Postagens

A festa do bode, de Mario Vargas Llosa

Imagem
Por Rafael Kafka  A festa do bode é o terceiro livro de Mario Vargas Llosa que leio e o primeiro sobre o qual me decido a escrever. Já lera dele Conversa na catedral e A casa verde e mesmo tendo sido profundamente tocado pelos dois grandes romances, em especial o primeiro, não tive coragem de escrever sobre ambos. O motivo era simples: a grandiosidade do gênio literário que Llosa se mostrou me assombrou. Os enredos das duas obras acima citadas utilizam-se de um processo de construção muito complicado e cheio de artimanhas para prender o leitor. Tendo como mote uma conversa em um bar e uma antiga casa de prostituição, o Prêmio Nobel de 2010 constrói uma série de histórias que se entrelaçam, se cruzam e se remexem numa espécie de quebra-cabeça vivo. São dois ou três focos narrativos contados simultaneamente em tempos diferentes, com recuos e avanços constantes no tempo transformando a ação em algo vertiginoso e multifacetado. Como se não bastasse isso, os temas es...

Praia do futuro, de Karim Aïnouz

Imagem
Por Pedro Fernandes Há muito que já não faz mais sentido a expressão: o cinema brasileiro não presta. Talvez o que nos falte é justamente descobrir as boas investidas no gênero, afinal, os grandes conglomerados cinematográficos estão muito presos ao tipo comercial, aquele que tem cobertura pela grande mídia e que às vezes a única aposta feita é a de tentar arrancar à força um riso do espectador com a falsa ideia de ser uma peça de humor. Aquilo que circula no grande circuito é, de fato, muito ruim, com raras exceções.   Aïnouz é nascido em Fortaleza e tem no currículo produções fabulosas como Madame Satã (2002), O céu de Suely (2006) e agora Praia do futuro (2014), uma narrativa que se desenvolve entre Brasil e Alemanha. Nos dois últimos títulos, o cineasta aposta na história simples, sem efeitos mirabolantes; aposta na força da forma de contar e do registro fotográfico. E consegue. Logo, alcança a essência da arte cinematográfica. O filme que teve est...

Os quadros escritos de Alessandro Baricco

Imagem
Por Alfredo Monte 1 O personagem-título de Mr. Gwyn (2011), de Alessandro Baricco, desaparece a certa altura do relato— mais precisamente no capítulo 57 (num total de 68). Logo no início, ele anunciara sua decisão de não mais escrever ou publicar livros. A seguir, não podendo desembaraçar-se de uma vida dedicada às palavras, inventara uma prática inusitada: observando uma pessoa, como um “quadro vivo”, num cenário totalmente controlado, comprometia-se a entregar a ela (e tão somente a ela, sem publicidade) o resultado verbal dessa contemplação («Era como fazer-lhes uma mesa, ou lavar-lhes o carro. Um ofício. Escreveria o que eram, só isso»). Por exemplo, com Rebecca, seu “modelo” primordial: «...qualquer coisa que tivesse imaginado e notado dela, antes de entrar naquele estúdio, se dissolvera completamente, ou não existira nunca. Assim como não lhe parecia que o tempo passasse, lá dentro, mas sim que se desenrolasse um só instante, sempre idêntico a si mesmo» 1 . ...

A biblioteca pessoal de Jorge Luis Borges

Imagem
Há quem se orgulhe dos livros que escreveu, eu me orgulho dos que li. A frase não com essas palavras, mas com esse sentido, é de Jorge Luis Borges. Sabedores que somos de que por trás de todo grande escritor vive um grande leitor, é impossível ser uma coisa sem ser a outra, sabemos também que o escritor argentino protagonizou muitos momentos de sua vida em que se demonstrou na figura que o antecede e na dedicação dada ao livro. Não é raro encontrarmos na web a expressão desse seu amor pelos livros. Penso que no paraíso como uma grande biblioteca. Terá dito, claro, não com essas palavras, mas com esse sentido noutra ocasião. E, partir de um texto de “Os livros que me fizeram escritor”, de J. M. Coetzee, que traduzimos uma vez para este blog , soubemos que Borges trabalhou na produção de algumas listas de leituras muito generosas, diga-se. Porque numa delas, a “Biblioteca de Babel”, criada em 1970 para um editor italiano, conta com 33 volumes de literatura fantástica. “Babel”...

A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho, de Mário de Carvalho

Imagem
Por Pedro Belo Clara Caso alguma mão, obedecendo aos intentos duma mente curiosa ou simplesmente dada à elaboração de esquemas, decidisse concretizar uma lista que visasse os, digamos, cinquenta livros mais populares do século XX português (e com isto pretendemos referir as obras assinadas por autores lusitanos), não seria grande escândalo encontrar, dentre todas, a epígrafe do trabalho que agora apresentaremos. É certo que Um Deus passeando pela brisa da tarde destacar-se-á como a obra de proa da carreira deste autor em particular, não só pelos prémios que amealhou (em especial o Pégaso, distinção de nível internacional) como pelas diversas traduções de que foi alvo – não obstante, claro, as reedições (óbvias) que se verificaram. Por tudo isso, dir-se-á que tal trabalho, de 1994, contribuiu para a expansão definitiva da obra do autor, já que sobre o enorme talento de Mário de Carvalho ninguém possuiria grandes dúvidas. Pelo menos, no panorama nacional. A obra de ...

Boletim Letras 360º #115

Imagem
Terão descoberto quem foi Mr. Darcy, de Orgulho e preconceito  (Jane Austen) na vida real? Mais detalhes ao longo deste boletim.  Encerramos o mês de abril com muitos leitores recebendo livros do Letras. Ontem mesmo, realizamos o sorteio de mais um Kit: para marcar a abertura das celebrações pelos 20 anos da publicação de Ensaio sobre a cegueira , o célebre romance de José Saramago presenteamos um leitor com uma edição do romance e o filme de Fernando Meirelles. Todos sabem, Ensaio sobre a cegueira foi adaptado para a sétima arte pelas mãos do brasileiro. Até o dia 05 de maio, os leitores e fãs de Agatha Christie podem concorrer a um exemplar de “E não sobrou nenhum”, edição da Globo Livros. 2015 é o ano do 125º aniversário da Rainha do Crime. Para participar basta ir à nossa página no Facebook e responder qual a obra da escritora é sua preferida (simples, não?). E, logo, depois dessa promoção iremos colocar em prática a união que já havíamos anunciado por aqui com a...