apenas as escutava? Isso não significa que não o afetasse, que não gostaria etc. Talvez se suas amigas tivessem lido A sangue frio, não teriam compartilhado seus segredos com ele.
 
O documentário me leva a resgatar a entrevista que concedeu para The Paris Review em 1957. Capote conta que começou a escrever aos onze anos para um concurso em que o prêmio era algo que ele desejava: “A primeira parte do texto saiu em um domingo, sob meu nome verdadeiro: Truman Streckfus Persons. Mas alguém percebeu que ele estava revelando um escândalo local em forma de ficção e a segunda parte nunca foi publicada. Obviamente, não ganhei nenhum prêmio.”
 
Capote passou a infância aos cuidados de algumas tias no sul — sua vizinha e amiga de sempre foi Harper Lee —, anos depois sua mãe o levou para Nova York, mas não eram uma família feliz: a mãe se suicidou. A protagonista de Bonequinha de luxo tem algo de sua mãe e das amigas de sua mãe.
 
Enquanto isso, no sul, Capote foi expulso de escolas e os professores acreditavam que ele era incapaz: “Consideravam que o mais adequado, e também o mais humano, seria me mandar para uma escola especial, preparada para tratar crianças retardadas. O que quer que cada um deles pensasse, minha família como um todo tomou isso como um ultraje e, para provar que eu não era um idiota, eles me enviaram a uma clínica de estudos psiquiátricos em uma universidade do leste, para estabelecer meu coeficiente. Eu me diverti muito durante todo o processo e adivinha o que aconteceu! Voltei para casa um gênio, foi o que a ciência proclamou. Não sei quem ficou mais surpreso, meus ex-professores, que se recusaram a acreditar, ou minha família, que também não quis acreditar, porque o que esperavam era que me dissessem que eu era um menino normal e comum.”
 
Na entrevista Capote explica muitas coisas sobre como escreve, sempre na horizontal e primeiro dos rascunhos à mão, e sobre seu estilo: “Me considero em essência um obcecado pelo estilo e concedo grande importância ao uso de uma vírgula, ao peso de um ponto e vírgula”; “Para mim, e peço perdão por uma imagem um tanto vulgar, suponho que o estilo é o espelho da sensibilidade de um artista, mais do que o conteúdo de sua obra”; “Mas ter um estilo, um estilo, geralmente é um obstáculo, uma força negativa, e não um reforço.”
 
Fornece algumas pistas para saber se um texto foi bem-conseguido: “O teste para saber se um escritor encontrou ou não a forma natural da sua história consiste em perguntar-se, depois de a ler, se é possível imaginá-la de outra forma ou, do contrário, ao silenciar a sua imaginação, parece-lhe que este é o caminho absoluto e perfeito. Perfeito como uma laranja, como uma laranja que a natureza simplesmente fez bem.” E ele explica em 1957: “Minhas maiores ambições literárias continuam a girar em torno do conto. Quando analisada com seriedade, o conto é a forma de prosa mais difícil que existe e que exige mais disciplina. Todo o meu domínio e técnica devo inteiramente ao meu treinamento neste gênero.”
 
Ele também dá um conselho importante: “Fui e continuo a ser alvo de ataques consideráveis, alguns deles absolutamente pessoais, mas já não me afetam: consegui ler as calúnias mais ultrajantes a meu respeito sem vacilar. E nesse sentido posso dar um conselho importante: nunca se preocupe em responder a uma crítica, nunca. Escreva mentalmente a carta para o editor, mas nunca coloque preto no branco.”

 
* Este texto é a tradução de “Lecciones para escritores de Truman Capote”, publicado aqui, em  Letras Libres.

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