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Mostrando postagens com o rótulo A 18 encontro com Saramago

A 18, encontro com José Saramago (IX)

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Arte: Júlio Pomar. Inciativa posta na rede desde o dia 18 de julho de 2010; todo 18 de cada mês durante nove meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reuniram-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. A iniciativa deu-se a partir do romance O ano da morte de Ricardo Reis , em que segundo Fernando Pessoa, personagem desse romance, o homem levaria outros noves meses como aqueles para vir ao mundo para partir desse mundo dos vivos.  Este blog seguiu a iniciativa e hoje, último mês, recorto o fragmento do romance que deu impulso à ideia. *** Olham-se ambos com simpatia, vê-se que estão contentes por se terem reencontrado depois da longa ausência, e é Fernando Pessoa quem primeiro fala, Soube que me foi visitar, eu não estava, mas disseram-me quando cheguei, e Ricardo Reis respondeu a ssim, Pensei que estivesse, pensei que nunca de lá saísse, Por enquanto saio, ainda tenho uns oito meses para circular à vontade, explicou Ferna...

A 18, encontro com José Saramago (VIII)

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Inciativa posta na rede desde o dia 18 de julho de 2010; todo 18 de cada mês durante nove meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reúnem-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. Este blog segue a iniciativa. Aproveitando os últimos acontecimentos no Egito e em outros países para o fim das ditaduras, a Fundação José Saramago, mentora dessa iniciativa de leituras da obra saramaguiana propõe a leitura de o  Ensaio sobre a lucidez . Uma série de episódios desse romance são de uma precisão e riqueza simbólica muito forte - desde o voto branco, passando pelos episódios de retirada dos políticos, as luzes acesas da cidade... O fragmento que cito hoje, é esse: Manifestantes antigoverno seguram velas durante vigília na praça Tahrir, Cairo, Egito. Foto: AP. O plano de retirada a que finalmente se chegou era uma obra-prima de acção táctica, consistindo basicamente numa bem estudada dispersão dos itinerários com vista a dificultar ao máximo ...

A 18, encontro com José Saramago (VII)

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Iniciativa posta na rede desde o dia 18 julho de 2010; todo 18 de cada mês durante noves meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reúnem-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. Este blog segue a iniciativa. Como até fim desse mês estou com a recepção de textos para a edição especial do Caderno-revista 7faces que tratará da poesia saramaguiana, o fragmento que leio hoje é, na verdade, um poema do escritor que está em Provavelmente alegria .  E vós, Tágides minhas, pois criado /Tendes em mim um novo engenho ardente (Camões, Os lusíadas ) Imagem: Camões invocando as Tágides, 1894, Columbano Bordalo Pinheiro (pintor naturalista e realista português, 1857-1929), óleo sobre tela, Museu de Grão Vasco, Viseu, Portugal Poema para Luís de Camões Meu amigo, meu espanto, meu convívio, Quem pudera dizer-te estas grandezas, Que eu não falo do mar, e o céu é nada Se nos olhos me cabe. A terra basta onde o caminh...

A 18, encontro com José Saramago (VI)

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Pintura de José Santa-Bárbara para Memorial do convento . ...tudo quanto é nome de homem vai aqui, tudo quando é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável, já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois aí ficam, se de nós depende, Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horácio, Isidro, Juvino, Luís, Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitério, Rufino, Sebastião, Tadeu, Ubaldo, Valério, Xavier, Zacarias, uma letra de cada um para ficarem todos representados, porventura nem todos estes nomes serão os próprios do tempo e do lugar, menos ainda da gente, mas, enquanto não se acabar quem trabalhe, não se acabarão os trabalhos, e alguns destes estarão no futuro de alguns daqueles, à espera de quem vier a ter o nome e a profissão. [José Saramago, Memorial do convento , p. 233] * Iniciativa posta na rede desde o dia 18 ...

A 18, encontro com Saramago (V)

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Iniciativa posta na rede desde o dia 18 julho; todo 18 de cada mês durante noves meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reúnem-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. Este blog segue a iniciativa. A edição deste mês tem dupla importância; novembro é mês em que nós, os saramaguianos, comemoramos os 88 anos do escritor, feitos no último dia 16. O fragmento que leio hoje é, na verdade, uma crônica do escritor que dá contas de um dos elementos que compõem o temário, podemos assim dizer, José Saramago: Deus. É peça-chave que se apresenta em toda a obra saramaguiana, mais forte em dois romances - O Evangelho segundo Jesus Cristo (1992) e Caim (2009). Intitulada Dios como problema Saramago retoma a ideia de Deus que marca bem esses dois romances para entendê-lo como uma má acertada criação humana. Publicado incialmente no dia 1 de agosto de 2005 no jornal espanhol El País , onde Saramago publicou uma série de textos numa atividad...

