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Guerra civil e uma lição de como sacudir consciências

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Por José Homero   Enquanto se dirigem para Washington D.C., os jornalistas que protagonizam Guerra civil se veem presos num tiroteio. Para se protegerem e também para fotografarem e coletarem informações, eles abandonam o carro atacado e se aproximam de uma dupla de equipados atiradores rente ao chão. O cenário é um campo decorado com motivos natalinos, cujo nome remete a um parque temático abandonado: Winter Wonderland [País das maravilhas de inverno]. Não é apenas a atmosfera surrealista — ou sombria, não esqueçamos que feiras e parques temáticos estão entre os locais preferidos dos filmes de terror — que confere uma qualidade memorável à cena. Quando Joe (Wagner Moura), repórter e motorista do veículo, pergunta aos atiradores a qual facção eles pertencem, eles não respondem e continuam engajados no combate contra um atirador protegido em uma mansão próxima. Devido sua insistência, zombam e dizem que já perceberam que ele é um idiota que não entende que estão lutando para sobrev...

A senhorita mascarada

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Por Gabriel Carra Cena de  Senhorita Júlia . Arquivo Companhia Bípede de Teatro Rupestre, 2024.   Hoje em dia não se trata mais, como fez certa vez Bertolt Brecht em “A função social do teatro”, de se indagar se o mundo atual pode ser reproduzido pelo teatro. Inúmeros são os expedientes técnicos disponíveis e o repertório de soluções, que inclui as próprias experiências brechtianas, é imenso, vasto. A pergunta que talvez realmente importe é como sustentar a verve crítica do teatro, isto é, o teatro como arte (pois é próprio de qualquer arte ser crítica do real), em uma época supercrítica , na qual a própria crítica social parece cansada e na iminência de desabar sobre o próprio peso.   Em termos mais próprios às técnicas teatrais, poderíamos precisá-la da seguinte forma: como o teatro pode sustentar essa verve assinalada sem depender inteiramente dos repertórios brechtianos, beckettianos ou de experimentações de exposição do signo teatral de inspiração pirandelliana, form...

Uma poética do simples: “Eu, desenganado”, de Eduardo Duarte

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Por Wesley Sousa Os poemas de Eu, desenganado de Eduardo Duarte, jovem poeta e musicista baiano, se interligam desde a unidade existencial de uma época até um aspecto cultural delimitado. Podemos dizer que o pequeno livro é estruturado em três linhas temáticas específicas, tal como está dividido: “Do ser”, “Do amor” e “Do lutar”. Cada parte contém dez poemas.   Os títulos das divisórias do livro, por sua vez, apontam para um fio condutor mais amplo: a existência em três âmbitos. O primeiro se refere àquilo que somos, ou melhor, ao que estamos a ser. No devir da vida, nas condições de existência nas quais as nossas condições de ser se efetivam. Em “Do amor”, a companhia e o arrebatamento de um sentimento se notam presentes, apontando como o eu-lírico fala de si ao exprimir amores perdidos ou não-realizados, como se apresenta no poema “Sufocado”.   Mas, no “plano existencial” em que as poesias se constroem, destacaria um poema que, de algum modo, esclarece a tônica do sentido ...

Boletim Letras 360º #586

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DO EDITOR   Olá, leitores! Começa no dia 16 de maio às 18h e segue até às 23h59 do dia 20 a Book Friday 2024. Nos dez anos da principal seção de descontos da Amazon, a plataforma promete livros com até 80% Off. Faremos a triagem de sempre nas nossas redes, mas você já pode salvar o nosso link para utilizar nas suas compras . Para aproveitar você pode começar assinando a Amazon Prime para garantir frete grátis e várias outras vantagens.   Até lá, reafirmamos o nosso apelo com ajudas para a população do Rio Grande do Sul. O envio de itens de uso imediato continua sendo prioridade. A Cruz Vermelha de São Paulo está com posto de arrecadação de mantimentos na Av. Moreira Guimarães, 699/ Indianópolis CEP 04074-031. Você pode ajudar adquirindo quaisquer materiais também via Amazon para envio no referido endereço. É uma forma de sua colaboração chegar segura e rápida a quem mais precisa. Repetimos o nosso link . Um bom final de semana a todos! Walter Kempowski. Foto: Brigitte Friedri...

Kafka e os castelos do cotidiano

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Por Guilherme França Keith Vaughan. Estudo para O castelo , de Franz Kafka , 1953.   Escrevo este pequeno ensaio que mais tem jeito de crônica — e menos de crítica literária — durante uma viagem a Campo Grande/ MS, para visita aos familiares de minha noiva. Lembrando que o prazo para entregar o texto estava próximo, coloquei na mochila o livro O castelo , um clássico de Franz Kafka, que já estava lendo há algum tempo, mas agora com o objetivo de concluí-lo e, assim, poder escrever a seu respeito. Mesmo sem saber o que exatamente escreveria, a vida me mostrou, uma vez mais, que a boa literatura não se encerra na abstração, ao contrário do que muitos pensam. Ela faz muito mais do que isso, pois descreve a própria realidade na qual estamos inseridos, contudo, sem olhos atentos para percebê-la.     Chegando no aeroporto de Curitiba para o embarque, ainda sem realizar o check-in de nosso voo, não conseguimos encontrar sequer um atendente no guichê da companhia aérea. Já...

Macabéa: flor de mulungu, de Conceição Evaristo

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Por Guilherme de Paula Domingos Em 2012 a editora Oficina Raquel reuniu doze escritores de diferentes origens e idades para compor um livro em homenagem a Clarice Lispector, um dos maiores nomes da literatura brasileira. Cada autor reescreveu, em um conto, um personagem da escritora. Entre os integrantes da coletânea estão, entre outros, os brasileiros Conceição Evaristo e Silviano Santiago, a portuguesa Maria Teresa Horta e a cabo-verdiana Vera Duarte. O livro, intitulado Extratextos 1: personagens de Clarice Lispector reescritos , se encontra esgotado. Contudo, usando de boa vontade e paciência, é possível adquirir um volume usado.   Nessa antologia, Conceição Evaristo contribuiu com o conto “Macabéa: flor de mulungu”. A editora resolveu publicá-lo numa edição independente em 2023. Como o nome já indica, a personagem escolhida pela escritora foi a protagonista de A hora da estrela . A partir do episódio de desfecho da narrativa, uma Macabéa deitada na calçada em posição fetal de...