Jorge Luis Borges

Por Pedro Fernandes



Fui apresentado à obra de Jorge Luis Borges por duas portas: a dos contos e a dos poemas, nesta ordem. Mas, sou leigo, muito leigo para falar de cada uma delas e da obra em geral do escritor argentino. Só sei dizer que é uma obra magistral, cerebral. Ler qualquer obra de Borges pressupõe entrar em contato com uma variedade grandiosa de referências. 

Dá para qualquer leitor leigo notar lida algumas linhas de sua vasta obra que a escrita desse argentino cobra caras bússolas como guia no extenso labirinto bordado por ele. A crítica mais especializada já terá dito o suficiente em considerar sua obra como um dos maiores acontecimentos na literatura contemporânea. E com razão. O alerta que deve ser feito, entretanto, é que sua obra é de uma maturidade tal que cobra um leitor iniciado e com uma fome de leitura que esteja próxima a do escritor que, segundo se conta, sempre se considerou mais leitor que escritor.

Hoje, é data que marca seu aniversário; o escritor é de 24 de agosto de 1899, nascido em Buenos Aires. Foi precoce com a escolha da profissão. Talvez. Porque, segundo contam, teria, ainda aos sete anos, dito ao pai que seria escritor. Talvez a confissão tenha sido uma resposta de brincadeira à pergunta que sempre nos fazem quando somos criança. E diante de tantos talvez, talvez não. Talvez nada disso tenha acontecido. 

O que se sabe é que ainda aos nove anos Borges escreveu suas primeiras histórias inspiradas num episódio do Dom Quixote, de Cervantes e na Mitologia Grega. E apenas mais um talvez. Ele não terá sido nenhum gênio; as circunstâncias o levaram a ser o que foi. Filho de pais letradas, muito bem letrados, e donos de uma magistral biblioteca, o ambiente e as condições terão influenciado diretamente sobre a formação do escritor que concluiu os estudos em Genebra, Suíça, para onde se muda com os pais em 1914. 

É no retorno para Buenos Aires, sete anos depois, que começa a publicar seus textos em revistas e o primeiro livro, Fervor de Buenos Aires. Tem início aqui o extenso labirinto construído ao sabor do gosto pelo texto enciclopédico. Primou pelo fantástico como modo de fazer literário. Aqui, quem irá lembrar dos animais imaginários de Manual de Zoologia Fantástica? E foi, dentro e fora da obra, sujeito ativo no terreno das questões políticas de seu país.

Da amizade com Adolfo Bioy Casares nasceu a revista Destiempo, periódico de curta duração, mas os dois continuaram escrevendo a duas mãos, tanto que em 1942 publicaram Seis problemas para Don Isidro Parodi, quatro anos depois, Duas fantasias memoráveis e em 1967 Crônicas de Bustos Domecq, pseudônimo com que assinaram esses trabalhos. 

Antes de Bioy Casares, foi outra grande amizade literária, com Macedonio Fernández, o autor da obra seminal Museu do romance da Eterna, que deu origem em 1921 a revista Prisma e um ano depois, a revista Proa que teve ainda 18 números publicados.




No final da década de 1930 sofreu um acidente que provocou uma septicemia quase fatal. O acidente e os sintomas da doença que herdara do pai o levariam a uma cegueira que só pioraria com o avançar dos anos, impondo-lhe outras maneiras de entrar em contato com a literatura e com a escrita: a da oralidade. Durante esse estágio passou a ditar suas obras e ajudado por amigos publicou ainda vários livros.

Da safra poética, começada em 1923, publicou títulos excepcionais, tais como Caderno San Martín (1929), O outro, o mesmo (1969) e Os conjurados (1985). Na prosa, deixou-nos no conto, forma narrativa que se tornou exímio criador, Ficções (1944), O Aleph (1949), seus principais livros, e O informe Brodie (1970) e O livro de areia (1975). 

Escreveu ainda numerosa obra ensaística. Desta, destacam-se Inquisições (1925), História da eternidade (1936) e Livro de sonhos (1976). 

No início da década de 1980, passa a conviver com María Kodama, que assume, ao lado do escritor a conduta de pilar de sua obra atuando diretamente nos serviços de secretaria. O casamento aconteceria anos mais tarde no Paraguai e por procuração, uma vez que Borges era divorciado e as leis da Argentina não permitiam um novo casamento.

O escritor morreu no dia 14 de junho de 1986, vítima de um câncer no fígado. Kodama tornou-se a herdeira e uma das principais defensoras dos direitos da obra de Borges quase duplicando a extensão dos livros até então publicados com materiais póstumos.

Ligações a esta post:
>>> Leia aqui fac-símile de um texto de Jorge Luis Borges, El Fausto Criollo, publicado pela primeira vez na edição 11 da revista Proa

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