A 18, encontro com José Saramago (IV)

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Sabido é que todo o efeito tem sua causa, e esta é uma universal verdade, porém, não é possível evitar alguns erros de juízo, ou de simples identificação, pois acontece considerarmos que este efeito provém daquela causa, quando afinal ela foi outra, muito fora do alcance do entendimento que temos da ciência que julgávamos ter. [...] E nem adianta acrescentar que a qualquer um sobejam razões para se julgar causa dos efeitos todos, estes de que viemos falando e mais os que são nossa parte exclusiva para o funcionamento do mundo, o que eu muito gostaria de saber é como ele será quando não houver homens e os efeitos que só eles causam, o melhor é nem pensar em tal imensidão, que faz tonturas, ora, bastará que sobrevivam uns animaizitos, uns insectos, e mundo haverá, o da formiga, o da cigarra, não afastarão cortinas, não se olharão num espelho, e isso que tem, afinal a única grande verdade é o que o mundo não pode ser morto. [José Saramago, A jangada de pedra , p.13]  ...

A 18, encontro com José Saramago (III)

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Emanuel Krescenc Liška.  Caim Quando as tartarugas, que tinham sido as últimas, se afastavam, lentas e compenetradas como lhes está na natureza, deus chamou, Noé, Noé, por que não sais. Vindo do escuro interior da arca, caim apareceu no limiar da grande porta, Onde estão noé e os seus, perguntou o senhor, Por aí, mortos, respondeu caim, Mortos, como, mortos, porquê, Menos noé, que se afogou por sua livre vontade, aos outros matei-os eu, Como te atreveste, assassino, a contrariar o meu projecto, é assim que me agradeces ter-te poupado a vida quando mataste abel, perguntou o senhor, Teria de chegar o dia em que alguém de colocaria perante a tua verdadeira face, Então a nova humanidade que eu tinha anunciado, Houve uma, não haverá mais outra e ninguém dará pela falta, Caim és, e malvado, infame, matador do teu próprio irmão, Não tão malvado e infame como tu, lembra-te das crianças de sodoma. Houve um grande silêncio. Depois caim disse, Agora já podes matar-me, Não posso, palavra de...

A 18, encontro com José Saramago (II)

Iniciativa posta ao ar desde o último dia 18; todo 18 de cada mês durante noves meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reúnem-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. Este blog segue a iniciativa. O fragmento que leio hoje é do Levantado do chão , aquele que fala do dia em que todos - os vivos e os mortos - largam seu estágio de curvatez e seguem em liberdade. Aproveito ainda para lembrar de duas outras homenagens que preparo ao escritor: uma é o minicurso Diagnósticos do presente em José Saramago, Chico Buarque e Jorge Reis-Sá , que irei ministrar por ocasião do I Colóquio Nacional de Estudos Linguísticos e Literários que irá ocorrer entre os dias 06 e 08 de outubro na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - Campus Avançado Profa. Maria Elisa de Albuquerque Maia; e outra é a edição especial do caderno-revista 7faces que preparo em homenagem ao escritor. Outras novidades estão a caminho e breve serão divulgadas por este espaço. ...

A 18, encontro com José Saramago (I)

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A iniciativa de congregar os leitores de Saramago em torno dos seus livros, propostas ou reflexões a cada dia 18, e fazê-lo cordialmente, com uma taça de vinho, com a alegria de saber-nos seus contemporâneos, nasceu de forma espontânea em Madrid e Lanzarote e de gente que lhe queria bem. Para lançá-la não pediram autorização a ninguém nem necessitavam de fazê-lo: celebrar Saramago e a sua obra dependerá da sensibilidade de cada leitor e os que puseram em marcha este projecto - obrigado Fernando Berlín, Olga Rodríguez, Juan Diego Bottos, Emilio Silva, obrigado, María del Río - demonstraram elegância e finura intelectual e, sem dúvida, elegeram a melhor fórmula porque a fizeram nascer de um livro, do coração de O ano da morte de Ricardo Reis . Brindar com uma taça de vinho em todos os continentes do mundo, falar de Saramago, ler umas páginas de qualquer livro, ser livres de preconceitos e de prisões, discutir com a liberdade que Saramago reclamava e fazê-lo de forma explícita aos dia...