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Das misérias humanas

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Por Pedro Fernandes Jan Havickszoon Steen Quero relatar dois episódios que não sei onde os colocaria na estante dos acontecimentos que frequentemente nos assaltam. Mas, creio que ficaria bem no setor daqueles casos em que por baixo se escreve Das misérias humanas .  Também não consigo agora descrever misto de sentimentos que me invadiu no momento das duas ocorrências - se pena, se tristeza, se impotência... se...  O primeiro fato se deu numa saída de um sebo, certo dia - dia daqueles escolhidos para peregrinação em sebos. Pedi a uma vendedora de rua, um copo de água, que ainda, apesar dos altos e baixos da economia, se é vendido a cinquenta centavos. Revirei minha mochila e catei os centavos que tinha. Quarenta e cinco no total.  Não tomei cara emprestada e joguei com a vendedora, pensando na facilidade da venda: - Aceita os quarenta e cinco centavos ou quer tirar de dez? Ela devolveu-me as moedas: - É melhor tirar de dez. É... E dizem por aí os economistas que o dinhei...

Caim, o novo romance de José Saramago

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De acordo com uma carta escrita por Pilar del Río e publicada no Blog da Fundação José Saramago, é oficial para outubro o novo livro do escritor português. A notícia enche todos os seus leitores de grande expectativa; tudo porque um escritor como José Saramago era ideal que nunca nos deixasse, nunca se calasse. Há sempre reflexões muito lúcidas, inquietantes e necessárias ao nosso tempo. Depois de publicado A Viagem do Elefante , entre as longas travessias de uma doença, temíamos que não existisse mais outra obra. Mas não. Estamos todos os leitores da sua obra muito felizes. O título do romance é Caim  e a figura bíblica é a protagonista principal. Certamente esse será um livro distante do fôlego de O Evangelho segundo Jesus Cristo  porque as condições físicas do escritor de 87 anos já não são as mesmas de 1991. Mas trará, certamente, um impacto parecido com o do outro romance. Já sabemos das posições certeiras de José Saramago quando o assunto é a religião e e...

A Última Sessão de Cinema, de Peter Bogdanovich

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Cybill Shepard. A Última Sessão de Cinema foi o primeiro filme para a atriz. A vida nos Estados Unidos durante os dourados anos 1950 vista na perspectiva ordinária de uma cidade do interior do Texas O fim de um época e a decadência de seus ícones refletidos no cotidiano de uma pequena cidade do interior do Texas. A partir dessa idéia simples, o diretor Peter Bogdanovich fez um filme que homenageia, sem nostalgia e com muita personalidade, o início do fim do modelo clássico hollywoodiano que alcançou seu ápice anos de 1950. A Última Sessão de Cinema   se passa em 1951 e acompanha dois adolescentes que vivem o fim da juventude. Sonny Crowford (Timothy Bottoms) e seu melhor amigo, Duane Jackson (Jeff Bridges), jogam no time de futebol americano do colégio. A cidade tem na piscina pública, na lanchonete e na ida ao cinema seus únicos lugares de quebra da rotina. Os últimos dias do colégio e a solidão dos personagens tingem de melancolia o filme e tudo parece estar em dec...

Imortal Werther, imortal Goethe

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Por Genoveva Dieterich A morte de Werther. F. C. Baude O autor de Fausto , Wilhelm Meister , As afinidades eletivas , o prudente ministro e conselheiro de príncipes em Wiemar, foi um artista adolescente , demolidor de ortodoxias e academicismos, criador de uma nova linguagem poética e precursor do romantismo revolucionário. Ante a estátua colossal e marmórea monopolizada pela academia e o panteão, é necessário, pois, recordar o imortal autor do imortal jovem Werther . Como nenhuma outra das obras-chaves da época criativa do jovem Goethe, assinalada entre os anos 1771 e 1775, e transbordante de material poético incandescente, o Werther representa essa impressionante tensão de entusiasmo e sensibilidade, inteligência e impetuosidade que caracteriza a juventude do escritor e que só pode definir-se como genialidade. Quando no outono de 1774 foi publicado em Frankfurt o primeiro romance do jovem advogado com o título de Die Leiden jungen Werther , ou Os sofrimentos do jovem Wer...

Jorge Luis Borges

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Por Pedro Fernandes Fui apresentado à obra de Jorge Luis Borges por duas portas: a dos contos e a dos poemas, nesta ordem. Mas, sou leigo, muito leigo para falar de cada uma delas e da obra em geral do escritor argentino. Só sei dizer que é uma obra magistral, cerebral. Ler qualquer obra de Borges pressupõe entrar em contato com uma variedade grandiosa de referências.  Dá para qualquer leitor leigo notar lida algumas linhas de sua vasta obra que a escrita desse argentino cobra caras bússolas como guia no extenso labirinto bordado por ele. A crítica mais especializada já terá dito o suficiente em considerar sua obra como um dos maiores acontecimentos na literatura contemporânea. E com razão. O alerta que deve ser feito, entretanto, é que sua obra é de uma maturidade tal que cobra um leitor iniciado e com uma fome de leitura que esteja próxima a do escritor que, segundo se conta, sempre se considerou mais leitor que escritor. Hoje, é data que marca seu aniversário; o escr...

Fogo Morto, um romance de decadências

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Por Pedro Fernandes Confesso que estive certo tempo afastado da literatura brasileira, que, tanto li desde meados de minha adolescência e na faculdade. Mas, se a memória não me trai agora, o último que eu li foi  Capitães da Areia , de Jorge Amado, sobre o qual redigi um artigo, que por sinal (faz bem tocar no assunto) ainda não achei conveniente torná-lo público. Foi quando me debandei para a literatura portuguesa, mais especificamente (os que me conhecem, sabem) por causa de José Saramago - nele tenho concentrado minhas energias  seja na leitura da obra completa desse escritor, seja na de outros referidos por ele. Aliás, devo a Saramago minha redescoberta de Jorge Amado, porque quando li alguns dos seus romances, inclusive Capitães , fui inconsequente de me guiar pelo sectarismo da crítica literária que os professores nos dão em altas doses na faculdade. Com uma disciplina no mestrado, tive de voltar a algumas lacunas de leitura da nossa literatura e foi quando li Fogo Mor...