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A ilha da infância, de Karl Ove Knausgård

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Por Pedro Fernandes A infância vista pelos olhos de um adulto. Talvez com esta frase o leitor consiga resumir as mais de quatro centenas de páginas do terceiro volume de Minha luta , título que, aos poucos revela a razão de enfeixar esse grupo de livros: trata-se de uma luta constante do autor com suas memórias, e, por mais limpas que elas pareçam aos nossos olhos não deixam de terem sido forjadas por uma potente força imaginativa. É evidente que essa nuance da criação a partir da matéria memorialística já se revelara para o leitor desde os primeiros títulos, A morte do pai e Um outro amor . Mas, nestes dois volumes estávamos ante um narrador envolvido com acontecimentos muito recentes ou de períodos da vida sobre os quais todos carregamos conosco mais ou menos nitidamente situações e impressões. Neste A ilha da infância , não. E, Knausgård é muito sincero, ou se utiliza dessa premissa, assim como do forte detalhismo, para nos colocar diante da verdade do narrado, sem...

Steinbeck e a rua das ilusões perdidas

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Por Maria Vaz   Confesso que me encontro deslumbrada pela miscigenação cultural e pela divulgação de ‘cultura’ em pequenos nadas escondidos no quotidiano de uma cidade que não dorme: São Paulo estranha-se mas não tarda a entranhar-se pela diversidade, pela novidade eterna, pela oferta e pelas surpresas culturais, acessíveis a todos que por aqui passam.  Foi assim – num misto de surpresa com felicidade literária –, que sorri, por exemplo, enquanto comprava um livro novinho, por dois reais, na Estação de metrô da Sé; foi assim que me perdi na variedade de livros de histórias que fizeram parte de outras histórias, desta vez, reais; foi assim que fui introduzida no mundo fascinante dos “sebos” desta cidade. Destarte, perdida num dos muitos sebos daquela cidade, polvilhados por poeiras de outros tempos, cruzei-me com Steinbeck, enquanto fui deambulando mentalmente pela sua “rua das ilusões perdidas”. A verdade é que nunca antes lera Steinbeck: como pode ...

Enigmas sobre a morte de Federico García Lorca

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Há mortes que transcendem tanto como a vida. É o caso do assassinato de Federico García Lorca; o poeta foi fuzilado em 1936 pela Ditadura de Franco. E ainda que fosse encontrado seus restos mortais a data nunca deve ser esquecida pelo simples fato de servir de prova sobre da brutalidade dos regimes ditatoriais e sobre a falta de limites do poder. As livrarias espanholas receberam mais uma edição sobre o tema. Agora, Marta Osorio publica O enigma de uma morte. Crônica comentada da correspondência entre Agustín Penón y Emilia Llanos (em tradução livre para El enigma de una muerte. Crónica comentada de la correspondencia entre Agustín Penón y Emilia Llanos , editora Comares); o título é mais um adendo sobre outra edição da autora Medo, esquecimento e fantasia: crônica da investigação de Augustín Penón sobre Federico García Lorca ( Miedo, olvido y fantasía: crónica de la investigación de Agustín Penón sobre Federico García Lorca ), dois textos indispensáveis no extenso inventári...

Teus pés toco na sombra, de Pablo Neruda

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Pablo Neruda sai da tumba Por Manuel Vilas A publicação do livro Teus pés toco na sombra e outros poemas inéditos , de Pablo Neruda, levam-me a reflexões que espero sejam do século XXI e não do século XX. A primeira que ninguém atenta é que Neruda é uma marca. O segundo é que uma marca não pode deixar de produzir pelo fato de que o fundador da empresa está morto. O terceiro é que a ideia de “obra inédita não publicada em vida do autor” tem que ser reformulada. Na verdade, Pablo Neruda, assim como Cervantes, Shakespeare ou Dante, é inédito e seguirá sendo inédito para a maioria das pessoas. Poderia reeditar-se Residência na terra sob as mesmas premissas: aparece um livro inédito de Pablo Neruda intitulado Residência na terra , magnífico título, e para noventa por cento dos quinhentos milhões de falantes do espanhol seria uma notícia aceitável. A doença do livro inédito pertence aos fetichismos da alta cultura, mas são irrelevantes para o leitor popular. O que não é...

Um romance sobre o romance de Fernando Pessoa com Ofélia Queiroz e outros títulos que têm o escritor português como personagem

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Esperou que todos do escritório fossem embora; esperou que ela colocasse o casaco e, perturbado, se dirigiu à porta. Ali, sobre o batente, Pessoa se acomodou e a beijou ardentemente, como nunca havia beijado uma mulher. Como nunca beijou outra mulher. Aquela noite de 24 de janeiro de 1920 ficou gravada na memória de Ofélia, mas não tanto na de Fernando. Ela tinha 19, ele 32: “Fiquei doido, fiquei tonto... / Meus beijos foram sem conto, / Apertei-a contra mim, / Aconcheguei-a em meus braços, / Embriaguei-me de abraços... / Fiquei tonto e foi assim...”, escreveu o poeta. Paixão, inquietação e desassossego, muito desassossego, são os ingredientes com os quais Luis Morales escreve Um amor como este , romance que recria   um dos grandes casos de amor mal resolvido do mundo literário no século XX do mundo literário: o de Fernando Pessoa com Ofélia Queiroz, a única mulher na vida do atormentado gênio português. Não há nada de novo no material que serviu de base a Mo...

Boletim Letras 360º #130

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Cora Coralina na juventude. Filme conta a história da poeta descoberta por Carlos Drummond de Andrade. Mais detalhes ao longo desta post. Quem teve o privilégio de acompanhar o trânsito diário de postagens em nossa página no Facebook terá notado que esta semana, apesar de não-atípica esteve recheada de excelentes notícias; quem não, pode ler que excelentes notícias foram essas agora. Só gostaríamos de registrar, já que estamos falando de nossas publicações fora do blog, que esta rede ultrapassou o número de 19 mil amigos. Apesar da baixa interação entre os do grupo, alcançar essa quantidade de pessoas nos faz crer em duas coisas: um, a literatura não está de um todo morta; dois, nosso trabalho enquanto blog tem impacto significativo na vida desses leitores. Seria que até o final do ano alcançaríamos dobrar esse público? E as demais redes sociais? Se está passando por aqui e ainda não nos acompanha, não hesite em fazer parte desse país de letras. Há por toda parte possibilidades ...