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Estes cães de Saramago: notas

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1.   Uivemos, disse o cão . Com essa citação José Saramago abre seu romance Ensaio sobre a lucidez . Quando estive lendo o romance A caverna , do mesmo escritor, marquei a presença constante que o cão faz nos textos do escritor português. Cavouquei a internet a título de encontrar alguma coisa sobre e dei de cara com um artigo; dado os dias que vi não me recordo agora o nome do texto, tampouco de seu autor e também já não consegui encontrá-lo mais. 2.  Em entrevistas várias o escritor tem falado da simpatia que nutre pelos bichos. Além, é claro, de ter registros deles por toda parte de sua literatura. E a simpatia é tamanha que não se reduz aos livros, o próprio Saramago é carne e unha com alguns deles em sua casa em Lanzarote e, não só isso, já mereceu até postagem sobre eles em seu blogue, O caderno de Saramago, cujo texto copio abaixo. 3.  Pois bem, mas tomemos notas destes cães, digamos assim, literários, do escritor. O primeiro que me recordo esteve a acompa...

Saramago negro

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Por Pedro Fernandes 1.  Na terça-feira, 26 de maio de 2009, estive por ocasião do I Colóquio de Culturas Africanas, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, numa mesa de sessões de comunicação intitulada Navio Negreiros e coordenada pela professora Dra. Ilza Matias. Fiz uma fala em torno de uma questão, até então, creio ser inédita no campo da crítica em derredor da obra literária do escritor português José Saramago, que foi tratar a questão do negro e da África na prosa do autor. 2.  A comunicação intitulada "Do negro e das africanidades em José Saramago, o silêncio de uma prosa de inquietação" (deve ser publicada em e-book) veio por lenha na fogueira num evento cujo fulcro estava centrado nas re-afirmações de uma identidade secularmente segregada que é a do negro. Prova disso é que a maioria das sessões de comunicação que se voltava a uma literatura que trate das questões estava ela fixada em torno da obra do escritor moçambicano Mia Couto - que não...

Diário pedagógico: a estrutura

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Por Pedro Fernandes A Escola Municipal foi fundada em 1985. Registra-se que a última reforma foi feita em 1996. Das impressões do primeiro dia de aula a que mais marcou depois daquela da aluna de rosto inerte registrada no texto anterior foi certamente a estrutura da escola.  Quando escrevi no artigo "Um genocídio outro, um genocídio" (O estado da máquina de manter os índices péssimos da educação pública) disse que existiam escolas que funcionavam como verdadeiras máquinas de matar gente. Exagerei na imagem quando inteirei que esses espaços funcionam como campos de concentração. Mas, a escola pública brasileira tem atuado gradualmente em duas frentes: a da deformação dos seus estudantes e o assoreamento da carreira dos seus professores. A imagem utilizada é péssima e fora de tom, agora o que ela significa encontra matéria no que professores e estudantes presencial. E digo porque sei de estruturas ainda piores do que a escola onde trabalhei. Essas péssimas estruturas das q...

Algumas reflexões acerca dos momentos permanentes trágicos da sociedade brasileira: a redução da maioridade penal

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Por Pedro Fernandes Lee Ufan O alarido provocado pelo sensacionalismo midiático em torno da morte do garoto João Hélio foi tamanho que, logo em seguida, a sociedade brasileira acordou com outra discussão: a redução da maioridade penal. Não sei o porquê. Não haveria nenhum momento para essa discussão pós o fato João Hélio porque ao que me consta não havia nenhum menor no volante do carro envolvido na tragédia, apenas um jovem de dezessete anos no banco traseiro. O fato é que a carência por assuntos do tipo "sensacionalista", e esse pode se tornar se não discuti-lo com cautela, fez com que a mídia focalizasse no lado mais fraco dos envolvidos no assassinato, o menor. Falar em redução da maioridade penal no Brasil é algo que foge completamente da racionalidade nossa. O sistema penal brasileiro é bom; parece-me, pelo pouco conhecimento que tenho acerca, avançado em várias questões. O foco que deveríamos estar preocupados agora em discutir abertamente não seria redu...

Pedro Bandeira, do contato que tive

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Por Pedro Fernandes 1.  No ano de 2007, paralelo a Bienal do Livro em Fortaleza, houve em Aracati - cidade do interior do Ceará conhecida pelo rico patrimônio histórico, cultural e literário e pelas belezas naturais da Praia de Canoa Quebrada - uma edição do que na época se chamou de Festa do Livro de Aracati. No ano subsequente, ao que me parece, o encontro não foi mais realizado. Uma pena. 2. Foi na ocasião de 2007 que fiz minha primeira viagem a esta cidade e também meu contato fora do Rio Grande do Norte com esse tipo de evento. Até então só participara da Feira do Livro de Mossoró. Tive ainda o privilégio de me hospedar na casa da mãe do professor e poeta Leontino Filho, onde fui muito bem recebido e tive, posso dizer, dias de excelentes. 3.  Do evento, destaco a palestra do escritor de livros juvenis Pedro Bandeira. Num país que faz tão pouco pela leitura é uma febre nacional entre os adolescentes por uma obra capaz de unir narrativas com as quais est...

O privado, o público e o trabalhador

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Por Pedro Fernandes Angeli Todos os textos ou pelo menos a maioria deles certamente têm algum motivo pelo qual são escritos. Evidente que, dificilmente, o autor apresenta tal e tal motivo ao seu leitor. Acho que isso é mais frequente nos textos acadêmicos, pelo fato de pedirem uma justificativa para a idéia apresentada. Tudo isso é para introduzir a exposição a que se presta este texto. Para tanto, começarei expondo o motivo que me leva a produzi-lo. Outro dia conversava com um amigo acerca de concurso público para prefeituras do interior do Estado, quando ele me sai com uma afirmativa de que jamais faria concurso para qualquer cidade que não pertencesse à zona metropolitana. E eu insisti que, hoje, pela estabilidade, as pessoas estão fazendo de tudo, inclusive se deslocar de seus lugares preferidos para lugares ermos. Depois disso, ele me rebate que isso era sensacionalismo. E emendou que o melhor é trabalhar no setor privado porque lá estão as melhores oportunidades de cres...