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Boletim Letras 360º #474

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DO EDITOR   1. Caro leitor, eis a edição 471 do Boletim Letras 360.º com as notícias copiadas durante a semana em nossa página no Facebook e outras exclusivas neste canal.   2. Aproveito a ocasião para lembrar sobre o próximo sorteio entre os apoiadores do blog — está previsto para o próximo sábado, 26. São três livros oferecidos pela Editora Bandeirola. Você pode conhecer mais sobre o catálogo da casa por aqui . E, sobre como participar do sorteio ou de outras formas de ajudar o nosso projeto aqui . Cabe não esquecer que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e também ajuda a manter o Letras .     3. Em nome do Letras , obrigado pelo convívio e pelo apoio!  Louise Glück. Foto: DR.   LANÇAMENTOS   O primeiro livro de Louise Glück após ter sido laureada com o prêmio Nobel de literatura de 2020 ganha tradução e edição no Brasil . Nesta coletânea enxuta, de apenas quinze poemas, estão os temas que c...

Em torno das “Não-coisas”, de Byung-Chul Han

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Por Maria Vaz Ilustração: Peter Oumanski   O prólogo inicia-se com menção a Yoko Ogawa e ao seu romance A polícia da memória . Esta alusão não provém do acaso, mas de uma analogia que o autor sul coreano faz com o nosso presente, que descreve como uma época em que as coisas desaparecem incessantemente.   Não recorremos a ficções literárias, como aquela que em Harry Potter se encontra num manto de invisibilidade. Falamos da realidade científica e das inovações tecnológicas que nos dão vida digital. Falamos do imediatismo, da nanotecnologia, dos estímulos constantes do incorpóreo e do imaterial.   Vivemos a era da informação rápida, não monótona, alimentada pelo estímulo da surpresa e “tornamo-nos cegos perante coisas silenciosas, digamos coisas habituais, sem importância ou costumeiras, desprovidas de estímulos, mas que nos fixam ao ser.”   Byung-Chul Han recorre a Hannah Arendt para definir as “coisas do mundo” capazes de “estabilizar a vida humana”, coisas essas q...

Mães paralelas, de Pedro Almodóvar

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Por Solange Peirão Sobre duas mulheres à espera do parto, em uma maternidade qualquer de Madri. Em duas camas dispostas paralelamente, num quarto comum de hospital. Ali, começam a compartilhar suas vidas, suas histórias. Janis, a mais velha, feliz com o fruto bem-vindo de um amor fortuito, e Ana, a jovem angustiada, com a criança indesejada, gerada em violência. As duas aguardam a chegada das filhas Cecília e Ana.   E assim, somos introduzidos nesse filme recente de Pedro Almodóvar, no qual o feminino é a grande questão.   Pela linhagem familiar de Janis, seus ancestrais viveram a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Seu bisavô, e alguns companheiros do Pueblo onde habitavam, foi assassinado pelos falangistas nazifascistas, apoiadores de Francisco Franco. Enterrados em vala comum, a comunidade busca resgatá-los, para lhes dar uma sepultura digna. Janis lidera essa iniciativa que reúne sobretudo as mulheres, guardiãs da memória dos fatos.   Se as mulheres na família de Jani...

Jack Kerouac: encarnando a literatura universal

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Por José Homero But I ain’t going down That long and lonesome road All by myself.   — Floyd Jones, “On the Road Again” Jack Kerouac. Foto: Zuma Press. A literatura também é uma comédia de mal-entendidos. Autores que confeccionam uma obra com a noção de um leitor ideal, que passa a vida sem vislumbrar encarnações desse modelo; e autores que conquistam notoriedade entre um público tão estrangeiro que não entende nem percebe os valores de sua obra e, ao contrário, os perverte. Jack Kerouac é um exemplo trágico de ambos os casos. Primeiro sofreu o calvário editorial: seus manuscritos foram rejeitados ou sua publicação foi condicionada à submissão a esse tipo de terno e gravata burocrático que é a correção obrigatória que mina todo ímpeto original, toda insolência de estilo e pontuação e sintaxe uniformes. E quando, após quase uma década de frustração, uma editora aceitou suas condições, On the road só mereceu incompreensão e mal-entendidos. Primeiro, do estrato intelectual, que, ala...

Literatura através das águas: uma análise crítica da obra O som do rugido da onça

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Por Lucas Pinheiro Micheliny Verunschk. Foto: Renato Parada Desde suas características técnicas até sua incrível escolha estilística, Micheliny Verunschk, graduada em História pela AESA-PE, Mestre em Literatura e Crítica Literária e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, guia-nos entre a história de dois jovens indígenas brasileiros raptados por Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix no começo do século XIX.  São inúmeras as similaridades da obra de Micheliny em relação aos romances do século XX, especialmente sua relação próxima a Guimarães Rosa, já que há em ambos uma mistura de hábitos populares a uma narração erudita, fatores que oferecem ao leitor uma perspectiva de caráter antropológico justaposta ao que é fruto das escolhas cintilantes e nada superficiais que só existem enquanto mediadas pela imaginação febril e lírica dos escritores.  Todavia, ainda permeada de enormes singularidades, a obra traz uma trama por vezes bem interligada, de es...

Um chá bem forte e três xícaras, de Lygia Fagundes Telles

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Por André Cupone Gatti e Guilherme de Almeida Gesso Antes do baile verde é talvez o livro de contos mais conhecido e aplaudido de Lygia Fagundes Telles, e desde o seu surgimento em 1970 vem se firmando como um dos pontos altos da contística em língua portuguesa da segunda metade do século XX. Verdade seja dita, porém, há irregularidades, no livro, de um conto para outro, e apesar da escrita ser sempre limpa e bem urdida, nem sempre a narração, às vezes explícita demais, alcança a excelência literária; por outro lado, quando Lygia constrói tramas laterais, discretas e quase nulas, e impregna algumas poucas palavras aparentemente despretensiosas de significações decisivas, alcança-se a primazia no gênero. Exemplos de contos dessa espécie, e que são obras-primas não só do século XX, mas da literatura em língua portuguesa desde sempre: “O menino”, “Meia-noite em ponto em Xangai”, o machadiano “Antes do baile verde”, e o discretíssimo, enganador e de trama quase inexistente “Um chá bem fo...