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Epitáfios

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“Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou.” A sentença descarnada é de um narrador bem conhecido da literatura brasileira, Brás Cubas, o homem que, do interior da sua lápide fabula suas memórias; e, porque escritas do além-vida, póstumas. É possível que o fio irônico que a sustenta não deixe de oferecer uma razão muito própria e séria; há no epitáfio qualquer coisa desse interesse universal e humano pela eternidade. E se só dado a alguns, uma perduração do nosso egoísmo.   A celebração do dia dos mortos parece ser um ato útil por duas razões: reencontrarmo-nos como a ideia de que nossa vida não é eterna e fazer manter viva a memória do morto, que será esta a única eternidade que dispomos. Se fosse dar vazão a estes dois motivos eles se ampliariam e teríamos aqui um texto semiacadêmico pensando sobre a questão. O que não é nossa intenç...

Um dia depois do Dia D, um pouco mais sobre Carlos Drummond de Andrade

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Por Pedro Fernandes Carlos Drummond de Andrade em Ouro Preto. Em 2008, quando eu concluí o curso “A constituição do moderno texto poético”, feito com o Prof. Dr. Derivaldo Santos, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, escrevi um pequeno texto cujo o título era “A marca regionalista como constituinte do moderno texto poético: um estudo do poema ‘Episódio’, de Carlos Drummond de Andrade”.  Neste texto que agora compartilho por aqui, discuto como alguns elementos do interior de Minas Gerais, terra do poeta, aparecem refigurados no interior de muitos de seus poemas; no caso em análise, a ênfase, claro está, recai sobre “Episódio”, poema incluído em  A rosa do povo , um dos livros de Carlos Drummond de Andrade que aparece na minha lista dos mais queridos. Este texto, com sua simplicidade e suas faltas, chegou a ser apresentado durante o 1.º Colóquio Nacional de Linguagem e Discurso (CONLID), realizado em 2008, em Mossoró. E foi publicado neste mesmo ano nas atas do ref...

Drummond, o lutador

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Carlos Drummond de Andrade. Foto: Marcel Gatheurot, de 1959. Fonte: Blog A biblioteca de Raquel Para quem sempre disse que o trabalho com a poesia é tarefa árdua. Trabalho sério. E aquele que reenvintou a poesia brasileira, no Dia D, dia do poeta de Itabira não há versos mais justos e adequados do que O lutador , publicado originalmente no livro José (1942). Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça. Insisto, solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comércio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpass...

Heinrich Böll: o escritor, o homem

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Por Fernando Aramburu Um escritor, sim. Um contador de histórias, também. Heinrich Böll concordou com essas definições; mas acontece que seus contemporâneos insistiram em lhe atribuir características que ele rejeitava repetidamente. Ele não gostava de ser qualificado como escritor cristão, por mais que durante toda sua vida professasse constantemente sua fé com convicção. Maior irritação lhe causava ser chamado de moralista. Foi, sim, um homem de seu tempo, atento às questões sociais. Um homem que muitas vezes levantou a voz, participou de movimentos de protesto e apresentou suas opiniões políticas em inúmeras entrevistas, artigos, conferências. Um entrevistador certa vez perguntou a ele como se explicava que, para um grande número de cidadãos alemães, ele representava algo como a consciência moral da Alemanha. Ao que respondeu sem hesitar: “Porque pouquíssima consciência”. Böll percebia que tais atribuições à política e à moral simplificavam seu trabalho, se não o a...

Miacontear - Uma questão de honra

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Quintério Luca e Esmerardo Fabião são dois velhos amigos de vida, de bar e de jogo. “Existiam juntos, como o pescoço e a dobra do lençol.” Na grande parte das vezes, e ainda mais com o avançar da idade, as partidas de dama se estendiam por semanas e numa delas Quintério se dá conta que o jogo havia sido mexido. Alguém tinha feito isso e sendo o jogo um elo construído secretamente entre os dois, o primeiro suspeito que vem à mente de Luca é de que Esmerardo foi o feitor da desonra. Desonra que será o elemento mais que suficiente para abalar o rumo da amizade entre os dois. Não convencido da negação de Esmerardo, ele e Quintério vão à consulta do juiz da cidade. Num diálogo deslocado em que paira um jogo de expressões alheias aos dois velhos, a dúvida, ao invés de resolvida, permanece, o que faz Quintério voltar ao juiz. Na certeza de matar o amigo pelo golpe de honra o juiz nega-lhe proteção o que faz Quintério avançar para, antes de matar Esmerardo, matá-lo. Num reflexo, o seg...

De lançamentos

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Esse da foto é o poeta, ensaísta, professor e crítico literário Márcio de Lima Dantas, autor de Xerófilo , o inédito de poemas publicado em conjunto com a última edição do caderno-revista 7faces. O autor autografa seu novo título – Imaginário e poesia em Orides Fontela .  O livro, que é fruto de sua tese de doutoramento, foi lançado no dia 21 de outubro passado no estande da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN), no Pavilhão da I Feira do Livro e Quadrinhos (FLIQ). A editora é a responsável pela primeira edição. * Quem apresenta mais um título é também o poeta e escritor David de Medeiros Leite. Cartas de Salamanca sai pela Sarau das Letras e terá duas sessões de lançamento: uma em Natal e outra em Mossoró. A primeira será feita na Academia Norte-rio-grandense de Letras (Rua Mipibu, 443, Petrópolis), no dia 4 de novembro de 2011, a partir das 18h; a segunda será feita no Auditório Francisco Ferreira Souto Filho, no SESI (Rua Benjamim ...